Agora é o fim!

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_Acorda minha bela adormecida!
Marina me acorda fazendo me cosquinhas nas orelhas. Viro me para o outro lado.
_Anda... -ela me cutuca- vai ficar na cama o dia todo?
_Sim... -resmungo.
_Está um dia lindo lá fora...
Abro os olhos olhando para a janela.
Esse tempo ainda vai me deixar doida, cada dia de um jeito.
_Bom dia, -diz ela me beijando- feliz natal!
Resmungo estranhamente um 'feliz natal'. Ela ri puxando as minhas cobertas.
_Lá embaixo está uma bagunça, vamos tomar café aqui em cima... -coloca a bandeija ao meu lado.
Sento me.
_Humm, desse jeito você vai me deixar mal acostumada!
Ela fica me olhando por um bom tempo com aquele sorriso besta na cara.
_O que foi? -pergunto mordendo um pedaço do bolo que por sinal estava muito bom.
_Eu já disse que estou muito feliz por você estar aqui comigo?
_Já! Umas quinhentas mil vezes ontem a noite.
Ela riu alisando os cabelos.
_É, eu acho que bebi um pouco além da conta.
_Um pouco além da conta foi pouco! Estou surpresa que já esteja de pé primeiro do que eu.
Fui a primeira a dormir e a última a acordar.
_Olha que eu nem bebi muito e estou me sentindo um caco -completo.
Depois de tomarmos o café na cama, ficamos deitadas apreciando aquele belo momento do sol entrando pela janela iluminando o piso de madeira.
_Podemos ir embora mais cedo? -pergunto brincando com o botão da sua camisa.
_Por quê?
_Porque eu estou com pena da minha mãe por passar o natal sozinha sem eu lá pra ela me atormentar.
_Humm, que lindinha... -diz acomodando se em cima de mim- pode ser, depois vemos isso com calma...
Ela beija me movimentando seus quadris contra os meus deixando me com uma sensação gostosaembaixo.
_Vai trocar de roupa -diz se afastando depois de um tempo.
_O quê? -pergunto sentindo um vazio no meio das minhas pernas quando ela sai de cima de mim.
_Vai trocar de roupa para descermos, estão nos esperando.
Reviro os olhos.
_Isto eu entendi! É sério que você me acorda, me enche de carinho, me deixa com tesão e depois pula fora como se nada tivesse acontecido?
Parada na porta, Marina sorri piscando para mim.
_Te espero lá em baixo! -sai fechando a porta rapidamente sem me dar a chance de manda-la ir a merda.
Troco de roupa. De calcinha.
Mais ou menos apresentável, desço.
Porra!
Eu queria ter nascido nesta família. Genética é foda!
É uma paixão atrás da outra.
Cumprimento os dessa vez fazendo me à destruída para aqueles que eu já conheçia.
Nunca vi tanta gente assim na minha vida -mentira, já vi sim- e nunca vi tanta criança junta fazendo bagunça.
Ô povin que gosta de fazer mininu, viu!
E eu, como sempre, estou no meio delas ajudando a fazer a bagunça toda. Corremos pelo campo atrás das ovelhas, fugimos dos cachorros, fugimos da tal Maria, rolamos na grama, guerrinha de doces, pega-pega, pique-esconde...
Saio de fininho evitando os chiliques das mães ao verem seus filhos todos sujos, descabelados e os joelhos ralados. Finjo que nem os conheço.
Avisto Marina de longe conversando com alguém, aceno mandando um beijo para ela.
Mas além vejo seus pais conversando.
Lembro me da noite de ontem, a conversa estranha entre os dois.
Como eu fui idiota de esquecer?
_Preciso falar com você! -digo puxando Marina para um canto.
_Ei, o que foi?
Não digo nada até chegar em nosso quarto, fecho a porta atrás de mim.
_O que você está escondendo de mim?
_O quê?
_Não se faça de idiota, você me etendeu muito bem!
_Do quê você esta falando? Tô escondendo o quê de você?
_Eu é que te pergunto, o que você está escondendo de mim?
Marina suspira calmamente.
_O que te faz acreditar que eu estou escondendo alguma coisa de você?
Eu odeio o modo como ela diz as coisas com esse tom de voz, agora está explicado de onde veio isto, da tal Maria.
Respiro.
_Sem querer eu escutei os seus pais conversando, e a sua mãe disse 'ela devia contar e acabar com isto de uma vez por todas', aí o seu pai disse: 'sabe como ela é, né? Tem a quem puxar'... e depois o seu pai veio com um papo muito esquisito pra cima de mim dizendo que você se faz de durona, que é cabeça dura igual o pai e que você não aceita ajuda dos outros. Nisto a sua mãe tirou ele de perto de mim não deixando ele terminar de falar.
Marina tinha uma expressão séria em seu rosto.
_Deu pra ficar escutando as conversas dos outros agora?
_Foi sem querer e não venha jogar a culpa em mim. Me diz o que está havendo...
Ela se aproxima acariciando minhas bochechas.
_Eu não posso te dizer porque eu não sei o que está havendo.
_Sabe sim.
