6 - O Certo Sempre Prevalecerá

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- Caralho, eu tô te falando, porra! - Patrick parecia não acreditar.

Eu estava exausto, realmente cansado daquele trajeto de duas horas a pé, eles estavam formigando. Naquele domingo, Patrick estava sonolento e desatento, como se a ficha não tivesse caído desde a morte do Gentil.
Havia uma garrafa de água gelada em minhas mãos, já que parecia ter vindo do Saara.

- Patrick! - ele me olhava como se não fizesse questão. Muito pelo contrário, nada o surpreendeu, parecia que ele já sabia de tudo. - O que vamos fazer?

- Eu não te quero envolvido nisso, Playboy.

- Agora? - joguei a garrafa contra a parede. - Agora você fala essa merda pra mim? Depois que eu já tô até o pescoço nessa droga?

- Você tá alterado. Vai pra sua casa. - apontou com a cabeça pra porta.

- Vai se foder, Patrick! - chutei a cadeira até mandá-la contra a parede. Na verdade eu estava destruindo a casa dele pra não destruir a cara dele e ele percebeu.

- Você tá ficando um mimadinho do caralho, em! - resmungou alto antes mesmo de eu concluir minha saída. - Não é como você quer!

Deu passos largos e depressa até mim. Agarrou minha camisa (que já não era a mesma desde noite passada, estava toda retalhada) e me puxou pela gola.

- Ou você esqueceu que a porra do morro é meu?! - seus dentes travaram um no outro, ele falou isso praticamente cuspindo em mim.

- Eu sei muito bem que é seu. - empurrei seu corpo fazendo ele me soltar. - É por isso que tá essa merda! - antes de atravessar a porta de madeira, dei um dedo do meio bem dado.

Agora o que eu fazer?!
Se passou uma semana das férias e eu fiquei em modo alerta. Continuei indo na lojinha todas as noites, como se nada tivesse acontecendo.
Mas o fato do Gentil não estar ali me deixava desprotegido, isso me assustava.
Os dias se passaram tediosos, os moleques me faziam falta.

- E ai, Playboy. - chegou mais um noia da madrugada. - Tem um pó mágico ai? - seus dentes amarelos me assustavam.

- Tá tendo, Ticão. Dinheiro na mão... Depois eu entrego. - sempre foi assim, primeiro o "faz-me rir".
Sua nota de cinquenta brilhou diante dos meus olhos, depois de guardá-la junto as outras, entreguei-lhe seu desejo.

- Valeu ai! - sacudiu o saquinho com uma certa alegria. - Ouvi dizer que o Gentil morreu, rapaz bom.

Fala sério, o cara era um senhor de uns cinquenta e poucos anos, dava dó ver ele naquele estado. Suas unhas estavam sujas e os dentes precisavam urgentemente serem escovados, a família já tinha desistido dele faz tempo.
Mas a gente não, as vezes dividíamos algumas quentinhas e quase sempre ele vinha aqui. Nunca foi de meter o nariz em nada de ninguém, era confiável.

- Morreu sim... mas nós já resolveu essa fita errada. - enfiei as mãos no bolso, a noite estava gelada.

- É que eu vi o Patrick indo na UPP, achei que as coisas iam esquentar.

- Qual foi, Ticão... Tá dando um de x9? - ele negou imediatamente com a cabeça, eu acabei dando oportunidade pra ele falar. - Então fala, caralho...

- Não senhor Playboy, por favor... Não é isso. É que os cara lá é tudo folgado. - apontou pra cabine da UPP. - Minha mulher pediu um gás semana passada e os cara não subiu, eles não deixaram.

- Tá falando que eu tô pagando arrego pra polícia passar por cima das minhas ordens? - cerrei os olhos nos dele. - O que o Patrick foi fazer lá? - agora eu já tava puto de novo, só que mais curioso.

- Parece que ele foi lá pedir permissão pro homem do gás subir, eu falei com ele, né... Ele é o patrão. - sua voz havia mudado de tom, a preocupação me encheu o pulmão de ar e eu precisei soltar da forma mais urgente possível.

- Vaza, Ticão. - revirei os olhos e mudei meu foco de lugar. Forcei o maxilar e cocei o queixo, fiquei pensativo.

Quer dizer então que o Patrick não manda em porra nenhuma?
Será que esses seis mil que ele sempre entregou não serviu pra nada?
Mas que caralho, o morro é de quem, Patrick?!

EU VIM DA RUA - MC Kevin (Kevin Bueno)Where stories live. Discover now