Capítulo 31

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    Raquel se afastou ao ouvir todo mundo gritando.
   Eles já estavam no palco.
   Bruna pegou o seu celular para gravar. Ora filmava a banda, ora filmava Raquel que a cada música sentia uma sensação diferente.
   Ora ela pulava, ora ela gritava, ora ela cantava. Enquanto muitos cantavam apenas o refrão, Raquel a diferentona, cantava a música toda.
   Primeiro tocaram Adrenalize, depois uma lá que não gostava tanto. Sabia todas de cor. Poderia não saber a música, mas passava o dia inteiro a ouvindo até decorar a letra. Ou passava meses escutando as mesmas músicas de que gostava até aparecer outras e enjoar das velhas, fazendo assim um ciclo.
   Raquel já não tinha mais voz em The Last Cowboy e Big Mouth.
   Beast whitin tinha tudo a ver com ela naquele momento.
   Estava cercada por estranhos enquanto a música tocava. Seus corpos se movendo juntos lado a lado. Um animal, uma besta ou qualquer outra coisa parecida, crescia aos poucos dentro dela.
   Talvez seja a droga que tomou que já estava no seu melhor efeito. Talvez não tenha adiantado tomar só metade dela achando que assim o seu efeito seria reduzido.
   _'Diga me para quê vocês vieram
Posso dar lhes apenas uma prova? -perguntava a música- Eu quero ver vocês perderem suas malditas mentes
(...)
Eu vou rasgar vocês em pedaços
Eu vou me alimentar de seus corações
Eu quero ver seus corpos se desfazendo somente pra mim
Eu apenas sou o que vocês precisam, a doença perfeita
Você não quer transformar sua beleza em besta?'
   Com a cabeça em qualquer lugar, menos ali, Raquel achou que aquela pergunta era para ela, todos ali à sua volta estavam a encarando esperando uma resposta.
   Big Bad Wolf, seu mais novo sucesso e a última música a tocar, acabou fudendo de vez a sua cabeça com aquelas máscaras de lobos olhando diretamente para ela.
   Bruna vendo o seu estado de pura viagem à abraçou por trás.
   _Mantenha seus pezinhos no chão, querida! -diz roçando os lábios em sua orelha.
   _Minha cabeça está pesada... -diz Raquel se deliciado com aquela sensação gostosa que os lábios de Bruna lhe propocionava em seu pescoço.
   _Pode apoia-la em mim -diz Bruna ainda roçando seus lábios em seu pescoço.
   Raquel suspira acariciando seu cabelo.
   _Sim...
   E Bruna ficou ali abraçada com Raquel até que a última nota saísse da guitarra encerrando assim o show.
   _Eu não quero ir embora! -choramingou Raquel sendo arrastada por Bruna.
   Tudo fora tão perfeito, até a fina chuva que caiu no meio do show refrescando aqueles bandos de corpos todos suados tornou a coisa ainda mais mágica possível, e Raquel não queria mais sair dali.
   Na fila para entrar no camarim para conhecer e tirar foto com a banda, entraram em uma grande discussão para saber como voltar para casa já que o táxi ficaria caro e não tinham toda esta grana.
   O Boca até se ofereceu, mas já não cabia mais ninguém na sua caminhonete, só tinha lugar na carroceria mas Bruna bateu o pé dizendo que não ia.
   _Não sou um animal para ser transportada na carroceria de um carro, e além do mais, ele está bêbado!
   _Vamos a pé então! -sugeriu Lia.
   _Nem morta, meus pés estão me matando! -protestou Bruna.
   _Eu iria numa boa...
   _Numa boa porque vocês estão tudo chapadas, mas deixa na hora que vocês já estiverem sãs pra vocês verem como é bom!
   _Então vamos ficar aqui até o dia amanhecer. Eu não quero ir embora! -disse Raquel.
   _Tá de brincadeira, né? Não são nem 3h ainda, estamos no meio do mato longe da civilização cheio de gente esquesita e a única civilização fica a quase 1h de carro daqui... e nem pensem em pedir carona na estrada!
   _Por que você não liga para a sua namorada, Raquel? -pergunta Rosana.
   _Não! -Bruna e Raquel disseram ao mesmo tempo.
   Raquel se justifica depois de olhar rapidamente para Bruna.
   _Ela não pode me ver nesse estado...
   _E foi constrangedor demais ela ter nós trazido até aqui. -completou Bruna.
   _Então vamos chamar um táxi, deixamos que ele nós leve até um endereço qualquer, damos a metade do dinheiro, alguém diz que vai entrar para pegar o restante... mas todas tem que estar fora do carro já, aí, saímos correndo. Ele não vai ter como pegar todas nós!
   Todas olham ao mesmo tempo para Raquel.
   _As vezes você me assusta, sabia? -diz Lia passando o braço em volta do pescoço de Raquel- mas eu gostei. Se ninguém tiver ideia melhor, eu topo! -levantou a mão- isso me lembra velhos tempos.
   _Sério Lia? -pergunta Bruna com cara feia.
   Rosana concorda levantando a mão passando para o lado de Raquel.
   _Mas tem que ser um lugar que conhecemos para ajudar na fuga, e perto de casa também...
   _Será que eu sou a única que tem juízo por aqui? -diz Bruna pegando o celular. Ligou para um taxista que conhecia, explicou lhe toda a situação da falta de grana para o táxi e ele concordou em busca-las fazendo um preço mais barato.
   Resolvido a situação e fotos ja tiradas com a banda, Raquel como sempre fora arrastada por Bruna por não querer sair dali.
   _Meu Deus, que mal humor todo é esse? -pergunta Raquel à Bruna quando já estavam esperando o táxi.
   _Eu estou cansada, com fome, com frio e quero ir embora!
   _Você não estaria tão estressada desse jeito se tivesse aceitado o que Lia te ofereceu. -diz Rosana.
   Bruna a ignora.
   Raquel desamarra a blusa de frio da cintura colocando em suas costas.
   _A parte do frio já está resolvida.
   Bruna agradesce abraçando a para se esquentar melhor. A blusa de frio de Raquel, por estar úmida devido a chuva mais cedo, não esquentava.
   As duas ficam abraçadas ali vendo Lia pular uma amarelhinha imaginária.
   _É sério que vocês iam fazer aquilo de fugir só para não pagar o táxi? -pergunta Bruna se afastando um pouco para encarar Raquel.
   _Situações desesperadas pedem medidas mais desesperadas ainda! -Raquel sorri.
   Bruna passa os braço em volta do seu pescoço ficando a centímetros do seu rosto. Sorri.
   _Bela enrascada que eu me enfiei me juntando à vocês, em?
   _Pois é...
   O táxi buzina fazendo Raquel se afastar dela.
   _Eu vou na frente! -gritou Rosana.
   Lia foi atrás.
   _Primeiro as damas! -diz Raquel dando pssagem para Bruna entrar primeiro.
   _Humm, uma cavalheira... -parou na sua frente antes de entrar- eu gosto!
   Raquel respira fundo entrando logo atrás dela.
   Rosana na frente, Lia atrás de um lado, Bruna no meio e Raquel do outro lado.
   Bruna tirou o seus tênis deitando se no colo de Lia e colocando seus pés no colo de Raquel.
   _Faz uma massagem neles pra mim -pediu a Raquel- não tenho chulé não, tá!
   Raquel massageava um pé passando para o outro.
   _35? -pergunta Raquel.
   _Não, 36 -responde Bruna colocando o pé na janela.
   Raquel pega o beijando o peito do seu pé por cima da meia calça.
   Vai descendo beijando a sua perna, mordendo sua coxa. Ignorando todos ali no carro, Raquel desabotoa seu short beijando a sua barriga, subia beijando entre seus seios, seu pescoço. Beija o seu queixo, o canto dos seus lábios...
   Sorri balançando a cabeça para espantar aquelas imagens da sua mente.
   Bruna parecia saber no que Raquel estava imaginando, sorri para ela sentando se novamente no seu lugar.
   _No quê você está pensando? -pergunta Bruna num sorriso travesso.
   _Em nada!
   _Eu não tô com a mínima vontade de ir pra casa! -disse Rosana depois de um tempo.
   _Eu também não -concordou Lia- eu ainda estou muito loka, ainda escuto a música na minha cabeça!
   _Eu também! -Rosana ri junto com Lia- Quantas horas? Vamos para o Bu-dog, ele fica aberto a noite toda. Eu preciso beber!
   _Não não, eu quero ir pra casa! -disse Bruna.
   _Qual é, a noite ainda é uma criança!
   _Não, eu não vou. Vai vocês!
   _Eu tive uma ideia melhor... -diz Lia passando o braço em volta de Bruna- vamos para a minha casa, pedimos pizza e... -acaricia o seu rosto- eu dou um jeito nesse seu estresse.
   Bruna ri.
   _Como você pretende dar um jeito nesse meu estresse?
   _Bom... eu ainda tenho um pouco de erva e sei que você gosta! E, depois de já relaxada... eu e você... no meu quarto... na minha cama...
   _Eita! -diz Rosana.
   _Eu não sei qual é o mais tentador, se é a pizza, a maconha ou você, Lia.
   _Eu não quero saber, sou a primeira a tomar banho! -diz Raquel virando o rosto para a janela.
   Bruna vira se para Raquel analisando a.
   _Tudo bem, vamos para a casa de Lia! -diz Bruna virando se para Lia.
   O caminho todo Bruna ficou provocando Raquel com Lia. Raquel não fez e não disse nada.
   O táxi parou na porta da casa de Lia.
   Todas juntaram a grana que tinham para pagar o taxista.
   Como sempre, e já estava demorando, Raquel tropeçou nos seus próprios pés caindo de quatro na calçada em frente a casa de Lia.
   Lia, Rosana e Raquel cairam na risada, menos Bruna que ficou preocupada por Raquel ter se machucado, havia sangue escorendo em seu joelho. Justo na parte em que sua calça era rasgada.
   Bruna ajudou Raquel a se levantar e entrar para dentro de casa.
   Enquanto Lia e Rosana faziam qualquer coisa, Bruna e Raquel estavam no banheiro cuidando do ferimento por insistência de Bruna para que não ouvesse uma possível inflamação por Raquel ter caido numa poça d'água que pra ela, parecia suspeita.
   _Deixa isso aí, vai lá dar atenção para a Lia! -disse Raquel irritada.
   Bruna limpava seu joelho com um pedaço de algodão. Sorri.
   _Você está com ciúmes, Raquel?
   _Claro que não. A sua atenção é o que ela mais quer!
   Terminado ali, Bruna guarda as coisas nos seus lugares jogando os restos no lixo. Aproxima se de Raquel.
    _Você é uma péssima mentirosa -sussurrou em seu ouvido depois saiu deixando Raquel sozinha no banheiro.
   Raquel aproveitou para tomar um banho gelado. Estava calor e ela precisava se refrescar.
   Quando saiu, todas já estavam sentadas nas almofadas no chão da sala e duas caixas de pizza e uma garrafa de refrigerante de 2L em cima da mesinha de centro. Esperavam por ela para comerem e dividir o cigarro.
   Raquel sentou se ao lado de Rosana e foram comer. Lia ascendeu o cigarro, deu um trago e passou para Bruna que passou para Raquel que passou para Rosana que passou para Lia e assim sucessivamente.
   Na vez de Bruna, com o cigarro já quase no fim, ela deu um longo trago sem tirar os olhos de Raquel, passou para Raquel que também a encarava. Bruna vai soltando a fumaça lemtamente.
   _Ai meu Deus! -diz por fim passando as mãos no cabelo já destrançado- Eu tô precisando MUITO transar -enfatizou o 'muito'- é sério! O meu bv e a minha virgindade estão loucos pedindo para voltar!
   _Se quiser, eu te empresto o meu vibrador -diz Rosana pegando cigarro da mão de Raquel.
   _Não, por favor! -sorriu- eu quero o calor humano, o corpo a corpo, senti o cheiro, o toque, a maciez da pele... - olhou para Raquel- o teu sabor...
   _Caramba, você falando assim, me deu até vontade também!
   _Você é uma mulher bonita -diz Raquel pegando o cigarro da mão de Rosana ignorando a vez de Lia- é só olhar a sua volta, vai ter sempre alguém querendo uma noite com você -olhou rapidamente para Lia.
   _Só que eu não quero mais essa coisa de apenas uma noite. Quero algo a mais, talvez por um mês, por um ano ou quem sabe, pra vida toda.
   Raquel passa o cigarro para Lia ficando de pé.
   _Você nunca vai saber... -diz indo para a cozinha.
   Um minuto depois, Bruna aparece na cozinha.
   _De quê adianta ter um monte de pessoas a minha volta me querendo se, quem eu quero realmente, está apaixonada por outra?
   Raquel bebia água encostada na pia.
   _Como você me disse uma vez, não escolhemos por quem nos apaixonamos, isso simplesmente acontece!
   _Pois é! -diz Bruna ficando ao seu lado.
   _Acho que vou dormir... boa noite! -diz Raquel saindo da cozinha. Despede de Lia e Rosana na sala e vai para o quarto dormir.
   Não demorou a dormir. Deitou se na cama improvisada, virou se para o canto e dormiu pesadamente sem sonhos.

   Na manhã seguinte, ou, mais tarde naquele dia quando já era quase meio dia, Raquel acordou com um pouco de dor de cabeça e a boca seca. Levantou se.
   Lia e Rosana dormiam profundamente. Raquel encontrou Bruna na cozinha.
   _É bom dia ou boa tarde? -pergunta Raquel entrando na cozinha assustando Bruna.
   Bruna estava de costas passando um café que exalava por toda a cozinha.
   _Ainda é bom dia, quase boa tarde!
   _Humm... -resmunga bebendo um copo com água.
   _E o seu joelho? -pergunta Bruna.
   _Tá bem.
   _Café?
   _Não gosto, obrigada!
   _Ele vai te ajudar a acordar e curar um pouco da ressaca, a sua dor de cabeça...
   _Como sabe que estou com dor de cabeça?
   Bruna sorri servindo um pouco de café na xícara para Raquel.
   _Eu sei das coisas! -entrega lhe a xícara- prova só um pouco.
   Raquel pega a xícara cheirando a.
   "O cheiro é bom!"
   Mas só o cheiro. Quando Raquel bebeu, seu corpo se arrupiou todo, sua cara se contorceu numa careta cuspindo tudo na pia. O café além de ser amargo, era forte e sem açucar.
   Bruna comecou a rir do seu desespero em exuaguar a boca para tirar aquele gosto ruim da boca.
   _Ah muito obrigada por isto, tá!?
   _Deixa de ser fresca Raquel, café bom, é assim mesmo! E ninguém mandou você beber e usar aquelas porcarias -diz Bruna ainda rindo.
   Raquel não pensou. Não imaginou como seria. Nem notou o que estava fazendo. Num segundo estava debruçada na pia a vendo sorrir e no outro, dando um passo a frente em sua direção, beijou Bruna envolvendo a em seus braços.
   Raquel não gostava de café, mas gostou do gosto do café nos beijos de Bruna.

NÃO É A MINHA CULPA SER ASSIM!!!  (Volume 1)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora