Capítulo 4

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Não foi muito difícil Marina acha-la naquela noite, bastava apenas ter muita paciência e determinação.
Já estava de pé em frente ao guarda-roupa quando Raquel a deixou falando sozinha ao telefone, retornara à ligação várias e várias vezes mas ninguém atendia. Decidida a encontra-la, pegou o seu carro e saiu pelas ruas a sua procura.
Era perigoso sair àquela hora e também era um tiro no escuro, não fazia ideia a onde ela estava mas não conseguiria dormir sabendo que Raquel estava por aí sabe-se-lá-Deus o que estava fazendo ou o que era capaz de fazer.
Sabia mais ou menos dos lugares que frequentava e ia começar por eles. No trajeto até lá, um pânico crescia dentro de si, não sabia a onde Raquel estava e se não a encontrasse? E se estivesse em outro lugar sem ser nesses que conhecia?
O celular de Raquel estava desligado e o único jeito era continuar ligando para o outro número. Perdera a conta de quantas vezes ligou mas ninguém atendia.
Respirava fundo para se acalmar.
"Eu vou te matar Raquel! " mau terminou de ameaça-la, alguém atendeu o telefone.
_Alô!... Raquel!?
Silêncio. Ouvia se apenas vozes misturada com música ao fundo.
_Raquel para de gracinha, a onde você está? - perguntou irritada- Raquel!!
_OIE!
Não era Raquel, tinha uma voz grossa. Um homem.
_Quem está falando?
_OIE!
_Oi, quem está falando?
_OIE!
Marina começava a se estressar.
_OI -gritou- RAQUEL... QUERO FALAR COM RAQUEL!!
_RAQUEL?
_ISSO, É... RAQUEL. QUERO FALAR COM ELA. AGORA! -ordenou.
_RAQUEL... - fez uma pausa- EU NÃO SEI ONDE ELA ESTÁ!
Marina estacionou o carro, sentia seu rosto se esquentar. Respirou fundo.
_A onde vocês estão? - perguntou calmamente.
_A ela ali...
O homem não a ouviu.
" Ei Raquel... telefone pra você..." Marina podia ouvi-los conversando, "Ei... manda... se... fuder! WOW..."
Uma pausa.
_AÊ, FOI MAL MAS ELA MANDOU SE FODER...
Marina ainda podia ouvir a voz de Raquel ao fundo, ria, gritando alguma coisa...
_A ONDE VOCÊS ESTÃO?
Sentia tanta raiva de Raquel naquele momento, ela lá se divertindo e Marina aqui preocupada tendo que sair àquela hora para procura-la. Apertava tão forte o volante que os nós dos dedos começavam a ficar brancos.
Graças ao GPS, as ruas desertas e a raiva que sentia naquele momento, chegou lá em menos de dez minutos.
Já ouvira falar daquele lugar, era conhecido pela cerveja barata e seu cheiro nada agradável.
Ao passar pela porta, um calor abafado e um cheiro desagradável a invadiu causando lhe náuseas, teve que se escorar na parede para se recompor. Agora compreendia a sua fama de mau cheiroso.
A casa estava cheia e Marina teve que ir se desviando daquelas pessoas nojentas e suadas. Com a mão tampando a boca e o nariz, se perguntava o porque daquele lugar ficar tão cheio se era tão horrível. Precisava achar urgentemente Raquel e sair dali o mais rápido possível.
Não demorou muito acha-la. Primeiro achou Lia, inconfundível com aquele cabelo cor-de-rosa. Estava aos beijos e abraços com um cara que para Marina era um nojento, aliás, todos ali pareciam ser nojentos.
_Desculpe Lia -interrompeu a- mas sabe onde Raquel está?
Lia se virou para ela com cara de paisagem e a cumprimentou com um "Oi" e depois voltou a fazer o que estava fazendo.
_EI LIA...
_OI! -virou se novamente- Tudo bem? -perguntou sorridente.
Marina tentava se manter calma mas aquele cheiro desagradável, a música alta, ter que gritar para ser ouvida e a lerdeza de Lia não estava a ajudando, sentia seu sangue ferver.
_NÃO. EU NÃO ESTOU NADA BEM!
_Ah, que pena! -disse Lia se virando se novamente para os braços do rapaz.
Marina a segura pelo braço a fazendo se virar.
_LIA!
_EI! MAS QUE MERDA, DÁ PRA VOCÊ ME LARGAR? - disse se soltando dela- O QUE VOCÊ QUER?
_AONDE ESTAR RAQUEL?
_EU SEI LÁ DE RAQUEL... ME DEIXA EM PAZ!
Como se nada tivesse acontecido, Lia volta a fazer o que estava fazendo.
Marina respira fundo se virando. Não ia gastar sua energia com Lia, ela já era um caso perdido.
Ficou paralisada quando se virou. A dois metros à sua frente estava Raquel no meio de um casal, se esfregavam uns aos outros.
Marina estava em choque com o que via. O homem atrás de Raquel falava alguma coisa em seu ouvido. A mulher à sua frente, acariciava lhe os seus seios enquanto beijava o seu pescoço.
Marina sentiu nojo daquela cena. Sentia nojo daquele lugar. Sentiu nojo de Raquel.
_RAQUEL! -gritou Marina quando a mulher deslizava as suas mãos descendo pela barriga e indo em direção as partes íntimas de Raquel.
Raquel parecia gostar.
Já tinha visto demais, foi em sua direção por um fim àquilo tudo.
_RAQUEL! - a chamou pegando a pelo braço. Empurou a mulher para o lado e com cara feia olhando para o homem mandando que desse o fora dali.
Marina a puxou para longe dali.
_EI! NÃO ME EMPURRA! - Raquel tropeçava em suas próprias pernas.
Num canto mais calmo, Raquel ainda dançava jogando os braços para cima. Marina segurava seu rosto tentando prender a sua atenção.
_RAQUEL... OLHA PRA MIM, RAQUEL... VAMOS EMBORA... RAQUEL... EU VOU TE LEVAR EMBORA. OK?...
Raquel não dava ouvidos à ela.
_RAQUEL, VOCÊ ME OUVIU? EU VOU TE LEVAR EMBORA!... VAMOS!
A pegou pelo braço mas Raquel se solta.
_Eu... Não quero... ir! -choramingou.
_VAMOS RAQUEL! - disse a segurando.
_Não...
Raquel não queria ir, tentava se segurar em alguma coisa mas não tinha forças.
_EI RAQUEL... -gritou Lia abraçando a- EU TE AMOO...
Abraçadas, as duas começaram a se balançar.
_VAMOS RAQUEL! - Marina estava impaciente.
Raquel fez uma cara triste.
_ OI! - diz Lia virando se para Marina como se a visse pela primeira vez ali.
_Oi... vamos Raquel! -a puxou pelo braço.
Raquel resmunga alguma coisa.
Lia segura Raquel a impedindo de ser levada.
_ Não, ela não quer ir.
_ NÃO SE INTROMETA!... VAMOS... -a puxou.
_ NÃO! -Lia a puxou para o seu lado- ELA NÃO VAI. LARGA A MÃO DE SER CHATA E DEIXA A GAROTA SE DIVERTIR!!
Marina vira se encarando a.
_SE DIVERTIR? OLHA PRA ELA. OLHA O ESTADO QUE ELA ESTÁ! OLHA PRA VOCÊ, OLHA ESSE LUGAR... SE VOCÊ FOSSE UMA BOA AMIGA NÃO A DEIXARIA NESTE ESTADO E NEM JOGADA POR AÍ... -puxou Raquel para perto dela tirando a mão de Lia que a segurava- EU VOU LEVA-LA SIM E NÃO TENTE ME IMPEDIR, PORQUE EU SIM ME PREOCUPO COM ELA!
Marina saiu arrastando Raquel, desviando e empurrando as pessoas que bloqueava o caminho.
Lia queria ir atrás delas mas o cara que estava com ela a impedou.
_Vai, deixa elas pra lá... vem cá... - disse puxando a para beija-la.
_SUA VACA! -gritou Lia para Marina antes de se render aos abraços do rapaz.
Marina já sumia no meio da multidão.
Lá fora, ja respirando ar fresco no estacionamento, Marina levara Raquel até o seu carro. Ajudava a se manter de pé, com seus passos desajeitados tropeçava toda hora.
Raquel ria de seus tropeços e murmurava alguma coisa incompreensível deixando Marina mais irritada ainda.
_Mas que... que merda Raquel! -xingou Marina afastando se para evitar que fosse atingida pelos respingos do vômito de Raquel. Raquel vomitava litros e litros de pura água, álcool, por assim dizer.
Encostadas no carro, Marina esperou que Raquel vomitasse tudo que tinha de vomitar. Nem morta ela ia deixar Raquel entrar em seu carro naquele estado. Segurando o seu cabelo para que não fosse atingido, Marina estava indignada com o quanto de álcool Raquel ingerira. A quanto tempo estava bebendo? Só havia água em seu estômago. Tinha certeza que Raquel passara o dia todo sem comer.
Balançou a cabeça em desaprovação.
As pessoas que passavam ali, olhavam curiosas para as duas mas quando viam a poça de vômito, no mesmo instante viravam a cabeça para o outro lado com cara de nojo. Apenas duas pessoas vieram ver se estavam bem e se precisavam de ajuda, Marina por sua vez, sem muito papo e paciência, dizia estar tudo bem, obrigada.
