Lucky: e o Coelho da Sorte

Episódio dois: Vidente

— Hum, obrigado.

— Deixe eu terminar — ela me repreendeu, apontando um dedo para o meu rosto num sinal claro pra eu calar a boca — Você conseguiu muita coisa, nós conseguimos, muito mais do que a gente esperava enquanto contava moedas nos fundos da loja do papai pra ter como pagar o ônibus. O universo sorriu pra você. Eu só acho que devia fazer alguma coisa, porque mais tarde isso pode ser cobrado, então vai ficar com aquele sentimento de que poderia ter feito coisas incríveis e nunca fez.

— Você... — eu franzi a testa ao encará-la — Você tomou alguma coisa de manhã antes de sair?

— Não? — disse, confusa.

— Meus amigos são do tipo que falam coisas idiotas e não ficam dando conselhos pra minha vida. Provavelmente a única coisa idiota disso tudo é seu próprio conselho.

— Vai se foder, garoto. E eu sou sua única amiga. Além do Jin. Mas ele não conta porque é meu irmão e vivemos na mesma casa. E ele trabalha pra você.

— Primeiro ponto, você também trabalha pra mim — lembrei-a, apesar de que JiSoo era gerente da empresa, não exatamente a minha gerente — E segundo, tá dizendo que aquelas duas outras pestes que coloco dentro de casa não são meus amigos?

— Bom, Hoseok não tem porque pensar num conselho desses. Ele é o que mais trabalha da equipe e mal te vê. A Heejin tem 13 anos, ela só concorda com tudo o que dizemos. E o Jin... a gente tenta né? — ri baixo, mesmo sem entender o que ela queria dizer, mas o tom foi engraçado — Então sou a única pessoa que deve se levar a sério da equipe — soltei uma risada irônica, mas calei logo em seguida quando JiSoo me olhou sério.

Apesar de tudo que eu dizia, deixá-la com raiva nunca era uma boa ideia.

— Desculpe, noona.

— Tá, tanto faz. Eu 'tô' com fome. Eu quero uma pizza — ressaltou e me interrompeu antes que eu dissesse qualquer coisa — Você paga, eu não trouxe cartão.

— Você nunca traz.

— Talvez se você gastar mais dinheiro comigo ser rico deixe de ser... — suspirou teatralmente — Frustrante.

Eu juro aos deuses que ia responder. Eu só não pensei em nada decente naquele momento.

Puxei o celular novamente enquanto a seguia para praça de alimentação, quase todos os seguranças partiram para o estacionamento guardar minhas compras, somente um deles ficou, eu acho que era o Lee nº1. Todos os seguranças chamavam-se Lee para eu não esquecer o nome deles, mas isso não foi ideia minha, Jin-hyung só não queria que eu forçasse minha memória.

A pizza que JiSoo pediu chegou em menos de trinta minutos, - eu nem vi quando ela fez o pedido pra começo de conversa - e tinha de admitir que tinha uma aparência boa.

— Duas fatias no máximo! Uma e meia se tiver qualquer carne nela — ela lembrou antes mesmo que eu pegasse o primeiro pedaço — Você está de dieta.

— O que? Mas... mas... — olhei para a pizza, olhei pra Jisoo, olhei pra pizza de novo. Tinha quase certeza que a pizza me olhou de volta — Noona... — choraminguei. Dois pedaços pro almoço todo? Eu era um cara grande, ia desmaiar antes do fim do dia.

— Não vem com noona pra cima de mim. Dois pedaços, Taehyung.

Grunhi entredentes. Odiava dietas de pré-comeback.

— Vou buscar batatinhas — ao menos eu podia comê-las mais tarde.

— Pode pegar pra mim também? Ah, e pra você tem de ser light. E o menor pacote também, você tem de perder dois quilos antes do fim do mês — ela bebeu o refrigerante despreocupada, pegando uma fatia enorme. O universo às vezes não sorria tão largo pra mim assim.