_Não, não sei. Quer que eu vou lá perguntar pra eles?
Bloqueio o seu caminho evitando que saísse do quarto.
_Não vou deixar você sair daqui pra você ganhar tempo para inventar uma desculpa.
Ela sorri cinicamente.
_Eu não vou inventar uma desculpa, Raquel, eu vou lá procurar saber o que está acontecendo, procurar saber do quê eu estou sendo acusada.
É claro que ela sabia o que estava acontecendo.
_Você é muito cínica, Marina! Por quê então você saiu sem me avisar quando chegamos? Nem se importou em saber como eu me sentiria perto de duas até então, completas estranhas. Quase ia fazendo a mesma coisa no outro dia se eu não fosse rápida, e ainda por cima me deixou sozinha para que eu me perdesse... pensando aqui agora, o seu pai tinha mesmo alguma consulta marcada? Ele me pareceu surpreso em saber dessa tal suposta consulta.
Faço uma pausa tomando fôlego.
_Eu não sou idiota Marina, você sabe muito bem o que está acontecendo!
Encaro a tentando analisar a sua reação ao ver que eu sabia a verdade. Quisera eu poder saber quando ela está mentindo assim como ela sabe quando eu estou. De fato eu não sou uma boa mentirosa, então assim fica fácil saber.
Ela suspira apoiando se em uma perna.
_Primeiro, eu não quis te acordar porque você estava cansada e realmente eu não pensei como você reageria sozinha com elas, me desculpe. Segundo, você se perdeu porque é teimosa, se tivesse me escutado e não ido muito longe, você não teria se perdido. Terceiro, você acredita se quiser, eu não vou ficar aqui tentando te convencer da verdade. Com licença! -diz passando por mim saindo do quarto.
Respiro fundo.
Eu sei que tem coisa, posso demorar a perceber, mas eu percebo. Se ela não quer me contar, então eu vou ter que perguntar para alguém que saíba.
Desço indo atrás do seu pai.
Antes de chegar nele, Marina me puxa pela cintura.
_Vem cá...
Eu vou sem protestar.
Passando pela cozinha, ela pega uma garrafa de vinho e uma vasilha cheia de salgadinhos. Vamos para os fundos.
_Para onde você está me levando? -pergunto ao perceber que estavamos nos afastando da casa.
_Calma...
_Tem a ver com o que você está me escondendo?
_Você vai ver.
Uma caminhada de cinco minutos numa pequena trilha adentrando à mata.
_Fecha os olhos - Marina me pede.
_Pra quê?
_É surpresa.
Fecho os meus olhos e damos mais alguns passos com ela me guiando na pequena trilha de cascalhos.
_Ela ainda não está pronta e como você quer ir embora antes do ano novo, vou te mostra-la assim mesmo... -diz Marina parando de andar- pode abrir os olhos!
Hesitante, abro meus olhos devagar tentando imaginar o que eu veria ali.
Nada do que eu imaginei era parecido com o que eu via.
Olho curiosa para Marina.
_Gostou? -pergunta.
_O quê é isto?
_Uma cabana, oras!
Como se eu não conhecesse uma cabana, né!?
_Gostou?
Dou de ombros, não sei responder.
Era uma pequena casa com as paredes e uma chaminé de pedra, a porta e as janelas em uma madeira avermelhada. Assim como na casa, pequenos vasos de flores pendurados na janela.
_O que isto tem a ver com o quê você está me escondendo? -pergunto.
Marina suspira.
_Vamos entrar! -diz indo na frente.
Eu vou atrás curiosa.
_Ainda falta instalar a rede elétrica, a rede de esgoto, o encanamento... -diz ela ascendendo um lampião colocando o em cima da mesa.
Não digo nada enquanto ela ia abrindo as janelas, aos poucos o cheiro da umidade ia saindo. A pouca iluminosidade ali revelava se um pequeno sofá ao lado de uma lareira, uma mesa onde ela colocou a garrafa e a vasilha, uma outra porta que estava fechada e uma pia sem torneira.
_Tem uma nascente de água aqui atrás... -continua Marina tentando ascender a lareira.
_E o quê isso tem a ver com o que você não quer me contar?
Ela me ignora continuando.
_... vamos usa-la para abastecer a caixa d'agua. Eu ia trazer você aqui quando estivesse tudo pronto, mas você quer ir embora mais cedo e também houve complicações na obra e não vão acabar no prazo estimado...
_E o quê isto tem a ver com o que você não quer me contar? -insisto.
_Isto!
Olho em volta sem entender.
_A cabana! -diz ela como se aquilo fosse muito óbvio- É isto que você acha que eu estou escondendo de você.
_Espera aí, há 10, 15 minutos atrás você disse que não sabia do quê eu estava falando, como que agora você vem dizer que é isto?
Ela revira os olhos pacientemente chegando mais perto.
_Eu perguntei a minha mãe o que meu pai queria te dizer.
_Por que não peguntou para ele?
_Por que ele não ia me contar, ele é cabeça dura.
_O que ele ia me contar?
_Ele ia te dizer que eu queria fazer uma surpresa pra você, só que essa complicação toda que teve, não ia dar para te mostrar.
