Capítulo 20

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     _Alô!
   _Hã... Sofia? Sou eu, a Raquel...
   _Raquel! Aconteceu alguma coisa? Ana está bem? -perguntou Sofia preocupada.
   _Sim sim, calma! -sorriu- não se preocupe, estamos muito bem, obrigada. Só estou ligando para avisar que Ana ainda está comigo...
   _Por quê? A dona Jô ainda não foi busca-la?
   _Deixa eu acabar de falar? Obrigada! A dona Jô veio mas ela não quis ir, então achei melhor ela ficar...
   _Oi mamãe! -gritou Ana puxando a mão de Raquel para falar no celular- eu já tomei remédio e estou me comportando direitinho!
   _Eu espero que esteja mesmo porque quando eu chegar, vou ter uma conversinha muito séria com as duas!
   _Por quê? -pergunta Raquel-  estamos bem, alimentadas, ela já tomou o remédio e nem botamos fogo na casa...
   _Era para ela ficar com a dona Jô, ela sabe que tem que ir. Você está fazendo as vontades dela, tem que ser firme com ela!
   Raquel revirou os olhos.
   _Ok! Da próxima vez eu serei firme com ela, mas, tadinha, ela está doente...
   _Você não a conhece como eu conheço, sei quais são as suas birras... mas enfim, eu tenho que desligar agora. Não deixa ela comer besteira antes do jantar, depois a coloque no banho e às 21:05h, ela já tem que estar dormindo, nem um minuto a mais! Entendeu?
   _Sim senhora! -respondeu Raquel batendo continência.
   _Acho bom e não me desobedeça mais!
   _Não desobedecerei, bom trabalho e até mais, mamãe!
   Raquel desligou a ligação colocando o celular na mesa. Deu de ombros virando se para Ana.
   _Acho que a sua mãe não gostou nem um pouco de saber que você não está com a dona Jô -olhou em volta para a bagunça que fizeram- acho melhor a gente arrumar essa bagunça antes que a sua mãe fique mais brava ainda com a gente!
   _Ela não fica brava! -disse Ana balançando os seus cachinhos.
   _Eu não quero pagar pra ver. Vai... -pegou uma folha de papel que estava no chão colocando a em cima da mesinha junto com as outras folhas- junta seus lápis de cor e essas folhas, vou arrumar lá dentro!
   Deixou Ana na sala e foi arrumar o quarto, dobrou e guardou as roupas espalhadas em cima da cama.
   _Alguém está batendo na porta -diz Ana aparecendo na porta.
   "Será a dona outra vez?" pensou enquanto acabava de estender a cama.
   _Você não guardou os giz de ceras, Ana? -pergunta Raquel passando pela sala indo atender a porta.
   _Você disse que era pra guardar só os lápis de cor e as folhas...
   _Também era para guardar os giz de cera. Vai guarda-los!
   Não era a dona Jô quem batia à porta, era uma mulher que Raquel não conhecia.
   Raquel abriu só meia porta.
   _Pois não!?
   _Oi! -disse a mulher passando por Raquel e entrando no apartamento- você deve ser a... a Raquel, né?
   Raquel afirma.
   _Pode me chamar de Denna, com dois 'n'. Sou filha da dona Jô.
   Denna apertou a mão de Raquel a olhando de cima a baixo. Virou se para Ana.
   _Aninha, querida, por que não foi brincar com a Rebecca hoje? Ela está com saudades, posso trazê-la aqui?
   _Acho melhor não! -disse Raquel rapidamente só de pensar na ideia de ter que olhar mais uma criança- ela está com a garganta doendo, precisa descansar e pode passar para a Rebecca.
   _Humm, que peninha...
   Denna caminhou até a porta.
   _Então tá, melhoras Aninha -virou se para Raquel que ainda estava parada na porta e novamente a olhou de cima a baixo- prazer em conhecê-la, Raquel! Nós vemos por aí...
   _Tchau! -diz Raquel fechando a porta.
   Se Raquel a conhecesse, diria que Denna estava a analisando.
   _Eu não gosto dela! -diz Ana com a cara fechada.
   _Eu também não gostei...
   Raquel não a conhecia e nem precisou passar tempo o suficiente com ela para saber que ela não era uma boa pessoa.  
   Denna era aquele tipo de mulher fútil que passava por cima de qualquer um para conseguir o que queria. Toda semana era um namorado diferente, fazia os de gato e sapato ate conseguir o que queria com eles, depois, descartava os como se fossem um papel de bala.
   _Já acabou de juntar os giz de cera?
   _Sim.
   _Muito bem! Com fome? -pergunta Raquel.
   Ana balança a cabeça negando.
   _Então vai tomar banho.
   _Mas eu tomo banho depois da janta!
   _Mas você não está com fome!
   _Depois eu tomo banho!
   _Então vai comer?
   Ana pensa um pouco.
   _Vou comer biscoito! -diz indo para cozinha para pegar o pacote de biscoito no armário.
   Raquel vai atrás de Ana na cozinha pegando o pacote da sua mão.
   _Não não. Ou é comida, ou é banho, você escolhe!
   _Mas biscoito é comida!
   _Você entendeu!
   Raquel suspirou abrindo o pacote, pegou um biscoito e deu uma mordida.
   _Humm... ele é bom... -diz mastigando o biscoito- qual o nome?
   Ana a encara boquiaberta vendo comer o biscoito.
   _Você está comendo o meu biscoito!
   _Não não, não é seu, é do armário. Só vai ser seu depois que comer arroz, feijão, salada, legumes e qualquer outra coisa que faça parte desses grupos.
   Ana estreita os olhos para Raquel.
   _Eu acho que vou comer mais um! -diz Raquel fingindo não vê-la.
   _Tá bom!! -diz Ana pegando o seu prato no armário- mas vou querer só um pouquinho.
   _Boa menina! Vai lavar a mão até eu esquentar a comida.
   Ana vai para o banheiro bufando e Raquel come mais um biscoito enquanto esquenta a comida.
   _Pronto, comi tudo! -diz Ana sentada à mesa.
   _Não comeu não, estou vendo uns... uns seis grãos de arroz no seu prato.
   Ana junta os grãos de arroz com a mão e os come.
   _Pronto!
   _Muito bem.
   _Biscoito! -diz levantando para pegar o pacote de biscoito que Raquel havia colocado no meio da mesa.
   _Não, espera! Lavar seu prato, bananinha!
  _Mas eu não sei lavar! -diz Ana parada em cima da mesa.
   Raquel que havia acabado de comer se levanta.
   _Pega a cadeira que eu te ensino.
   Ana arrastou a sua cadeira até a beirada da pia. Pegou a bucha da mão de Raquel e a imitou esfregando o seu prato, depois enxaguou o prato e a colher. Quase desequilibrou se da cadeira tentando esconder se de Raquel que espirrava água em seu rosto. Raquel a pega pela cintura carregando a.
   _Biscoito!! -grita Ana esticando os bracinhos para o biscoito em cima da mesa quando Raquel passou pela mesa indo para o quarto- biscoito, biscoito, meu biscoito!
   _Você... ainda... -Raquel tentava segura-la- não tomou... banho!
   _Não... biscoito...
   Ana não sabia se gritava ou se ria com as cosquinhas de Raquel. Tentava se livrar dela, mas Raquel, já no quarto, a prendia na cama e Ana não tinha mais forças para se soltar.
   _Espera! -diz Raquel se afastando, arruma o seu cabelo desarrumado por Ana- tive uma ideia!
   Ana ofegante em cima da cama pergunta o quê.
   _Que tal nos duas fazer uma torta bem gostosa para a sua mãe? Para ela não brigar com a gente...
   Ana senta se na cama pensativa.
   _Só que, vou ter que usar os seus biscoitos -continua Raquel- mas deixo você comer alguns.
   Ana levanta e começa a pular na cama.
   _Sim sim sim...
   _Então vai tomar banho!
   Vendo que Ana emburrou a cara parando de pular na cama, Raquel justifica se dizendo que precisa estar limpa para fazer a torta.
   _Ela é especial! -diz piscando o olho para Ana.
   Ana vai para o banho sem pestanejar. Enquanto ela estava no banho, Raquel olhou no armário se tinha o que precisava para se fazer a torta.
   Para falar a verdade, ela não tinha a menor ideia de como fazer uma torta. Não armário não tinha muita coisa, pegou uma caixinha de leite condensado, uma de creme de leite, achocolatado e maisena. Na geladeira, pegou o leite e um ovo.
   De banho tomado e já vestida, Raquel amarrou o avental em Ana para que não sujasse o pijama. Ana riu dizendo que estava parecendo a dona Jô com aquele avental.
   Prontas para o trabalho, Ana amassou os biscoitos em uma vasilha, comia alguns pedaços quando Raquel não estava vendo, depois ajudou Raquel a despejar todos os outros ingredientes em uma panela. Precisou apenas da gema do ovo.
   _Por que você não faz um belo cartão para a sua mãe? Deixa que eu escrevo o pedido de desculpas.
   Ana concorda tirando o avental e vai para a sala para pegar papel e seus lápis de cor. Enquanto isto, Raquel mexia a panela até o brigadeiro começar a ferver.
   _O que vamos escrever? -pergunta Raquel depois do cartão e a torta já estarem prontos.
   Ana respondeu sem pensar duas vezes.
   _"Por favor mamãe, não brigue com a gente!" -repetiu Raquel escrevendo no cartão, as palavras de Ana.
   Ela e Ana assinaram no final do cartão.
   _Vamos ver se já podemos casar! -diz Raquel colocando um pedaço da torta para ela e um outro pedaço para Ana.
   _Eu não quero casar! -diz Ana fazendo careta.
   Raquel ri.
   _Eu também não!
   _Humm... bom!
   _Humm... nada mal -diz Raquel depois de experimentar- vai ficar melhor ainda quando esfriar.
   Ana concorda com Raquel mesmo não sabendo o que aquilo significava.
   Era para ser um brigadeiro, menos enjoativo, com o biscoito crocante no fundo, mas, como o brigadeiro estava quente, amoleceu os biscoitos. Mas estava bom.
   Levaram os pratos para comerem no quarto enquanto assistiam TV.
   Nada de bom passava na televisão naquele horário. No canal só de desenho, passava um desenho idiota que nem Raquel e nem Ana gostaram, foram assistir uma novela que Ana assistia com a dona Jô.
   Como Ana já estava entediada nos dez minutos da novela e queria sair da cama para fazer qualquer outra coisa, Raquel deu o seu celular para que ela jogasse. O jogo era um pouco difícil para Ana que logo perdeu o interesse mesmo Raquel tentando ensina-la a jogar.
   Foram ver os vídeos do celular de Raquel. Vídeos de gatinhos, vídeos engraçados de tombos e vídeos das festas que Raquel ia, ela ou alguém filmava os micos de alguém bêbado para depois esfregar em sua cara quando teimasse em dizer que não havia feito aquilo.
   Passaram para as fotos.
   Ainda bem que Raquel guardava as fotos meio impróprias em um outro aplicativo com senha.
   _Quem é essa? -pergunta Ana apontando para uma garota de cabelo rosa que estava do lado de Raquel.
   _Essa é Lia, minha amiga, é uma Smurf rosa.
   _O cabelo dela é rosa!
   _Baixinha e de cabelo rosa, daí o nome, Smurf rosa!
   _E que é essa? -pergunta passando para outra foto.
   Ana apontou um a um perguntando quem era aquelas pessoas em todas as fotos. Lia, Bruna, Marina, a sua mãe, os amigos de farra e até os seus gatos nas fotos, queria saber de todos.
   Numa sequência de fotos dela com Marina, nada de mais, apenas fazendo caretas nas fotos, beijando a bochecha uma da outra, Raquel por instinto toma o celular da sua mão quando aparece as duas dando selinho uma na outra.
  Raquel se justifica como se soubesse o que Ana estava pensando, diz que Marina era uma amiga especial.
   _Hum.
   Ana parecia não ter interesse em saber, queria ver mais fotos e perguntar quem eram aquelas pessoas.
   Acabado todas as fotos, Ana tomou mais uma vez o remédio, estava um pouco quente. Raquel esperou que pegasse no sono para tomar o seu banho, não demorou muito lá.
   Com o apartamento todo fechado e tudo no seu devido lugar, Raquel foi se deitar ao lado de Ana que grudou nela. Raquel a acariciava tirando um cachinho do seu rosto.
   Seu celular vibra.
  
   "Ana já dormiu?"

NÃO É A MINHA CULPA SER ASSIM!!!  (Volume 1)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora