27 - O Vírus

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- Playbou? - a voz brava cortou minha brisa. - Eu tô cismada, eu não aceito ninguém fazer isso contigo. Tu tem um coração bom. - Natacha se sentou do meu lado.

- É por isso que eu tô mudando, cara. - eu nem olhei pra ela. - Não quero que tu entre no mesmo caminho. Não tem como voltar depois.

- Eu sou sua mulher, a rainha, esqueceu? A rainha protege o rei. - pegou o beck aceso da minha mão.

- Esqueci. - falei cético, aquilo não iria resolver todos os problemas.

- Vem! Você voltou, eu vou te dar sua surpresa.

Sua mão tocou na minha e meu corpo deu um pulo de choque, me fez levantar e me arrastou pra dentro do meu quarto novamente.
Por mais que ela beijasse minha boca de forma sexy e quente, eu não estava tão no clima como antes, mas tentei não decepcionar o jeito dela de resolver as coisas. Aliás, eu também não ficava muito pra trás.
Deitei na cama com cuidado pra não separar nossas bocas, os beijos tinham que ser bem calculados, já que minha boca estava estourada de tanto soco da delegada.
Naquela noite, fizemos amor e não sexo. Foi horrível.

- Tô bem, caralho. Para de falar na minha orelha! - bati a mão na mesa e o Rato entendeu o recado.

- Já é, chefe. To por ai, qualquer coisa liga nós.

Eu não me despedi, apenas deixei que ele saísse. Eu não queria me tornar o Patrick, eu tava tentando manter o controle, mas no final de tudo se parar pra pensar, nunca teve controle. Sempre foi essa bomba que é!

- Qual foi, mano. - passei um alerta pelo rádio. - Maycon? Encosta aqui, tem missão pra tu.

Tive resposta e esperei alguns minutos até sua chegada.
O moleque era firmeza, mil grau da favela, gente boa, de confiança e sabia guardar segredo.
Era fogueteiro e não X9.

- Boa, Playboy. Satisfação. - apertamos as mãos como bons meninos.

- Preciso de você, preciso que traga um 45 pra mim. Tem que ser 45, 38 tá me dando azar. - ri de lado.

- Fecho, deve ter lá em baixo com os crias. - ajeitou o fuzil em seu tronco. - Fica sossegado, chefe. É sucesso.

- Já é, irmão. Fico aqui no aguarde!

O cumprimento naquela tarde, foi rápido e ele saiu fora.
Agora chega dessa palhaçada de trombar a Sandra e ficar sem a pistola, agora eu não ia ser mais parado por viatura, nem por nenhum outro filha da puta. Agora a gente vai resolver é na bala.
Já diziam os antigos; olho por bala, dente por pente.
Natacha estava um amor naquela semana, esqueceu completamente do ódio e eu já voltei a ficar confuso com meus sentimentos, era uma droga e piorou quando deitei na cama com ela pra fazer amor, não combinou.

O carnaval estava chegando e os gringos deixavam a favela a milhão.
A gente já tava a todo vapor temperando a cocaína e embalando o prensado.
Os moleques estavam felizes, iam ver o desfile do melhor lugar do mundo; o alto do morro. Geralmente eram mais de quatro dias de festa, a gente não liga e o governo não bate na nossa porta implorando silêncio.
Mesmo assim, eles mandavam os vermes e a gente sabia que ia rolar problema.
Mas minha arma foi entregue com sucesso, agora ninguém ia me tirar essa porra!

O movimento era tão grande, era tanto rico filho de papai querendo cocaína, que eu tive que ficar nas vendas também. Trombei com o Yan vindo comprar umas gramas cedinho, estava exatamente como antes; gordo, descarado, filho da puta e a favor do Hitler. Eu ainda ia socar aquele desgraçado.

- Sumiu ein, irmão. - trocamos a nota de vinte por um prensado.

- É isso. - enrolei entre os dentes sem olhar na sua cara.

- Continua a mesma ideia, Felipe. - mexeu os ombros.

- Veio pra comprar droga ou guardar caixão na boca? - por fim, mudei o tom e nem vi a grosseria. - Atividade na loja, vaza.
O celular tocou, encarei a tela e Natacha me olhava com curiosidade.
Rato pegava no meu pé pra gente dar uma volta distante dela, CG encanado com os porcos e a favela seguia intacta.

- Alô? - falei com certa seriedade, o número era desconhecido.

- Oi amigo!!!!!! - era Bruna, muito empolgada e provavelmente bêbada. - Encosta aqui em casa com os moleques, tá tendo bloco. - ela riu.

- Maior barulheira ai, porra. - tapei a outra orelha pra tentar escutar Bruna melhor. Natacha ainda não conhecia muito bem a donzela.

- Meu pai tá dando uma festa, é carnaval, Felipe. Larga tudo e vem pra cá, ele quer vocês aqui. - fodeu!

- Entendi, parceira! - engoli seco a saliva quando Natacha ergueu a sobrancelha pra mim. - Vamo trocando mensagem, tá cedo ainda.

Era de tarde e ela já estava mais do que bêbada, imagina lá pelas sete da noite?!
Ao desligar, Natacha não me perguntou quem era, apenas ficou me encarando como ameaça mas contei apenas pro Rato e o CG quem era.
Assim que Natacha saiu da boca pra tomar um banho os moleques aliviaram a pressão.

- Que isso, chefe... Não dá pra ficar na atividade com a patroa aqui não! - CG reclamou.

- Sem neurose, ela embaça muito, tem nem assunto perto dela. - eu gargalhei. - E ai, Playboy? Nós vai curtir o bagulho ou tu vai ficar preso na dela?

- Papo reto. - CG balançou a cabeça concordando com o Rato, ansioso por minha resposta.

- Cês tão ligado que a Natacha não é mina que fica suave, né? Ela da o troco! A porra é louca, como que eu deixo ela pra trás, chavão?! - fiz cara de perdido.

- Tu tá muito chato, que fita errada namorar logo agora! - CG tragou o Hollywood Azul.

- Bruna tá querendo que nós encosta lá. - Rato me olhou e sorriu com os olhos. - Mas como que faz?

- Ué, só vamo. Corolla tá online! - ele olhou pro CG com alegria, doido pra que concordasse com ele.

- Vou tomar um banho... - sussurrei aos risos.

Ao sair da sala fechada, trombei de testa com a Natacha de braços cruzados. A garganta quase rasgou com a saliva que parecia prego.
Aquele short apertado favoreceu sua buceta, parecia estar sem calcinha, quando vi já estava pensando besteiras.

- Vai onde?! - sua voz arrogante me trouxe a realidade.

- Você fica tão gostosa de boca fechada... - mordi o lábio e prensei ela contra a parede.

- Eu tenho cara de boba? - me empurrou e eu fiquei sem reação.

- Não! - neguei com a cabeça, tratei de mentir muito bem.

- Onde vocês vão? - fez bico. - Tão correndo de mim o dia todo que eu to ligada.

- Que isso, amor... Só negócios. - beijei aquela boca com gosto de nicotina. - Nós vai resolver uma fita e depois sou seu.

Ela confiou, não tinha muito pra onde correr.
Nós nos arrumamos, exageramos no perfume, no gel de cabelo e saímos no Corolla com grandes copos de uísque, com 45 carregado, bolando um baseado.
Bruna esperava na calçada e o Rato quase morrendo do coração.

- Que bom que vieram! - ela parecia feliz mas só encarava o Rato.

- Nós vai entrar, deixar vocês à vontade. - CG resmungou.

Entramos e seguimos o som alto. Logo Dylon apareceu e levou CG pra grama, sentaram-se na mesa. Fiquei observando a galera de lá, os primos, as tias gostosas, as primas também...
Fui até o banheiro, pronto pra mijar quando a porta foi quase derrubada por um estrondo.
Sandra me pegou de pau pra fora, mijando torto no sanitário bonito. Empurrou a porta e a fechou.

- Você é um vírus, Felipe. - encarou meu copo de uísque em cima da pia. - E eu mato vírus!

EU VIM DA RUA - MC Kevin (Kevin Bueno)Where stories live. Discover now