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Corri para meu quarto onde estavam as minhas coisas, peguei minha mochila e coloquei umas roupas ali dentro meu tênis e minha maleta com meu violino antigo, aquela mulher odiosa que se dizia minha mãe não parava de gritar, quando eu ia saindo do quarto meu pai me estendeu a mão com um bolinho de dinheiro.

-É tudo que tenho em mãos, agora vá!

Quando fui abraça-lo ele se afastou.

-Eu não vou machuca-lo... tudo bem, obrigado por tudo seu João!

Então sai dali o mais rápido que pude, sem olhar para trás, por ruas que não conhecia, entrei numa viela onde pude parar para respirar e chorar, não sei nem onde estou e nem como chegar em algum lugar, calma Lóla, calma, pensei para mim mesma, escondi uma parte do dinheiro no sutiã e a outra parte na mochila, caminhei mais umas quadras até conseguir informações de como chegar na rodoviária, chegando lá meu dinheiro dava para ir até salvador.

-Preciso do seu documento –disse a atendente que pegou minha identidade e me olhou desconfiada –Você não está fugindo de casa não né?

-To hehehe brincadeira, eu vim com meus amigos, eu sou musicista e vim para um festival de música!

-Tudo bem vou confiar em você!

-Obrigada!

Ela imprimiu a passagem e me deu uma boa viagem, o ônibus saia dali a duas horas, fui até uma livraria que tinha lá dentro da rodoviária, comprei um livro, um caderno e duas canetas, entrei em uma conveniência e comprei umas guloseimas, depois fui em um telefone público liguei para a casa da Luna depois para Ben chamou até cair, o que será que estava acontecendo. Já no ônibus com a mente vazia comecei a escrever uma carta para eles contando tudo o que havia acontecido, depois pensei melhor e resolvi passar por minhas aprovações sozinha, então reescrevi a carta para os dois, escrevendo que eu estava bem e com saudades, não quis deixar eles preocupados, lembrei das sabias palavras da tia ''se não cumprimos nossas aprovações quando nos foi dada, um dia teremos que cumpri-las e serão maiores''. Sabe aquela expressão quem tem boca vai a Roma, pois ela é verdadeira, chegando em salvador fui ao correio e enviei a carta, na volta passei por uma praça onde vi uns hippies, um deles estava fazendo uns dreads numa moça de cabelo azul, fui conversar com eles, perguntei como eles conseguiam dormir na rua, viajar, essas coisas, eles estavam vindo de um retiro espiritual, um deles chamado Gui que era muito mais desenvolvido espiritualmente que os outros me deu muitas dicas enquanto trançava os dreads da menina, ele me convidou para ficar com eles depois de contar a ele uma parte do que havia acontecido comigo, a jornada deles ia nos levar a São Paulo, eles vivem da venda da arte deles, e é com esse dinheiro que eles viajam e comem, muitas vezes conseguem carona ou vão à pé, as vezes conseguem juntar para pegar um ônibus, são poucos os que dão carona, acho que é por causa dos dreads que nada mais é do que desapego, quando a noite chegou a praça estava cheia de pessoas, então o Gui chegou pra mim e disse;

-Você também pode vender a sua arte!

Ele pegou minha maleta com o violino velho e me alcançou, olhei pra ele com dúvida.

-Essa arte!-disse ele.

Abri a maleta, terei o arco e passei o breu, peguei o violino arrumei as cordas, afinei, enquanto isso o Gui pegou o estojo vazia e abriu mais à frente de onde estávamos e fez uma plaquinha dizendo.

{colabore se sentir alegria em seu coração}

Ele pegou meus punhos e olhou nos meus olhos.

-Toque com o coração!

-Meu coração deixei com alguém!

-Então feche os olhos e toque pensando nesse alguém!

Fez sentido, assenti, me posicionei atrás do estojo, fechei os olhos e em pensamento viajei até a campina, primeiro toquei para Luna e depois para Ben, deixei que a música me levasse até eles, pensei nos momentos mágicos que passei com Ben, toquei sem parar até meus dedos doerem, quando abri os olhos havia uma multidão aplaudindo na minha volta, meu estojo cheio de dinheiro, eu me curvei em agradecimento, uma senhora que estava muito emocionada, colocou um dinheiro amassado na minha mão e me abraçou –Obrigado querida!- eu a abracei e depois que todos se foram, olhei pasma pro Gui que me abraçou silencioso, eu nunca tinha vivido algo igual, eu precisava passar um tempo com eles, meu estômago roncou e eu olhei pros guris.

-E aí o que querem comer, hoje é por minha conta!

Nossa amizade se estendeu , fiquei com eles por um bom tempo, na verdade quase um ano, uns partiram outros se juntaram a nós, todos eram bem-vindos, mas o Gui e eu continuávamos juntos, ele me ensinou muitas coisas, comemoramos meu aniversário numa praia, ganhei dreads e uma jaqueta de couro preta que eu tinha visto em um brechó, pintei uma parte dos meus dreads de azul.

Estávamos em São Paulo, aquele lugar me dava arrepios, mas me sentia segura enquanto andava com o Gui, ele tinha um namorado em São Paulo onde eu fiquei como convidada os outros seguiram caminho, o namorado dele foi trabalhar e nos saímos para explorar a cidade, ao entardecer fomos a um mercadinho pegamos algumas coisas e na volta para a casa do namorado dele, passamos por uma rua meio escura, tudo trancado mas seguimos conversando.

-... eu não sei o que faço Lóla, ele quer casar comigo, mas...

-Você o ama?

-Amo, mas não sei se estou pronto para encerrar minha jornada, tenho tanto pra ver e aprender!

Enquanto conversávamos, quatro homens vinham dobrando a esquina à nossa frente, Gui enfiou o braço no meu e sussurrou;

-Vamos dar volta, são muitos e não estão lúcidos!

Assenti com a cabeça e demos volta, eles começaram a gritar;

-Onde as mocinhas estão indo?

-Ei não fiquem com medo!

-Não vamos morder!

Então o Gui me falou.

–Corre que eu os distraio!

-Se vocês correrem estarão mortos antes de chegar a esquina!

Meu coração estava na boca, vi o medo nos olhos dele e isso me deu coragem para defende-los, eu não deixaria nada acontecer com ele, nãodepois dele ter me estendido a mão quando eu mais precisei.

Os Descendentes 1 - revelaçõesDonde viven las historias. Descúbrelo ahora