Ficaram ali por um bom tempo até Marina ter certeza que não corria risco nenhum de Raquel estrear o seu carro.
Deveria ter esperado mais.
Já dentro do carro, saindo do estacionamento, depois de ter vomitado tudo que tinha que vomitar e mais um pouco, Raquel sentada no banco de trás se contraia para vomitar mais uma vez. Já não tinha mais nada em seu estômago e mesmo assim seu corpo queria botar para fora nem que seja suas entranhas, mas felizmente foi apenas uma gosma mal cheirosa, por sorte só o carpete foi o alvo, nada tão drástico que um pano úmido não resolva.
_Eu juro se você vomitar mais uma vez aqui dentro, você vai limpar tudo! -ameaçou Marina abrindo a janela do carro.
Raquel resmungou alguma coisa e Marina não deu ouvidos.
Uma vez ou outra, Marina corria o olho pelo retrovisor para ver o que Raquel estava fazendo. Raquel por sua vez, ora estava deitada, ora estava sentada, murmurava alguma coisa olhando pela janela.
Marina penou para tira-la de dentro do carro. Quando chegaram, Raquel estava quase adormecida no banco de trás.
Marina teve que sacudi-la duas vezes para acordar. Uma no carro, só faltou puxa-la pelos pés para sair de dentro do carro. Apoiada em seu ombro, Marina a arrastou para dentro de sua casa. A segunda vez foi quando Raquel se escorou no batente da porta da sala que dava para o corredor, abraçou com tanta vontade a parede que dava dó em separa-las, mas Marina não estava com saco para aturar as gracinhas de Raquel àquela hora.
A levou para o seu quarto, sentando a na cama. Tirou lhe a roupa para enfia-la debaixo do chuveiro.
_Humm... -resmungou Raquel- vai me... abusar...?
Sorriu virando se de lado.
A vontade de Marina era enfia-la debaixo da água fria, a água mais fria que tivesse só para acordar e ela dizer tudo o que tinha pra dizer sobre a sua inresponsabilidade e blá blá blá, mas Raquel já tinha virado pro canto e pegado no sono.
Só aí, vendo ela ali apagada, Marina pode respirar aliviada. Pelo menos Raquel não estava jogada por aí sabe se lá aonde, sabia aonde estava...
Deixaria os sermões para depois, estava cansada e precisava descansar, dormir, repor as energias gastas.
Antes de tudo, foi tomar um banho, não aguentava mais um minuto se quer com aquele cheiro horrível daquele lugar horrível. O cheiro estavam impregnado em suas roupas, em seus sapatos, nas roupas de Raquel... Por mais que a sua cama lhe chamasse, não conseguiria dormir com as suas roupas fedendo daquele jeito, o cheiro parecia estar na casa toda. Pegou as suas roupas e as de Raquel e colocou na maquina. Enquanto estavam na maquina, foi limpar o seu carro.
O céu já começava a clarear lá no horizonte quando finalmente foi se deitar.
Quando acordou, já lá pelo meio do dia, foi ver se Raquel ainda estava dormindo, não tinha se mexido, estava do mesmo jeito que a deixou. Raquel respirava pesadamente, estava com cara que não acordaria tão cedo.
Deixando ela dormindo, Marina foi para a cozinha preparar o café. De minuto a minuto ela ia até o seu quarto verificar se Raquel estava bem, estando tudo bem ela voltava a fazer o que tinha que fazer, passou as roupas, arrumou a casa, revisou os seus relatórios...
Parando mais uma vez na porta do seu quarto para verificar se estava tudo bem, viu que Raquel havia coberto a cabeça, era um bom sinal de que estava bem. Foi procurar um remédio para dor de cabeça que, consequentemente Raquel precisaria ao se levantar, aproveitou para pegar as suas roupas.
Quando voltou, Raquel já estava descoberta e com uma cara de dor.
O remédio veio na hora certa.
_Aqui está um remédio para a sua dor de cabeça e aqui as suas roupas -disse.
Parada na porta, Marina via Raquel se esticar para pegar o remédio e aos poucos pegando a sua roupa e se arrastando para o banheiro.
Não demorou muito lá dentro, só o suficiente para que Marina escolhesse as palavras certas para lidar com o seu temperamento.
Desde quando Marina entrou no quarto até quando Raquel saiu do banheiro, Raquel não havia nem uma vez se quer olhado para Marina, nem de rabo de olho e Marina sabia que não seria nada fácil chegar até Raquel, as vezes ela dificultava as coisas com a sua teimosia.
O jeito era ir se aproximando aos poucos.

NÃO É A MINHA CULPA SER ASSIM!!!  (Volume 1)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora