44 - 01 Não É 02

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- Repete, eu não entendi. - negava com a cabeça consecutivamente. - Cê tá me pedindo o que exatamente?

Eu tava lá todo paradão, duro dos pés até a cabeça, meu corpo tava travado no chão, era como se o mundo tivesse pesado e eu não conseguisse me mexer.

- Ué, Felipe. - respirou fundo com as mãos na cintura. - Achei que você sentisse por mim, o que eu sinto por você... Eu sei que a nossa conexão é de outras vidas. Eu sinto que eu sou sua...

MAS QUE PORRA É ESSA?!

- Sandra... Eu não sei o que te dizer.

Pronto, agora fudeu. Eu tinha pedido Natacha em namoro, crente que eu tava super decidido. Quero dizer, eu tava... Mas e agora?

- Eu vou embora. - balancei a cabeça positivamente e me virei, comecei a andar de volta pra onde eu achava que tinha vindo.

- Felipe, você tá indo pro lado errado. - virei o corpo novamente e andei pro outro lado. - É o outro lado, Felipe. - respirou fundo.

E assim eu fiz, simplesmente voltei a andar pelo caminho onde o carro tinha vindo.

- Entra no carro. Eu te levo. - disse cética.

- Tá. - eu fiquei parado esperando ela dar a ré e parar na minha frente. Entrei no carro.

- Você não vai falar nada? Eu realmente achei que a gente se dava bem! - disse em tom de indignação.

- A gente se dá. - eu estava olhando pra frente sem nem piscar, voltando a ficar paralisado, só as palavras dela que entravam na minha cabeça e faziam eco. - Bem de mais, eu diria.

- Então qual é o problema da gente ir pra longe dessa merda toda e tentar recomeçar?

- É que agora não dá mais... - acendi outro cigarro.

- Como não? Eu tô aqui e você tá aqui, o que tem de errado?

- Talvez eu goste de outra pessoa. - ela freiou o carro bruscamente, fazendo eu apagar meu cigarro no painel.

- QUE?!

- Sandra, eu acho que isso não funciona. - cocei a cabeça. - Nós dois não funcionamos juntos, cê tá ligada nisso.

- Não, não tô. - bateu as mãos no volante. - Eu não acredito que eu tô apaixonada por um moleque e ainda tô ganhando um não.

- Tá vendo aí. - prendi o beiço. - É por isso que a gente não dá certo.

- Tira a roupa! Vou te mostrar.

- Que mané tira a roupa delegada... Nosso tempo já passou. - ela me olhava com raiva. - Eu tô saindo fora dessa vida, de você, de todo mundo, eu tô me reconstruindo de novo.

- Não vai dar certo. - que isso? Ela tava me pragejando? - Você não sabe fazer outra coisa. Você é isso aí, Felipe.

- Ah, sai fora. Vai me levar de volta ou vai fazer eu ficar puto e ir andando?

- Eu vou fazer você mudar de ideia. - puxou o freio de mão com força.

Eu fiquei olhando os movimentos dela sem entender; primeiro o freio de mão, depois tirou o cinto e em seguida pulou pro meu banco, ficando bem em cima de mim.

- Delegada, é sério... Eu não aguento mais transar, meu pau tá até torto de tanto ver buceta. Eu não vou ficar revezando xota não.

- Ah você vai transar comigo, nem que seja pela última vez!

Isso era assédio... Mas não que eu não quisesse, só que eu tava tentando começar pelo jeito certo, né?

- Não vou, Sandra! - segurei suas mãos e puxei minha cabeça, antes que acontecesse o beijo.

- É sério? - ela travou e ficou me olhando. - Não acredito que você realmente goste dessa garota.

- É, eu gosto. - soltei as mãos dela. - E tô disposto a fazer esse bagulho entre eu e ela funcionar.

Ela saiu de cima de mim e voltou pro banco dela, ficou parada olhando pra frente por alguns segundos, voltou a colocar o cinto e me encarou.

- Desce do meu carro.

- É isso.

Eu desci e fechei a porta, em seguida chutei a Blazer velha e pude ver ela acelerando caminho a fora.
Agora, alguém pode me falar que merda foi essa?
Não, fala sério... Tudo andando tão direito na minha vida, ou tudo começando direito, mas ela tinha que estragar minha vida, né? DE NOVO, ela tinha que estragar minha vida.
Oh mulherzinha, viu.

- O que ela fez? - CG disse indignado, segurando sua latinha em uma mão e um baseado na outra.

- Mano, foi isso aí. - Rato fez cara de espanto.

- Se a filha for assim, eu tô é fodido.

CG riu do sofá velho, eu estava apoiado na janela e com os braços cruzados, ainda em choque. Rato estava sentado na antiga cadeira que Patrick gostava, aquela que uma vez eu mandei nele num chute só.

- Eu queria saber o que esse moleque passa no pau... Não é normal. - CG riu e Rato acompanhou.

- Eu não consigo nem achar graça, de tão assustado que eu tô. - fiz uma careta.

- Bebe mais que você ainda tá sóbrio! - CG continuava rindo.

- Eu tô me abrindo aqui, mano. - estiquei as mãos e levantei os ombros em sinal de preocupação.

- Fala aí. - CG parou de rir e se endireitou no sofá.

- O que eu faço da minha vida? - Rato me olhou com as sobrancelhas erguidas.

- Cara... Sinceramente? - Rato respirou fundo e me encarou. - Eu não queria ser você... Eu nem sei qual conselho te dar, cê tá na merda, velho.

- Se te consola. - CG interrompeu. - São duas gostosas... Qualquer decisão, vai tá de bom tamanho e muita areia pro seu caminhão!

- Eh que beleza de conselho, em... Mudou minha vida. Vocês são uns fofos!

Virei mais um copo de cerveja.
Eu precisava fazer alguma coisa mesmo ou a decisão que eu tinha tomado com Natacha já estava de bom tamanho?
Minha cabeça tava martelando! Eu tinha um fogo na delegada que era fora do normal, era um bagulho que eu não sabia explicar. Se for parar pra anilisar mesmo, eu tinha tudo pra dar certo com a delegada; era mais velha e era meu oposto. Tem aquela frase lá que os opostos se atraem, então, não sei o que tinha de errado nisso tudo!
Agora, tinha Natacha; bem mais nova do que eu tava acostumado a sair e era muito igual a mim! Não sei como isso podia dar certo, pessoas iguais não cabem no mesmo espaço.

- Cheguei. - anunciei entrando em casa, já era tarde.

Fui de mansinho até o quarto e pude ver Natacha dormindo, ela realmente parecia um anjo. Tirei os sapatos com delicadeza, joguei o casaco em cima do cabideiro e deitei tão devagar que a cama nem rangeu.
O sono dela era bem pesado, me mexi bastante até conseguir me ajeitar.
Estiquei o corpo do seu lado e senti sua mão na minha barriga.

- Oi. - sussurrou de olhos fechados. - Que bom que você tá aqui... Agora tô segura.

EU VIM DA RUA - MC Kevin (Kevin Bueno)Where stories live. Discover now