Capítulo 25 (parte 2/2):

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- Como está se sentindo de volta? – Cate indagou ao meu lado, no refeitório da Jimks, nosso preparatório para a faculdade.

- É meio que normal. – Eu respondi, olhando-a de soslaio enquanto procurava um determinado rosto dentre as outras dezenas.

- Para de procurar. – Cate sussurrou ao meu lado, sem olhar na minha direção. – Ele trancou a matrícula na Jimks, por conta do emprego na empresa do pai.

Como sequer pude imaginar que ela nem sonharia quem eu estava procurando? É claro que ela sabia e, qualquer um que me flagrasse naquela situação, poderia apostar e levaria um bolão para casa. Mas eu tinha que manter meus pensamentos em outras coisas, em outros pontos de alegria... Como Gustavo. Não que eu o amasse de paixão, mas não tinha como não gostar dele a cada dia que passava. A cada momento juntos. E a cada mensagem compartilhada. Eu gostava da intimidade sem barreiras que tínhamos. Gostava dos seus beijos e de como ele sabia onde me tocar da maneira e no momento certo.

No final de toda a comida, Cate e eu caminhamos para extremidades diferentes. E me decepcionei ao me lembrar de que Henrique não estaria lá comigo. Sei que estava voltando aos pensamentos que insisti em não voltar, mas eu não podia culpar as coisas do coração. É como quando você se faz de muito linda para um cara que não está nem aí para você, enquanto um cara bem melhor te olha de canto, esperando a vez dele de alguma forma.

Eu caminhei até a aula e me sentei no lugar de sempre. Já fazia algumas semanas que eu tinha voltado então os olhares de todos não estavam me esmagando para dentro de mim mesma. Aquilo era assustador. Não estávamos mais no colegial para as pessoas continuarem com aquilo, cada um estava correndo atrás do futuro que queria, com pontuações boas para que seu futuro fosse promissor.

*

Meu corpo se arrepiou quando meus olhos o encontraram. Ele estava na saída no meio de toda aquela gente, mas eu sempre o reconheceria. Ele poderia estar completamente diferente do que realmente era naquele momento. Mas eu nunca esqueceria seus olhos ou seu jeito único de caminhar. O mundo ao meu redor perdeu a cor e ele era a única coisa colorida, enquanto tudo andava em câmera lenta.

A nossa história juntos passou por mim. As birras. Os beijos. As noites de amor. As fugas. As separações e principalmente as verdades não contadas. O Mundo se acendeu ao meu redor quando meu rosto bateu contra o peito de Gustavo e eu soube que ele estava com raiva naquele momento. Eu o estava enganando de alguma forma e me sentia injusta com ele.

Aquilo, de repente, me sufocou. Sufocou-me ao ponto de eu suspirar para não ser obrigada a cair em um choro. No que eu me tornei e como me incumbi a isso? Gustavo não me merecia. Ele merecia alguém que partilhasse da mesma felicidade e sentimento que ele.

Foi por isso que corri em direção ao estacionamento. E a cena pode ter ficado toda muita estranha para os outros. Mas a única pessoa que poderia me entender naquele momento era eu mesma. Só eu sabia o que se passava no meu coração e na minha mente. E com certeza eu não estava em sã consciência quando comecei com ele por ele me fazer esquecer os problemas. E esquecer Henrique. E a saudade que eu sentia dele.

Aquilo que fizemos no banheiro aprofundou nossa relação. Mas fora certo? Seria ainda mais errado deixa-lo de tal forma, certo? Apesar de tudo, eu não deveria ter começado tudo aquilo e aceitaria o fardo por toda a eternidade.

Antes que eu pudesse chegar longe, uma mão forte me agarrou pelo punho e me virou com força contra seu peito, eu me afastei com todas as forças e outro alguém o afastou, puxando-o pelos ombros.

- O que está fazendo com ela? – Levantei os olhos ao reconhecer a voz de Henrique.

Seus olhos estavam avermelhados, o que indicava preocupação e irritação, tudo misturado no momento errado.

