53 - Novidade na Área

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Parei de frente a rodoviária, tomando coragem pra entrar.
Até que o taxista falou alguma coisa e me tirou do transe, me fazendo sair do carro. Catei minhas malas e coloquei todas em um carrinho, fui ao guichê mais próximo que encontrei.

- Opa. Beleza? - e o cara respondeu de dentro da cabine. - Patrão, qual o lugar mais escondido que você tem pra São Paulo? Tô devendo pensão, moço. Quero sumir. - comecei a rir de alguma piada que ele retrucou.

Seriam doze horas de viagem até essa cidade, não era tão longe mas também não seria tão perto. Doze horas, seria mais que o suficiente pra poder recomeçar do zero!
Esperei até às dez da noite, horário em que sairia o ônibus.
Ainda sentado no banco, pude ouvir a voz chamar os passageiros e me peguei imaginando Sandra chegando, correndo até mim e quase me levando preso de novo mas dessa vez ela não iria me prender por justa causa, seria apenas porque ela não queria que eu fosse embora.

- Você vai embarcar nesse? - o motorista chamou minha atenção.

Concordei com a cabeça e entreguei o bilhete, estoquei as malas e entrei no ônibus de dois andares. Aconcheguei na poltrona macia, bem do lado da janela, e esperei que o ônibus desse partida.
Eu apostei tudo nessa vida nova, nessa nova carreira solo que iria se iniciar... Eu estava ansioso e com medo, era tantas sensações novas que chegava a embrulhar o estômago.
Eu ficava ansioso a ponto de pensar o que eu faria quando eu chegasse lá; iria comprar uma casa em um bairro pacato, mobiliar a casa, montar um negócio próprio, me inscrever em um academia, conhecer alguém legal a ponto de querer montar uma família. Seria uma ideia muito ruim?
A viagem foi longa e torturante e eu permaneci invisível a todos os olhares.

Consegui me estabilizar após dois meses, comprei um apartamento e uma moto pra fácil locomoção, dei entrada na minha CNH e abri uma barbearia, coloquei uns meninos que já eram experientes pra trabalhar pra mim, até que eu finalizasse o curso de barbeiro; que iria demorar três meses. Capaz que após um ano, eu estaria mais bem de vida e com tudo em ordem, pronto pra seguir ela do jeito que realmente planejava.

- Ah, você é muito novo pra morar sozinho. - disse a atendente do mercado, quando fui fazer minha primeira compra grande.

Desconversei. Achava totalmente desnecessário alguém saber da minha vida...
Naquele dia, eu iria precisar mandar mensagem pra Natacha.
Fui até o shopping, depois de deixar as malas em casa, e comprei um celular. Depois de dois meses, pegar em um celular, seria como pegar em uma arma. Eu não sabia mais usar nenhum dos dois!

Sentado na praça de alimentação, disquei o seu número com calma. Focando pra não errar. Chamou duas vezes.

- Alô? - que saudade daquela voz.

- Oi. - soltei um pigarro consertando a voz. - Sou eu, Play... Felipe.

- Playboy! - ela pareceu eufórica. - Como você está? Você sumiu, eu achei que você ia mandar mensagem logo em seguida. Aqui tá uma loucura sem você... O CG sumiu e o Rato também. - é, fazia parte do plano...

- Calma. - eu gargalhei. - Muita informação! Respira. - ela riu de volta. - Tá com papel e caneta? Vou precisar da caixa.

Por via das dúvidas, dei o endereço da cidade ao lado. Ficava cerca de duas horas de distância mas iria dar uma chance de não me encontrarem...
Conversei o suficiente da Natacha, perguntei mais sobre as coisas de lá do que falei sobre mim aqui e ela pareceu super entendida.

- Posso te ligar depois?

- Eu ligo. - meu número era desconhecido.

- Nem whatsapp, Playboy?! - pelo tom de voz, eu conseguia imaginar sua cara de indignação.

- Nem whatsapp, Natacha. - debochei me despedindo.

Bom, a caixa provavelmente iria chegar em sete dias. Lá, estava o restante do dinheiro... Eu precisava, pra deixar guardado sobre os meus cuidados, já que haviam mais três malas dessas lá em casa. Dava até uma certa fobia de ver tanto dinheiro junto assim...
Mas a barbearia me ajudava a lavar o dinheiro, o que parecia um grande negócio, já que ficava em uma boa localização e confesso que investi em um espaço refinado e aconchegante.
A caixa chegou depois de uns dias e eu não liguei de volta pra agradecer Natacha, aposto que ela ficou esperando a ligação.

A cidade era calma e tranquila, totalmente diferente do que eu estava acostumado a ver. Meus vizinhos eram tão quietos que me deva vontade de subir os degraus e bater neles pra criar uma dinâmica ou até mesmo uma rivalidade. Não havia som alto, nem bateção de nada lá em cima, simplesmente parecia que não morava ninguém em cima, e olha que eles tinham filho.
Eu acho que eu era o mais bagunceiro dali, as vezes eu abria a garagem, escutava um som alto e até fumava um na varanda vendo o temporal chegar.
Confesso, era incrível morar aqui!

Após seis meses de estabilidade, minha CNH chegou, meus móveis estavam todos planejados e eu também morava em uma ótima casa, aconchegante e de boa localização. Comecei a me adaptar e tinha um lugar pra chamar de minha casa. Tipo, minha mesmo, tá ligado?
O celular foi ficando parado até última ordem.
Eu fazia academia às 6h da manhã e ficava na barbearia das 9h até às 19h, depois vinha pra casa, tomava um banho e tentava não me meter em confusão.
Até que um belo dia, a confusão me achou.

- Posso revezar com você? - a morena malhada me filmou dos pés a cabeça.

Fiquei uns dez segundos encarando ela. Não queria revezar, não queria dar espaço pra ninguém entrar na minha vida agora... Precisava por a cabeça no lugar antes.

- Pode. - levantei.

Droga. Droga. Burro.

Ela fez a série de exercício dela e assim fomos revezando até acabar. Quando acabou, me virei sem dizer um piu e fui pra próxima máquina de exercício.

- Posso revezar? - tá de sacanagem? Olhei pra cima e era ela de novo!

- O que você quer? - curto e grosso.

- Revezar. - ela tirou o fone de ouvido e me olhou com certa dúvida.

- Quer saber? Pode fazer. - levantei e deixei o equipamento bater, fazendo um grande barulho e atraindo olhares.

Sai bufando da academia.
Coloquei o capacete e liguei a moto, acelerando o máximo que pude até sumir das vistas daquele lugar.
Ao enfrentar um dia cansativo de trabalho, já deitado na cama, me peguei pensando em possibilidades... Não achei que fosse ser tão chato ficar longe de toda aquela merda.
E se eu fizesse um Instagram? Melhor, um Tinder? Será que eu daria muito trabalho pros meus vizinhos?
A realidade é que eu tava há seis meses sem nem me comunicar com mulheres e eu comecei a sentir falta da delegada...

EU VIM DA RUA - MC Kevin (Kevin Bueno)Where stories live. Discover now