3 - Isso Que é Foda

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O fim de semana ia ser pra valer. A sexta começou com o falecimento do meu pai e terminou comigo, fodendo a Natacha. Era uma roda gigante! Um misto de emoções loucas.
Não podia reclamar, minha vida sempre foi assim, eu devia ter me acostumado.
Voltamos para dentro da casa do Patrick e fomos alvos de olhares minuciosos. O Rato não soube conter sua felicidade e pulou em cima de mim, fazendo com que eu bebesse do seu copo de uísque. Quase engasguei quando ele me fez virar tudo de uma só vez, aquilo queimou minha garganta!

- Hoje é dia de passar mal! - fez uma careta quando terminou de dar uns goles da garrafa. Ele era insano em relação a bebida.

Estava finalmente esquecendo o começo daquela sexta-feira, acredito que Natacha tenha feito o seu trabalho com excelência!
Segundos depois, Patrick cruzou a sala correndo e assim que percebemos uma movimentação e sons estranhos, desligamos o som e todas calaram a boca.
Gentil (que era dos gerentes), empunhou sua arma em mãos e foi pra fora.
Acontecia uma guerra no morro vizinho os tiros cruzavam o céu e lá de cima, a gente podia ver tudo. Pareciam cometas barulhentos!

- Recebi no radinho. - Patrick concluiu assim que me viu atrás dele. - Acabou a festa, rapaziada.

Calou-se por alguns instantes, parecia esperar alguém dizer alguma coisa mas não aconteceu. Natacha reuniu o restante das suas amigas e começaram a descer ladeira abaixo, esquecendo de se despedir por conta do desespero. CG estava tenso e não tinha como não estar. O Rato estava mais alcoolizado do que um Opalla! Era impossível pedir sua opinião e ajuda.

- Ninguém sobe, ninguém desce! A loja tá fechada nesse fim de semana.

- E a produção? - sofri desespero. Precisava de dinheiro.

- Continua! - assenti com a cabeça.

CG era da produção. Gentil gerente, tomava conta das anotações e das coisas que entravam/saíam. O Rato ficava por conta dos problemas da comunidade, tudo ele resolvia e eu, acabei ficando por conta das vendas.
No fim, todo mundo se ajudava mas era pra aquilo, especificamente, que fomos designados.

- A neurose bateu no Rato, vou levar ele pro barraco. - Patrick tratou de apertar minha mão. Enquanto isso, eu rezava pra pelo menos o filho da puta conseguir sentar na moto.

Tirei as chaves do pescoço e encaixei pra ligar a moto. Rato confessou a dificuldade de estar tonto depois que subiu na moto. No caminho, ficou perguntando repetidamente como era a buceta da Natacha. Arrependimento de ter pedido a droga da camisinha pra ele!
Contorci a cabeça quando paramos na sua porta, olhando para os lados com cautela. Ele desceu mais rápido do que subiu!

- Ai, padrin... - fez um paz e amor com os dedos. - Nós trombra, cachorro louco!

Agradecido fiquei quando ele entrou pra dentro do portão. Estava com a voz do Rato na minha cabeça, de tanto que ele falou pra caralho no meu ouvido. Estava injuriado!
Acelerei a moto e a falta de capacete me dava uma brisa boa. Ainda ouvia os tiros e conseguia ver os cometas voando depressa, mas era sossegado. A chuva não molha quem já está molhado!
Após estacionar a moto na garagem, encontrei Carla rezando no escuro da sala.
Talvez pedindo pro tiroteio parar, ou então pra eu ser protegido.

- Graças a Deus você chegou! - arfou de alívio e veio me abraçar.

Deve ter sido um abraço meio tenso. Eu fedia a álcool, droga e (lá no fundo, se seu olfato for bom) a sexo.
O dia havia sido longo, essa sexta-feira não passava e me torturava.
Depois de um banho quente, deitei na cama com a certeza de que aquele fim de semana nada de bom iria acontecer.
Deixei uma mensagem no celular do Rato, só pra ter certeza de que ele estaria bem e que amanhã iríamos armar uma praiana de lei.

EU VIM DA RUA - MC Kevin (Kevin Bueno)Where stories live. Discover now