. septuagésimo

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   O meu corpo escorregou dos seus braços até ao sofá e eu não podia admitir que sentia os meus músculos doridos porque nem o meu corpo me parecia pertencer.

   Havia um cheiro a lavanda por todo o lado mas eu não abri os olhos para me orientar, estive a ser transportada, era confortável. 

   " Tu encontraste-me " Gracejei num tom arrastado, ainda de olhos fechados. 

   Ele suspirou. " Parece que sim " Então senti o sofá afundar.

   " Fixe! " Eu puxei os meus polegares para cima, tal como o meu sorriso. 

   Eu podia sentir que estava ligeramente embriagada, mas estava bem. 

   " A tua casa é muito escura " 

   " Talvez se abrisses os olhos.. " Deixou as palavras no ar e ele parecia entusiasmado.

   Eu desmanchei a minha personalidade numa gargalhada bêbada e então abri os olhos, encontrando o bonito sorriso de Christian a pouca distância. Ele estava à minha frente, de joelhos fletitos e braços estendidos de forma a encurralar-me entre eles.

   Eu tinha um sorriso estampado na cara mas ele não era pelo homem que estava diante de mim. Acho que a bebida era a razão.

   " estou tonta "
  
   " és tonta " gracejou e eu não posso explicar se foi pela proteção que a sua aura emanava, pelo sorriso que acompanhava ou sequer pela bebida, mas agora, com esta mistura de tudo, eu acabei por saltar do meu lugar e colar os meus lábios nos seus.

   Eu tinha os meus olhos cerrados com força porque, acho, não tinha nada disto planeado nem desejava uma relação com ele. Mas nos últimas tempos ele tinha me ajudado. Foi a procura por um apartamento, a forma como se dispunha a ir buscar a Bella quando eu tinha trabalho a mais para fazer. Ele estava a fazer o trabalho do Harry mesmo que eu soubesse que nunca iria amar alguém como o amei a ele.

   Eu recuei, quase à velocidade da luz, colocando a mão sobre a boca. Ele levantou-se tão, ou mais, rápido que eu. Parecia desconfortável e isso deixou-me confusa. Então eu finalmente me apercebi e comecei a hiperventilar.

   O meu coração caiu abaixo do sofá, abaixo do andar em que estávamos. Eu suspirei ao encontrar, manchada, a silhueta de Harry.
   Era estranho vê-lo tão calmo dada a situação. Da Ponta do sofá, eu conseguia ouvir o suspiro que o Harry libertou. Era pesado e continha muita coisa, mas foi só essa reação.

   O meu cérebro embriagado não raciocionou os vários minutos que passaram. O Christian afastou-se, trocou alguma palavras com o Harry e depois, pouco antes de sair pela porta fora, desceu até ao meu nível de visão para deixar um beijo na minha testa.

   Agora eu estava sozinha com o Harry e a minha postura estava congelada, igual à de uns minutos atrás.

   Ele estava a uma distância aceitável, nem se ambos esticassemos os braços nos tocariamos. Os seus olhos colados em mim, a sua expressão implacável e ar superior.

   Parecia gostar de me ver estática. Sentia-me uma estranha na casa que já foi minha. E o olhar dele repreendia-me no silêncio.

   Então e por fim, ele levantou-se e aproximou -se. Não havia cuidado ou carinho nas suas ações ou palavras enquanto ele me dizia para eu me levantar e me guiava, pelo braço, até ao quarto principal. Eu senti-me como uma pequena adolescente que tinha saído sem a autorização dos pais e tinha abusado da bebida.

   Ele não me sentou na cama, ele praticamente atirou-me para lá. Parecia remessar um objeto sem importância, mas eu estava muito envergonhada para me fazer ouvir.

   "Veste isto" balbuciou, depois de se baixar até à poltrona no canto da cama. Era a camisola que lhe faltava no tronco e eu sabia disso pq cheirava a mais que detergente, tinha também o seu cheiro normal.

   Eu estava quase a ser idiota e vestir, mas neguei, atirando a camisola de volta para ele, num movimento não muito bem pensado.  

   "Tu é que sabes como queres dormir" disse-o desinteressado.

   "Podes me dar uma das camisolas que deixei cá?"

   "Qual é o problema da minha camisola?"

   "É tua"

   "És uma idiota" ele disparou rudemente, ocupando-se a fechar o armário.

   "Ok" eu disse, mas não pensei realmente sobre o que queria dizer.

   "Dormes na cama, eu durmo no chão" não me deixou argumentar ou sequer pedir por algo mais e então eu vi-o movimentar-se pelo quarto com um bando de cobertores e cobertas. Ele improvisou uma cama em pouco tempo e deitou-se depois, não me dirigindo uma única palavra.

   Então eu fiquei durante alguns minutos bêbados a olhar para os meus pés, a pensar como e quando iria libertar os meus pés.

   Eu estava à espera que ele a qualquer momento se levantasse e me ajudasse, mas isso não aconteceu e eu acabei por ter que me preparar para a cama sozinha.

   Quando deitei a cabeça na sua almofada eu sorri ligeiramente ao encontrar, pelo canto do olho, o seu olhar preso na minha presença.

   Eu murmurei-lhe uma boa noite e ele revirou os olhos, mudando a sua posição, ficando no fim de costas para mim.

   O meu corpo fervia e eu estava exausta. Queria dormir mas o zumbido da música da discoteca fazia a minha cabeça doer demasiado e passaram-se vários minutos, mas comecei a cantarolar, seguindo o zumbido estranho.

   "Bárbara" ele resmungou, eu olhei para as horas: 5.40 am.

   "Eu não consigo dormir"

   "Eu não tenho nada a ver c isso" cuspiu.

   " Qual é o teu problema?" Eu perguntei com os olhos no teto fixos.

   "Tu beijaste um gajo no meio da minha sala, eu só quero que cures a tua merda de embriaguez para poderes sair daqui"

   Eu quase pude sentir o rancor das suas palavras rasgarem a minha pele. Eu sabia que não tinha estado bem, mas eu também não tinha pedido ao Christian que me trouxesse para cá.

   "Por que é que ele me trouxe para cá, sequer?"

   Houve um silencia mortal por algum tempo. No entanto, eu sabia que ele estava acordado, a sua respiração forte poderia até chegar ao quarto onde a pequena Bella dormia, a umas quantas paredes espessas de distância.

   "Tu pediste-lhe"

Nota: olá fofinhas!! Aqui está mais um cap. Desculpem a demora mas tive em exames e tals!
Muito amor,
Bárbara xo 💞

CUSM: Save Bella .Onde as histórias ganham vida. Descobre agora