. octagésimo

339 22 13
                                    

   O som ainda ecoava na minha cabeça. A verdade é que nunca sabemos realmente o que pode acontecer connosco quando somos atropelados por um camião de tonelada, sendo obviamente, uma analogia. 

   Eu estava encostado ao carro, com braços cruzados, sem poder ou forças e olhos apontados para o rosa. Este era um dos seus lugares preferidos. Havia muito barulho e muitas pessoas aqui e ali. 

   Eu olhei para o outro lado da rua, para a loja onde eu iria acabar a comparar-lhe um granizado de frutos vermelhos ou simplesmente gomas.  Ela não teria que pedir duas vezes, nem fazer o seu beicinho para mim. Qualquer pedido seu eu concretizaria. Amava-a com o meu coração, mas mais do que isso, com a minha alma. E agora estava sem ela, por fim, sem a minha alma, sem ela. 

   Os meus olhos fitaram um nível abaixo, para onde ela estaria. Bárbara tinha o vício de se sentar sobre o capô e eu odiava isso. Criava moças pequenas e ela sabia-o, mas fazia-o por hábito. Agora eu queria que fizesse mais moças enquanto se ajustava para ficar confortável. 

   Vi o cor de rosa transformar-se em roxo lentamente pela periferia enquanto continuava a olhar para baixo, para onde a poderia encontrar noutros tempos. Senti a necessidade de me curvar perante o fantasma da sua presença. Os meus olhos fecharam e a cabeça inclinou ligeiramente. Quase pude senti-la ali, naquele momento, àquela distância ridiculamente mínima.  Ela iria agradecer-me por estar aqui com ela, que me amava daqui à lua e eu iria retribuir com um exagero desmedido que era perfeito para o momento. À medida que abria os olhos para descobrir que a Bárbara não estava aqui, eu pensava melhor em alguns momentos nossos.

   Eu fechei o punho antes de acertar no lugar vazio que devia, sem dúvida alguma, estar preenchido. Então, uma mão gelada comprimiu o meu ombro acordado-me para a realidade.

   " Acho que temos que ir "

   Abanei a cabeça com algum receio. "Tenho mesmo de ir?" Perguntei-lhe como um pequeno irresponsável.

   " Tu és o responsável por ela, tu dás a ordem.." Parecia receoso ao dizê-lo, como se eu estivesse pronto para matar alguém, como se estivesse apenas à espera de uma desculpa para o fazer. 

   Eu passei por um momento difícil naquele instante. Ser o contacto de emergência da Bárbara tinha-me sobrecarregado com uma das mais penosas decisões da minha vida. A única que eu não queria tomar, aquela que eu queria que ninguém tomasse. 

   O solo do hospital que pisava não fazia os meus passos ecoarem enquanto eu tinha a certeza que podia percorrer todos estes corredores com os olhos fechados. 

   Então eu dei o passo para dentro do quarto, com o médico a segurar a porta para a minha entrada.  O ar parecia mais expeço, pesado; os meus olhos irritados, irradiados de vermelho irritante e óbvio. 

   Havia demasiada gente dentro do quarto, em volta dela, mas isto devia de ser um momento só meu, só nosso. Talvez porque eu sabia que seria o último. 

   Todos eles se reajustaram para que eu pudesse vê-la. A cor na sua cara parcialmente esbatida, lábios arroxeados e secos; este era o pior retrato que eu já pude ver dela. Mas ao mesmo tempo, se esta era o último, eu iria ficar horas a vê-la. 

   No momento em que me aproximei o suficiente para puder cheirá-la, sentir o pouco calor que emanava, o aniversário da Bella correu no fundo da minha cabeça:

   "Harry, Harry.." Eles estavam a leva-la numa maca, a correr em direção às escadas, a escapar por entre os meus dedos enquanto eu cegava lentamente e atravessava o recinto, ultrapassando cada polícia que me poderia imobilizar. 

