PRÓLOGO

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                        Quando as nuvens cinzas sumiam, os passarinhos começavam a cantar mais alto e o dia a nascer mais cedo, significava que o verão havia chegado a Tetbury, uma pequena cidadezinha paroquial que ficava no condado de Gloucestershire, Inglaterra. Com uma área de exatamente 1,95 km² e cerca de cinco mil e quatrocentos habitantes, havia poucas chances de acontecer algo extremamente emocionante naquele verão, porque desde que Molly se lembrava de algo, todos os verões em Tetbury eram os mesmos.

Nunca tinha nada para fazer, ela ficava entediada em casa, de vez em quando o carro do sorvete passava e ela comprava um para si, nas sextas havia o cinema ao ar livre, mas só tinham duas opções de filme então meio que não adiantava de nada. Se Molly tivesse que assistir Funny Girl ou Lagoa Azul outra vez ela entraria em colapso. Ela precisava muito se divertir naquelas férias! Ela queria escrever algo diferente na redação de volta as aulas, as pessoas sentiam pena dela quando o mais empolgante era o carregamento de livros novos no sebo da igreja.

Porque a verdade era que as poucas das aventuras que Molly Hammond havia saboreado naquela vida, haviam sido aventuras de outras pessoas e elas estavam relatadas muitas vezes nos papéis amarelados das doações de livros que chegavam ao sebo da igreja. E embora ela amasse seus preciosos livros e tivesse pedido a Jackson para instalar uma prateleira nova em seu quarto, Molly naquele ano havia voltado para casa com uma promessa para si mesma: que ela não deixaria aquele verão ser como os outros, ela lutaria com unhas e dentes contra o tédio e a procrastinação, tinha inclusive começado pela faxina em seu quarto.

- E aí, tem alguma coisa pra mim?

Scarlett Hammond apareceu na porta de seu quarto, com uma bandana amarrada a cabeça e um velho vestido manchado de água sanitária. Aquele era praticamente um uniforme para os dias de faxina, Molly também tinha o dela, mas ao contrário de sua mãe o dela era um short jeans e uma camisa de um gato tomando sorvete.

Inclusive, uma das missões de Molly naquele verão era convencer sua mãe que ela já tinha maturidade o bastante para ter um gato.

- Aqui. – Molly disse arrastando a grande sacola de lixo, amarrada cuidadosamente para que não abrisse ao carregá-la. – Eu não sabia que uma casa podia ter tanto entulho!

Com o cenho franzido em puro horror, a menina de treze anos encarou a quantidade de sacolas atrás de sua mãe. Algumas estavam com etiquetas que diziam lixo e outras diziam doações.

- Nós não chegamos no sótão ainda. – sua mãe disse em tom de lembrete.

Molly gemeu, reconsiderando ceder um lugar a procrastinação outra vez no verão. Faxinas eram legais, mas o sótão levaria os três meses inteiros e ela não queria perdê-los de molho numa cama por causa de sua rinite atacada.

- Por que nós não pagamos alguém? – perguntou com um fiapo de esperança. – Eu tenho um pouco da minha mesada, posso contribuir.

- Não, suas economias são especialmente para serem torradas em Londres, quando formos até lá para seu aniversário.

Molly sorriu empolgada, sentindo um pouco da ansiedade para o que aconteceria apenas dali um par de semanas.

É claro que ela já havia ido a Londres antes, mas dessa vez ela não iria a Londres, pularia dentro de um carro, visitaria os avós e os acompanharia em alguma festa chique. Não, não senhor, Molly visitaria cada um daqueles pontos turísticos que estavam pregados na parede de seu quarto.

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