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Bati mais palmas, então ela pigarreou, sorriu pra mim e arrumou o violino apertando-o com o queixo, respirou fundo, fechou os olhos e começou a tocar, ela praticamente flutuava, era um momento nosso de muita paz, apesar de meus gostos musicais serem Rock, Metal, Reggae eu sou a fã número um dela, são músicas que acalmam a alma, os cabelos preto dela pareciam ganhar vida com a brisa, fechei os olhos para apreciar melhor a música, minhas mãos estavam espalmadas no chão sentindo o solo, senti o trote de um cavalo que não era Raio, abri os olhos e era um rapaz em um cavalo baio, o cabelo era pouca coisa mais escura que o loiro do meu cabelo, fez um gesto com a mão para que eu não falasse nada, devia ser conhecido dela, ele tirou uma bolsinha na lateral da cela do cavalo, e tirou 3 partes metálicas e o montou rapidamente, era uma flauta transversal, ele caminhou até o lado dela e começou a acompanhar a melodia dela, ela abriu os olhos, não pararam de tocar, os olhos deles se fixaram um no outro, a melodia ficou mais intensa assim que ela abriu um lindo sorriso pra ele, me senti segurando vela, mas fiquei ali hipnotizada com o momento, então a música foi se acalmando até que parou, bati palmas e assoviei para eles, os dois se curvaram para mim, depois o rapaz se virou para ela, pegou sua mão e a beijou como um cavalheiro.

Lóla ficou com o rosto vermelho, ele olhou nos olhos dela e disse:

—Foi um prazer tocar com você!

Lóla como sempre brincalhona pôs as pernas cruzadas e segurando a camisa xadrez amarrada na cintura, como se fosse um vestido se abaixou um pouco reverenciando.

—O prazer foi meu!

Ainda segurando sua mão e sem tirar os olhos dela ele, se apresentou.

—Benjamin, mas pode me chamar de Ben!

—Lóla!

Tive que pigarrear e ir até eles, para eles acordarem.

—Está é minha irmã de coração, Luna ou melhor Ana Lua!

—Prazer em conhece-la Ana!

No momento em que ele apertou minha mão tive a impressão de que conhecia ele de algum lugar.

—Pode me chamar de Luna, jurei que vocês já se conheciam!

—Não, eu sou novo aqui, meu pai está olhando umas terras por aqui para comprar, vamos abrir uma escola de equitação!

—Legal! –falei.

—E aí, vamos tocar mais uma?

—Com muito prazer senhorita!

—De que século você é Ben?

Revirei os olhos, lá vinha ela com sua paixão por personagens de livros, tentando achar em algum garoto o seu personagem favorito.

—Ah... isso é um segredo que você vai ter que descobrir!

Rimos, Ben era engraçado, simpático e educado.

—Você sabe ler partitura?

—Claro!

Lóla alcançou um dos meus desenhos com uma partitura que anotou em cima, eu gosto de desenha-la e Raio também, principalmente quando não tenho nada para fazer em dia de chuva e Lóla adora usar meus desenhos para escrever suas músicas, porque segundo ela deixa a música mais bonita até quando não está sendo tocada, ele pegou e leu rapidamente.

—Desenho bonito!

—Luna quem fez!

—Parabéns Luna, você desenha bem!

—Obrigado!

Largou o papel dentro da maleta do violino, ele começou a melodia e ela o seguiu, era como se um completasse o outro, eu não sei o que era que estava acontecendo ali, mas era intenso, de repente ela parou do nada no meio da música, fiquei confusa, ela estava com um olhar de preocupação.

—Benjamin, por favor, não me leve a mal, mas se seu pai estava olhando umas terras para comprar, o que você está fazendo aqui?

—Meu pai veio fechar negócio com o seu João e...

—Como assim? Ele pôs à venda e não me comunicou? Luna me ajuda aqui!

Ela começou a tremer e guardou o violino com lágrimas de raiva escorrendo pelo rosto.

—Me perdoa, eu não sabia ...

—Tudo bem, não é culpa sua, eu que peço desculpas, vamos Luna!

—Calma Lóla, deve ser um mal-entendido!

—Como pode ser um mal-entendido Luna, você o ouviu!

Raio já estava do meu lado, montei e puxei a Lóla que não conseguia nem enxergar de tanta lágrima que escorria.

—Vou com vocês!

Raio estava nervoso, então deixei que ele corresse, ele disparou deixando Ben para trás, eu só sentia minha roupa molhar e os soluços dela em minhas costas, chegando na frente da casa, ela pulou da garupa antes mesmo de Raio parar, nunca tinha visto ela desse jeito, ela entrou gritando, eu não sai de cima de Raio, Ben chegou logo em seguida e me olhou assustado.

—O que eu fiz?!

Falou se lamentando.

—Você não fez nada, a culpa não é sua, ela está se sentindo traída!

Ficamos do lado de fora ouvindo os gritos, eu estava louca para ir embora, aquele não era um clima que me agradasse, mas não a deixaria para trás, nunca, conhecendo-a, ela iria sair dali correndo a qualquer momento, por fim ouvi-a gritando.

—Eu não vou ir com vocês!

—Você ainda é menor de idade e nos deve obediência!

—Pode dar adeus a sua amiguinha, você tem três dias para isso!

—Grrrraaaa !

Ela gritou e como eu já sabia ela saiu correndo e eu a segui puxando a para minha garupa, e a levei para minha casa, ela não falou nada em todo o caminho, apenas chorou, quando chegamos em frente à casa grande ela parecia uma estátua agarrada em mim.

—Venha, vamos entrar!

Ela não falou nada, apenas escorregou sem vontade, fomos para a cozinha, ela se sentou com os olhos perdidos em seus pensamentos, fui pegar um copo de água, quando tia Sol entrou pela porta com os braços cheios de manjericão, largou na pia, sentou-se à sua frente, segurou a mão dela.

—O que houve minha criança?

—Meus pais venderam a fazenda e estão me arrancando daqui junto com eles!

—Minha querida...

—Eu não quero ir tia Sol, não quero, aqui é meu lar eu sinto aqui dentro do meu peito que aqui é meu lugar!

Eu larguei o copo na frente dela e me sentei do lado delas, eu estava meio que em estado de choque eu ia perder minha irmã, eu não sabia o que dizer ou fazer.

—Me ouça querida, você deve ir com eles, mas quando você completar maior idade e se sentir pronta você pode voltar, um ano e meio não demora muito a passar!

—Eu não queria me afastar de vocês, é como se meus pais fossem estranhos e vocês minha família!

Reuni forças e com dor no coração falei;

—Lóla, aqui é minha casa e a sua também, eu vou estar aqui te esperando quando tudo isso acabar, vamos seguir nossos planos e deletar essa fase ruim, está bem?

—Tá bem! -falou com um sorriso sem graça.

Ter que dizer aquilo pra ela me doeu pra caramba, mas até ela fazer 18 anos, eles ainda têm direito sobre ela, eu vou sentir muita falta dela.

A tia fez uns mafins e chocolate quente, ela deu uma mordida no bolinho suspirou e disse;

—Eu vou ser forte e esperar, o que é um ano e meio para quem vai passar o resto da vida com vocês!

—Sempre estaremos aqui te esperando de braços abertos!-falou tia Sol.

—Eu contarei os dias e as horas para você voltar!

—Eu também minha irmã... eu também!  

Os Descendentes 1 - revelaçõesWhere stories live. Discover now