66 - Mandona

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Minha coluna travou, segurei tão forte na poltrona que pude notar meus dedos endureceram, ninguém ia me tirar de dentro daquele avião.

- Felipe, a gente não vai ficar aqui. A gente vai pra região dos lagos, sempre quis conhecer...

- Porra, Camila. - deixei a voz vacilar e soquei a poltrona vazia da frente. - Como que você me trás numa cidade, onde eu roubei a porra de um carro forte? - rosnei entre os dentes, tentando me controlar.

- Eu só achei que você fosse ficar feliz... - afundei a cabeça com as mãos na testa. - Sei lá, relembrar os momentos bons...

A essa altura do campeonato, não tinha como ir pra outro lugar. Até tinha mas provavelmente iríamos perder dias e se estressar organizando qualquer coisa de última hora.

- Pra onde vamos, Camila? - voltei a encarar ela, cruzei os dedos da mão e apoiei os cotovelos no joelho. - Já me conta tudo.

- Cabo Frio... - seu olhar ainda não encontrava o meu, ela falava tão baixinho e mexia em suas unhas de forma desconcertada.

Merda. Será que tem como piorar?

- Quantos dias a gente vai ficar lá? - eu ainda estava na mesma posição, tentando manter o controle da voz, enquanto as pessoas passavam no corredor do meu lado.

- Sete...

Esfreguei os olhos de exaustão, respirei fundo e me concentrei em não voltar pra casa pilotando esse avião.

- Se eu perceber alguma coisa saindo do controle, a gente vai embora. - ela me olhou, finalmente. - Combinado?!

- Tudo bem.

Apenas me levantei e ajudei a pegar as malas que estavam em cima da nossa cabeça. Descemos do avião naquele calor insuportável, confesso que não sentia saudade disso... O sol estava quase sumindo, o que me trazia um pouco de alívio, saber que ficaria invisível a certos olhos. Aqui, na capital, não estávamos seguros.

- As passagens do ônibus tá aqui na minha bolsa... - ela parou de puxar a imensa mala de rodinhas e se dedicou a procurar as passagens na bolsa de mão.

- A gente vai de táxi, melhor. Vou me sentir mais tranquilo. - estiquei os braços sinalizando pro taxista.

Infelizmente eu sairia um pouco dos planos da Camila mas se ela tivesse me avisado antes, talvez eu pudesse controlar a situação e não ficasse tão ruim assim.
Entramos no táxi em silêncio, Camila apenas passou o endereço e seria mais uma hora de viagem até o destino final.
Não consegui trocar muitas palavras, apenas fui dando espaço pro silêncio e o som do rádio no fundo, enquanto ela, fazia alguns storys da paisagem.
Depois de bastante tempo e pegando um trânsito ruim, chegamos no hotel.

- Tudo bem, vai fazer o check in, eu levo as malas. - ela concordou e entrou pra dentro do mesmo.

Paguei o taxista com calma, retirei as malas do porta-malas e uma sensação terrível me vinha a cabeça. Agora, essa cidade era muito assustadora pra mim... O arrepio na coluna e a voz na minha cabeça não paravam. Sinto que só iriam parar, quando eu entrasse de volta naquele avião e voltasse de onde eu não devia ter saído.
Entrei no hotel e fui recebido pelo camareiro, que trouxe um carrinho e me deu auxílio com as malas.
Encontrei Camila na enorme recepção, era um grande hotel, parecia caro.

- Pronto, já podemos subir.

- Eu acompanho. - o camareiro anunciou, nos levando pro elavador.

Novamente o silêncio era estranho e desconfortável. Não me esforcei pra sair dele...
Entramos no hotel, era amplo e tinha sacada, estávamos no vigésimo quarto andar e tinha uma bela vista de frente da praia. A noite finalmente chegou, trazendo o vento da maresia pra refrescar nossos corpos cansados.

EU VIM DA RUA - MC Kevin (Kevin Bueno)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora