23 - A Consequência

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A ordem dos três mosqueteiros tinha se tornado sem ordem, estávamos tão aéreos que não conseguimos pensar direito.
Adentrei correndo nos quartos e enchendo a mochila de droga, CG fazia o mesmo e tudo muito depressa. Rato ficou na contenção da porta.
Peguei o celular, enfiei no bolso e verifiquei o cordão no pescoço.
Saímos da casa se misturando nas vielas, tentando alcançar LC.
O nextel foi desligado para não chamar atenção já que o morro estava realmente quieto!
O coração acelerado e a respiração ofegante mostrou que todos estavam desesperados.

- Vamo dar a volta pelo mato, a noite tem que ficar do nosso lado! - Rato estava escorado na viela, encarando os lados.

- Vai você e o CG. - tirei a mochila das costas. - Leva. Não quero ver vocês dois aqui.

- Tá maluco, porra? - rosnou o CG. - Ninguém fica pra trás, caralho!

- Eu sou de menor, tô limpo, esqueceu? - CG pegou a mochila mas pareceu bem contrariado.

Em segundos os dois sumiram e eu fiz o caminho oposto, mesmo assim bem nervoso, rezando pra eles não serem pegos!
Limpei o suor da testa e desci o morro aos poucos, a noite me cegava e me deixava despreparado a cada centímetro à baixo.
Foi quando, ao virar a viela um fuzil beijou minha boca. Gelei.

- Mão na cabeça! - a morena travou o maxilar e eu obedeci. - Vira pra parede. Tá sozinho?

Apenas concordei com a cabeça e escorei a testa na casa de alguém.
Sua mão percorreu minha cintura, encontrando minha pistola raspada.
Ela provavelmente a guardou em algum canto da sua farda.

- Bora, desce! Você vai comigo.

Duas vielas pra baixo estavam mais duas PM, conversaram rapidamente e desceram comigo na mira de três fuzis.
Fala sério, parecia que eu estava prevendo essa merda, tomara que os moleques estejam bem.
Fui jogado no chão, aos pés do morro, fiquei traumatizado por encontrar alguns corpos durante a descida.
Algemado, sentado em minhas mãos, cabeça abaixada e ainda sim rezando pra algo me livrar.
Só que dessa vez parecia não ter muita saída e eu contive o fôlego.

- Qual seu nome, cidadão? - outra morena fardada se abaixou diante de mim.

- Playboy. - ela arqueou a sobrancelha.

- É?! Faz tempo que a gente tá te procurando... Ouvimos falar bem de você. - debochada filha da puta. - Vou perguntar de novo, qual seu nome?

- É Playboy, porra! Tá surda? - franzi a testa.

- A gente vai levar esse aqui! - gritou pro restante mas me encarando.

Fui jogado na VT todo torto, a falta das mãos livres me irritava.
Eu estava com ódio, aliás... Cadê a Sandra? Ela não serve pra nada?!
Lá estava eu.
Novamente sozinho.
Dentro de uma pequena sala com grades.
Esperando uma luz.

- Parabéns, Janeiro começou muito bem. - o PM disse fora das grades. - Um já foi, a gente ficou sabendo do outro gerente... Agora você. Tá bem famoso, Playboy.

- Tanto faz. - mexi os ombros. - Não adianta cortar a cabeça do dragão, corta uma e nasce mais três.

- Mas vamos combinar que dói saber que tá perdendo, não é? - ele tinha um sorriso na cara que me tirava do sério. - Vem... A delegada quer bater um papinho com você.

Ele abriu a porta e me tirou de lá como se eu fosse um bicho asqueroso, talvez eu fosse.
Fui jogado na sala da delegada, me recordo perfeitamente daquela decoração de bosta.

- De novo? - apontou a cadeira pra eu me sentar.

- Tô de boa. - cerrei os olhos.

- Eu não vou te defender mais, Felipe. Você é o frente da boca. Acabou a proteção. - ela realmente pareceu estar falando serio.

- A nossa história acabou no Ano Novo, delegada. - foda-se o sentimento.

- Realmente. - bateu a papelada mesa. - Espero que esteja confortável na cela, vai passar a noite aqui até a gente decidir o que faz com você.

- Ah que bacana... Não tinha nada pra eu fazer em casa mesmo! - sorri.

- A arma e o seu celular estão sendo analisados.

- Por favor, cuidado com a arma... Ganhei de presente. - prendi os lábios. - A senhora tem uma mania muito feia de pegar meus bagulhos e não devolver. Ou quebrar...

- Sem metáforas, você não tá em condição. - levantou uma sobrancelha e continua fixando o olhar em mim.

- Quebrou meu coração, delegada... - fechei os olhos e parei de olhar pra essa loira gostosa. - E eu sou meio vingativo, vou quebrar o seu.

- Pode levar. - ela gritou e o PM que me trouxe, agora me levava de volta pra cela.

Ao sair tive o pior sentimento da minha vida! Estava muito confuso mas realmente, tenho que descartar Sandra da minha vida, não funcionamos juntos e eu tô igual um doente apaixonado e ela andando por ai com o ex dela como parceiro de vida. Porra, só eu pra me meter nessas furadas!
Provavelmente a essa hora, minha tia já estava surtando de preocupação e pedindo pra Deus alguma resposta (ou pra quem estivesse ouvindo).
A noite se passou lenta naquela sala gradeada, pareceu demorar mil anos, já que nem pra dormir eu estava servindo, fui obrigado a me concentrar em resolver as coisas na minha cabeça.
Vi o Sol nascer pelo corredor da delegacia e fiquei mais aliviado, já estava morrendo de fome e com vontade de fumar um do bom.

- Bom dia, cidadão do bem! - aquele PM estava me tirando do sério. - O juiz está do seu lado, mandou te soltar e devolver seus pertences. - fez cara de triste. - Não se preocupa, a gente te pega outra vez.

Abriu a cela, me fez virar de costas e tirou as algemas. Limpou uma sujeita que estava em meu ombro, parecia poeira. Deu um sorriso e apontou pra porta, andei na frente dele até o balcão.
Foi entregue meus documentos, meu celular e minha carteira que devia ter uns vinte reais.

- Pronto, novinho em folha. - arqueou a sobrancelha a espera de um agradecimento.

Porém, só teve meu desprezo.
Sair daquele lugar me fez refletir e já que eles queriam um Playboy ruim, eu vou encarnar esse papel como se fosse a minha vida.

EU VIM DA RUA - MC Kevin (Kevin Bueno)Where stories live. Discover now