   Eu nunca tinha visto tanto vermelho enquanto o calor queimava a minha pele de dentro para fora. Então quando tive a oportunidade, eu atirei-me e agarrei-a pelas minhas mãos atirando-a contra o muro de tijolos. Acho que pude ouvir os seus ossos estalarem antes de ela bater contra o chão. 

   Mas não era o suficiente - Dizia-me uma voz no fundo da minha mente e eu concordava antes mesmo de a ouvir.  

  Os meus dedos contornaram o seu pescoço e eu elevei-a contra a parede, ouvindo a confusão a correr atrás de mim, a uns metros de distância. 
   Então ela sorriu abertamente, com uma sobrancelha aberta e o braço potencialmente partido. Eu perguntei-lhe se era louca, com os pulmões cheios de ira e os músculos com vontade de flexionar. Disse-lhe que a ia matar e acreditava em cada letra que caia da minha boca. 

   Eu fui impedido, porém. 

   Dois braços seguraram-me e eles derrubaram-me no chão em segundos apenas, surpreendendo-me, mas não tanto como as palavras que ela proferiu. 

   "Era a Bella, mas ver a Bárbara cair foi tão glorioso Harry"  Abby gabou.

   Tudo nela rasgou a minha sanidade.

   Horas depois, sem qualquer acusação por parte da polícia, eu esperava que a Bárbara saísse da sala de operações, mas não esperava que não recuperasse a consciência até hoje. Depois de poucos dias o seu sistema começou a falhar e a equipa médica decidiu ligá-la às máquinas de suporte básico. As notícias não poderiam ser menos positivas e eu não conseguia acordar e olhar para o ar esperançoso da Bella sem que a raiva subisse até à minha cabeça. Não estava frustrado com ela; eu apenas não conseguia corresponder à sua mentalidade. A B era a positiva de nós os dois. Então a Bella ficava com o Louis e com a Eleanor, pelo menos por agora. E eu sabia que ela precisava de mim, só não conseguia ser o que era melhor para ela no momento. 

   "Esperamos o seu comando" O médico responsável disse, com as mãos juntas na frente do seu corpo; com a cabeça inclinada para baixo em condescendência. 

   Isto nem parecia uma despedida. Não queria que a fosse, não queria ter que decidir que este era o momento em que ela deixava-nos, que tínhamos que desligar as máquinas agora; e ao meu comando. 

   Foi no momento de realização superior que eu me desfiz psicologicamente. A minha cabeça bateu contra o seu peito e eu apercebi-me que ainda conseguia sofrer mais um pouco, chorar mais um rio, criar mais um mar com o medo e saudade que eu já podia sentir dela. 

   "Isto não parece certo" Eu ouvi alguém lamentar. Mas como poderia eles saber o suficiente para o dizer? Estavam todos aqui menos a Bella, até a sua mãe. Era ridículo na realidade. 

   E eu fiquei ali, prostrado, preso pela sua mão, mas à deriva na mente. Tinha a perfeita noção que perdê-la significava perder-me a mim também. Eu só não sabia o que fazer para ser o que a Bella precisava que eu fosse a partir de agora. 

   Mas então, eu estava farto dos murmúrios que cresciam na parte de trás das minhas costas, por todos os presentes ou apenas alguns e por isso ergui-me; a minha mão ainda na sua, os nossos aneis a pressionarem-se um no outro.

   " Vão em frente..."

   "Desliguem" As palavras rasgaram os meus pulmões e garganta até à saída mais próxima e numa fração de segundos as máquinas começaram a apitar de forma ensurdecedora.


 Note_

    Hello sweeties... Tristes comigo? Espero mesmo que não! Aqui está o capítulo que provavelmente estavam à espera...

Só falta um para vir, espero que ainda leiam apesar do desfecho...

PF deixem-me a vossa opinião!!

Adorei escrever para vocês desde o primeiro dia <3

Com todo o amor,

B xx

CUSM: Save Bella .Onde as histórias ganham vida. Descobre agora