_Que complicações são essas? -pergunto cruzando os braços.
_O meu pai está reformando essa cabana, só que os caras que ele havia contratado eram todos uns incopetentes e fizeram o trabalho todo mal feito, aí ele teve que contratar outros e refizeram tudo de novo e com esse feriado do natal, acabou atrasando tudo... e você sabe como eu sou, né? Quero tudo pronto pra ontem!
_Era disto que a sua mãe falava que devia me contar e acabar com isto de uma vez por todas?
_Se não é isto, eu não sei mais do que ela estava falando... -envolve me em seus braços- eu não tenho nada para esconder de ti...
Eu queria poder saber quando ela está mentindo, eu nunca sei, também não sei se ela mente. Se mente, ela é muito convincente como está sendo agora.
_Mas por quê...
Ela me interrompe olhando nos meus olhos.
_Por Deus Raquel, para com isto, para de achar que está todo mundo contra você, para de ficar ouvindo as conversas dos outros pela metade e tirar conclusões preciptadas, para por favor! Desde quando chegamos aqui, todo dia você vem com alguma coisa, que fulano te olha torto, siclano não gosta de você... essa sua mania de perseguicão já esta ficando cansativas! Vamos ficar aqui, ter um momento só nosso, sem essas suas paranoias... só eu -ela me beija- e você, por favor...
_Mas...
_Mas o quê, Raquel? -pergunta ela com cara de cançada.
_Mas... mas pra quê você ascendeu a lareira se nem está frio?
Marina sorri.
_Para esquentar a casa, tirar a umidade... -se afasta pegando a garrafa de vinho- as árvores e as paredes de pedra não deixa que o sol a esquente e a umidade é por causa da nascente -me estende um copo de vinho. Não faço ideia de onde ela tirou esse copo.
_Hum...
Sorrio.
Ela sabe das coisas!
Eu não quero brigar. Não quero passar a vida toda brigando com ela por eu achar alguma coisa. Não quero que a minha imaginação fértil estrague tudo como nas outras vez.
Faço uma anotação mentalmente na minha lista de promeças para o novo ano que sei que não vou cumprir, 'Não deixar que minha imaginação tome conta da minha cabeça', 'Ser menos descontrolada' e... 'Amar muito a Marina'. A última nem precisarei me esforçar muito para cumprir, eu já a amo com toda as minhas entranhas.
Ofereço um brinde a nós duas. Brindamos.
fora o soltinha indo embora. A garrafa de vinho na sua última gota.
_Você deveria ter pegado duas garrafas, uma é pouco! -digo beijando a.
_Você quer ficar bêbada?
_Talvez sim, talvez não...
_Eu posso ir lá correndo buscar mais uma pra você... -diz se levantando.
_Não!
Eu a puxo para se sentar novamente. Sento me em seu colo de frente para ela.
_Eu não quero nada além de você em mim... -sussuro em seu ouvido.
Beijando a, sinto suas mãos delizarem para dentro da minha blusa, estremeço.
_Espera! -digo encarando a- Alguém sabe que estamos aqui?
_Só os meus pais... -beija mordendo uma bochecha minha.
_E eles não vem aqui não, né?
_Não... -ela beija mordendo o outro lado- por quê?
Sorrio.
_Nada não!
Beijo a novamente prescionando meu corpo contra o dela naquele pequeno sofá.
Num gesto rápido, Marina desabotoa todos os botões de sua camisa, depois tira a minha mordiscando a minha pele nua desprotegida. Arrepio me.
_Está com frio? -pergunta sorrindo.
_Estou...
Então ela me levanta levantando se logo após. Pegando o forro do sofá, ela forra o chão perto da lareira jogando as duas almofadas do sofá nele.
Ela deita se me puxando para deitar me também. Nos beijamos rolando pelo chão forrado.
Sinto o calor do fogo nas minhas costas. Sorrio.
_Eu vou queimar a minha bunda...
_Eu a beijo para sarar!
_Acho bom mesmo! -digo sentido a me invadir.
Desde que eu me entendo por gente, sempre ouvi dizer sobre 'a mágia do natal', mas qual é dessa 'mágia do natal'? Nunca soube o que significava. Perguntava as pessoas qual era o seu significado, nenhum deles me deu uma resposta conclusiva que me fizesse entender.
Hoje, deitada no chão daquela cabana, eu descobrir.
Não importa o luxo, não importa o conforto ou quantos presentes você ganhou, o que importa é com quem. Com quem você está, com quem você quer estar, com quem você quer dividir os seus momentos bons e os ruins.
Queria todos aqui, meu pai, a minha , Ana, Sofia, Lia... até a Bruna. Queria aqui todos aqueles que um dia me deram motivos para sorrir.
Não tenho todos, só a Marina e issome basta.
Ela é o que eu mais preciso para toda a minha vida. Ela é o meu ar. Ela é a gravidade que mantém os meus pés no chão.
Não sei o que eu seria sem ela.

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NÃO É A MINHA CULPA SER ASSIM!!!  (Volume 1)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora