48 - Ambição

33 5 2
                                    

Eu não tinha ninguém pra dizer que aquilo seria uma péssima forma de ganhar dinheiro... Mas a verdade é que eu tava tão desesperado pra sumir dessa vida que se alguém me dissesse que era errado, capaz que eu matava!
O plano era bom, parecia coisa de filme e as chances de darem errado seria quase nenhuma se tudo saísse como o planejado.

- Tá, então a gente vai entrar dentro do carro forte, Rato? - CG perguntou indignado.

- Se for ver, vai dar bom, CG. Põe a porra da cabeça pra funcionar! - dei um tapa moderado em sua testa.

Tinha um cara aqui do morro que trabalhava guiando os carros fortes,estava tudo combinado entre nós e ele até ganharia sua parte se fizesse tudo direito, ia ser moleza!

O primeiro passo, ia ser render ele na porta de um dos bancos, de um jeito cauteloso, sem chamar muita atenção. O segundo passo ficaria mais fácil ainda, iríamos seguir viagem dentro do carro forte, pela rota normalmente junto com os seguranças e empilhando o dinheiro dos bancos. No terceiro passo, e assim espero que último, iríamos descer em um sinaleiro com todo o dinheiro, onde Rato estaria esperando no carro de trás.
Seguiriamos pra favela e era só dividir igualmente e se aposentar.
Viu só? Super tranquilo...
Não tinha como dar errado!

- Tô dentro, chefe. E quando vai ser isso?

- Começo da semana. Vocês se organiza, vamo botar pra fudê.

- E o morro? - CG perguntou.

- Foda-se o morro, CG! - Rato retrucou. - Nós vai ir embora, porra.

CG afirmou com a cabeça mas algo me dizia que ele queria ficar por aqui... Parecia até estranho.
O domingo chegou, era escuro e tudo me deixava a um passo do estresse ou colapso total. Eu precisava descansar, por a cabeça no lugar, pois quando o sol nascesse o pai ia tirar.

- Beleza, Felipe. Só aguentar até amanhã de manhã, é só dormir. - sussurrei pra mim mesmo enquanto encarava o teto cor de azul do meu quarto.

Mas o sono não vinha, era como se meu cérebro estivesse oposto do sono.

- Fala sério... - afundei as mãos no rosto. - Não é possível que eu vou ter uma insônia hoje!

Eu precisava do que? De fuder ou de me entupir de cachaça?
Foda que fuder era mais caminho, já que eu ia precisar muito da minha sobriedade pro dia seguinte, tá ligado? Essa merda não podia dar errado, precisava muito refazer minha vida. Na verdade, eu sempre quis refazer... Mas era complicado, eu tinha alguém que precisava de mim, e talvez, eu também precisasse dela na mesma sintonia.

Levantei e abri a janela, observei o céu limpo antes de decidir bolar um.
Dichavei a droga e joguei na seda, separei delicadamente pra poder fechar a seda, após finalizar o fininho, me peguei pensando na delegada mas lutei contra mim mesmo.
Lembrar dessa mulher era suicídio, Deus me livre.
Os minutos de passaram e o sono veio, logo deitei e pude dormir.
Só que acordei de pau duro sonhando com a delegada me algemando naquela Blazer velha, aquele dia foi foda!

- Acordei, pai. Tô subindo. - mandei um alerta no Nextel.

Coloquei uma roupa preta que eu pudesse desfazer dela depois sem nenhum remorso. Um casaco preto de capuz, acompanhado de uma calça jeans lisa e um tênis preto velho, que já não combinava com nenhuma roupa.
Subi o morro cedo, o sol havia acabado de nascer.
CG já estava no QG se preparando pra missão, limpava seu 38 com precisão e paciência.

- Bom dia. - falou sem tirar os olhos da arma. - Toma. - me entregou a outra que estava em cima da mesa. - Se der merda, tu sabe muito bem o que fazer.

Concordei com o CG mas esperava não ter que usar aquela merda.
Recebemos uma mensagem do segurança do carro forte e assim, a gente se preparou pra merda toda rolar.
Descemos o morro no Siena preto insufilmado, eu estava no banco de trás, o silêncio era de foder mas mantivemos assim.

Meu corpo estava dando choque, era como se alguém estivesse querendo me parar e eu estivesse lutando contra aquela adrenalina toda. Aliás, o que era essa merda? Isso sim era novidade pra mim...

O carro brecou com força, não me dei conta de quanto tempo se passou até ver o carro blindado e o CG rendendo o nosso parceiro de crime.

- Vai, mão na cabeça e se reagir, eu atiro! CG gritou e eu saí do carro todo encapuzado. - Você e seu amiguinho vão fazer tudo certinho hoje, dia normal.

Entramos dentro do carro forte, enquanto isso, Rato esperava ansioso e cauteloso atrás.
CG tirou as balas das armas dos seguranças e tratou de cuidar que não entendesse que Vilmar (o nosso querido amigo motorista do carro forte) estava com a gente nessa.

- Hoje você que vai dirigir. - CG empurrou o segurança pro volante, fazendo trocar de lugar com Vilmar.

Assim teríamos uma vantagem, tenho certeza que o Vilmar ia se dar bem nessa, a gente precisava ser cuidadoso e se o outro segurança fosse recolher o dinheiro do banco, havia grande chance de dar merda, ele podia pedir ajuda. Vilmar não faria isso...
A merda tava MESMO acontecendo!

CG acompanhava cada movimento do outro segurança, sentado no banco do carona, de lá ficava mais fácil.
Eu fiquei de pé, próximo a porta que se abria em cada parada angustiante. Ver todo mundo passar lá fora e ninguém te ver... Era muita adrenalina pra mim!
As vezes, bisbilhotava pelos pequenos vidros blindados de trás, só pra me certificar de que Rato estaria logo atrás caso precisasse.

- É o último banco. - Vilmar informou antes do segurança parar o blindado.

CG concordou e parecia aliviado. Confesso que eu também...
Vilmar saiu e nada mudou lá dentro, continuamos a mesma paz. O segurança ainda com as mãos no volante, a arma com o CG e eu lá, vistoriando tudo, tratando de olhar com calma ao meu redor. Alguns minutos se passaram, pra ser exato 26min, e Vilmar voltou com as sacolas pesadas em mãos.

- Pronto. - CG respirou aliviado.

- Seguinte, não podemos sair da rota, irmão. Faz o caminho tradicional, a gente desce por aí. - disse calmamente no cangote do segurança, enquanto Vilmar se sentava no carona. - Se você mudar o caminho, ele vai me avisar, aí eu mato ele e você. - Vilmar encarou a arma apontada em seu pescoço.

- E-eu aviso se ele mudar. - gaguejou e depois engoliu tão seco que me senti no deserto.

No decorrer do caminho já sabíamos qual era a rota, teria um lugar específico para descer, assim como teve no início pra subir.
Uma rua calma, sem muitas câmeras, sem muita visibilidade e que dava pra fazer o jogo rápido.

- Para aqui! - CG anunciou já jogando uma bolsa no meu braço.

Tratou de algemar o segurança no volante e Vilmar no puta que pariu do blindado.
Empurrei a porta pesada e pude ver Rato vindo de econtro já com o porta-malas aberto, joguei a primeira bolsa e corri pra pegar mais. Na volta, já pude notar CG chegando com as outras. Haviam 6 bolsas pesadas com dinheiro, notas que não era manchadas, notas que seriam fácil de desaparecer...
Após encher o carro com as malas, entramos rapidamente e Rato deu partida sem cantar pneu, pra que a atenção não fosse chamada. Tudo foi feito exatamente em sete minutos, o tempo correto pra empresa notar o carro parado e acionar a polícia.

- Vou pro posto, põe as roupas na mochila. - Rato disse enquanto dirigia normalmente pelas avenidas.

E assim CG, eu e Rato nos livramos dos disfarces, colocando tudo numa mochila grande, bem nos pés do CG.
No posto, Rato entrou no lava jato, o carro que era preto e insufilmado, virou cinza e de vidros claros.
Um belo disfarce... Jamais seríamos pegos.

EU VIM DA RUA - MC Kevin (Kevin Bueno)Dove le storie prendono vita. Scoprilo ora