- Nada. – Gustavo e eu respondemos em uníssono, com vozes distintas.

Rick olhou diretamente nos meus olhos e naquele instante eu soube que nada acabaria com o que construímos. Nem outros relacionamentos, nem outras pessoas. E ali, em pé e toda trêmula eu senti que era hora de contar. Não de contar meu único segredo guardado dele, mas de falar dos meus reais sentimentos e do porque eu estava com Gustavo.

- É que... – Comecei com voz embargada. – Eu não posso continuar com você, Gustavo. Eu achei que estava tudo bem, mas não está. Não está mesmo. – Fortaleci as palavras, levantando o rosto e fitando seus olhos deprimidos por minhas palavras. – Eu não mereço tudo o que você tem a me oferecer. Simplesmente por não ser apta por todo seu amor. Não podemos ficar juntos. Principalmente pelo fato de que quando estou com você, eu esqueço os problemas e acabo achando que esse é o relacionamento certo. Pode ter sido no início, mas hoje eu enxerguei que não é... não sou feita pra você. – Lamentei por fim, de cabeça baixa, sem querer fitar seus olhos como deveria ter feito. – Sinto muito. Muito mesmo, lindinho.

Ele ficou lá, intacto. Seu rosto se levantou e ele me olhou diretamente nos olhos, como se pudesse – e na verdade podia – me enxergar por dentro.

- Vou estar aqui mesmo assim, sempre quando precisar. Assim como estive naquele primeiro dia da revelação dos seus maiores medos e segredos. – Sua voz estava rouca e ele deu as costas para caminhar em uma direção muito distante da minha.

E, por mais incrível que pudesse parece, a cada passo que nos distanciava, meu coração partia em ruínas ainda maiores.

*

Eu estava sentada no conforto do carro de Henrique. Eu não me lembrava exatamente de como tinha ido parar lá. Só me lembrava do acesso de desespero que tive e que consegui medir minhas palavras quando “dispensei” Gustavo.

- A Melissa está no hospital. – Me virei ao comando de sua voz.

Ele estava alegre, dava para notar pela posição de seus ombros. E eu podia jurar que aquele era o pior dia de toda minha vida. Eu não podia dizer que foi quando fui estuprada por Natan, pois o ato me levou àquele dia. E aquele era o pior de todos. Ver a felicidade estampada nos olhos dele sendo causada por outra pessoa e não por mim. Sendo causada pela sua mulher que teria um filho dele. E eu tinha acabado de dispensar meu único ponto mortífero de dor. Não que estivesse arrependida, mas aquilo me faria falta quando eu por fim colocasse a cabeça no travesseiro.

- Ela vai ganhar bebê, não é? – Indaguei, sem olhar na sua direção, fitando a pista diante de nós. Não querendo ouvir as palavras que iriam vir a seguir.

- Sim. Nossa Júlia.

*

Henrique.

Achava impossível alguém sorrir mais que eu. No dia seguinte, Melissa e eu ainda estávamos no hospital, conversando sobre as prováveis madrinhas.

Consideramos Emily, porém não queríamos alguém que já fosse da família. Queríamos alguém para ser inserido na família. Também pensamos em minha mãe, mas o mesmo ponto de vista estava presente.

- E a Agatha? – Indaguei, repentinamente, sentindo os pequenos dedos de Júlia se agarrarem a um dos meus.

Melissa ponderou por alguns instantes. Achei que ela ficaria louca com a ideia ou que fosse dar risada. Mas ela nada fez, apenas continuou com a mesma expressão.

Ela acenou lentamente em positivo, sem tirar os olhos de Júlia. Vi seus olhos ficarem avermelhados e presenciei o momento em que as lágrimas rolaram por suas bochechas. Ela riu, afastando a tristeza.

- Ela vai ser perfeita. Eu aceito, Henrique.

Eu nunca entenderia a resposta de minha mulher.

Apenas MeuOù les histoires vivent. Découvrez maintenant