Natal em família parte 3

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     Como ela pode sair assim e me deixar aqui sozinha com duas desconhecidas numa casa desconhecida em uma cidade desconhecida?
   QUE ÓDIO!!
   Quando acordei, já passava das 10h da manhã e já não Marina estava mais na cama.
   Levantei.
   A janela do quarto dava para os fundos, um grande campo verde node uma montanha.
   Vejo as ovelhas pastando. Quero abraça-las e ver se são tão fofinhas assim.
   Procurei por Marina pela casa toda e não achei. Encontrei a tal da Maria e a sua mãe na cozinha.
   _Oi, bom dia -digo parada na porta.
   _Vejam só quem acordou! Bom dia. Dormiu bem? -pergunta a dona Ana.
   Digo que sim.
   A tal da Maria me cumprimenta olhando para os meus pés descalços.
   _Você devia calçar um chinelo, vai pegar um resfriado!
   Concordo me aproximando. Olho em volta.
   _Vocês viram a Marina?
   _Ela foi até a cidade com o pai e o Joaquim -diz a dona Ana sem tirar os olhos da revista que lia.
   _O que eles foram fazer lá? Por que ela não me acordou?
   Me senti excluída por ela não ter me acordado para ir junto. Não queria ficar aqui sozinha com essas duas.
   As duas trocaram olhares rapidamente.
   _Diz ela que você estava dormindo tão profundamente que achou melhor não te incomodar.
   Até o jeito que a dona Ana olhava por cima dos óculos de leitura, parecia muito com Marina.
    _Você não jantou ontem, deve estar morrendo de fome, não é?
   A tal Maria me lançou um olhar abrindo a porta do forno que, por uns dois segundos, eu achei que ela ia me dar o prato com a comida de ontem para eu comer, mas não, só guardou uma forma de bolo mesmo.
   _O café ainda está lá na mesa -continua a dona Ana.
   Eu ia dizer que não tomava café de manhã mas deixei pra lá. Não quero outro olhar da tal Maria. Então fui tomar o meu café.
   Café não, banquete da manhã. Era comida pra muita gente. Pão de sal, pão de forma, pão doce, bolo, torradas, biscoitos, geleia, manteiga, suco, leite, achocolatado, café, mamão, banana, maçã e...
   Pego uma pera e duas torradas com geleia de morango.
   Depois de comer, subo para trocar de roupa. Milagrosamente a cama já estava arrumada e meus chinelos ao pé da cama.
   Sorrio chutando os para debaixo da cama.
   Troco de roupa e fico na janela vendo as ovelhas pastarem. Um vento frio trazendo uma fina camada de chuva entram pela janela.
   Deito me na cama esperando a hora passar e Marina voltar logo.
   A hora passa e nada dela voltar. Desço. Encontro a Maria na cozinha fazendo o almoço.
   O cheiro de comida tomava conta de toda a cozinha.
   A primeira coisa que ela fez ao me ver foi olhar para os meus pés ainda descalços.
   _Eles machucam os meus pés. -digo dando de ombros.
   Ela não diz nada e continua mexendo na panela.
   _Você sabe que horas eles voltam? O que eles foram fazer lá?
   Ela não me responde, fica olhando a colher de pau em sua mão. Por fim, balança a cabeça dizendo que eu deveria perguntar dona Ana.
   E lá vou eu atrás dela.
   _Com licença, você sabe que horas eles voltam? -pergunto assim que a vejo sentada no sofá costurando alguma coisa.
   Toda vez que eu a vejo, ela está fazendo alguma coisa diferente.
   _Eles já devem estar chegando, não se preocupe.
   E nada deles chegarem.
   Fui obrigada a almoçar com elas sem Marina ali comigo me ajudando a encarar a chuva de perguntas que elas estavam me fazendo.
   _Então Raquel, o que você faz? -pergunta a dona Ana.
   Me deu vontade de rir, mas rir de desespero porque ela vai achar que sou uma vagabunda sustentada pela mãe assim que eu contar que eu não faço nada.
   Eu não sou sustentada pela minha mãe apesar de morar sobre o seu teto. É ela quem paga todas as contas da casa e é ela que coloca comida na mesa, mas, quem paga as minhas contas sou eu. Eu não peço nada a ela porque sei que não vai me dar.
   Tenho dinheiro guardado de dois anos e meio de trabalho, não sou consumista e não faço contas, então, dá pra viver numa boa.
   _ No momento não estou fazendo nada, -respondo já sentindo seu olhar de desaprovação- mas eu trabalhava! -completo.
   _Trabalhava com o quê?
   _Eu trabalhava em um Caffé.
   _Hum... você era uma garçonete? -pergunta a tal Maria.
   _Pois é, -dou de ombros- temos que começar de algum lugar, né!
   _É o que eu sempre digo, não importa a profissão se é gari, se é uma garçonete ou uma diarista, o importante é você trabalhar honestamente -diz a dona Ana.
   Senti que ela estava querendo me rebaixar. Seguro a minha língua para não responde-la.
   _E você é formada?
   _Sou formada na vida! -respondo depois de beber um pouco de suco.
   _Humm... -as duas se entreolham.
   _Então... -mudo de assunto- acho melhor eu ligar para eles, estão demorando muito, não acham? Pode ter acontecido alguma coisa.
   Mas uma vez elas trocam olhares rapidamente.
   Mas que merda que essas duas tanto olham uma para a outra sempre que eu digo alguma coisa ou falo sobre a Marina?
   _É assim mesmo, Raquel. -disse a dona Ana- A estrada é longa e não tem sinal. Eles já devem estar chegando...
   Ela disse isso umas quinhentas vezes e nada deles chegarem.
   _Não se preocupe!
   Eu não estava preocupada, eu só queria a Marina aqui.
   Passei a tarde toda num tédio mortal sem ela, o frio e a chuva fina me impediam de ficarfora. Não tem wi-fi e não tem nada pra fazer.
   Peço para ver tv que também não tinha nada de bom passando nela.
   A dona Ana até tentantou me ensinar a bordar toalhas de mesa mas sem sucesso. Não tive cabeça pra aprender.
   Comecei a achar que ela estava fazendo isto para me manter ocupada para não ligar para a Marina, não me deixou sozinha desde o almoço.
   Por fim comecei a ler um livro, também antigo, da estante da sala de tv.
   Já estava achando que ia jantar sozinha com elas. Era tarde quando chegaram.
   Marina entrou no quarto me dando um beijo na testa dizendo que estava morrendo de saudades.
   Não digo nada, continuo lendo.
   _Trouxe pra você! -me estende uma caixinha de bombons.
   Pego a sem agradecer deixando ao meu lado.
   _O que foi? Tá com raiva de mim?
   _Estou!
   _O que eu fiz?
   Fecho o livro e a encaro pela primeira vez desde que chegou.
   _Você me deixou aqui sozinha com duas pessoas que eu nem conheço, não ligou e acha que vai compensar isto com um beijinho na testa e uma caixinha de bombom? Eu vim pra ficar com você e não com elas me enchendo de perguntas querendo saber da minha vida!
   _Desculpa, o meu pai me chamou pra ir. Eu queria que você fosse também mas você estava dormindo tão bonitinho que não quis te incomodar.
   _Que me levasse dormindo então!
   Ela sorri sentando ao meu lado. Seu sorriso me desarma.
   _Eu não pensei nisso, lamento.
   _Vê se pensa da proxima vez!
   _Ok. Podemos ir amanhã então, pode ser?
   _Também não quero! -me levanto- Não quero que me leve só por obrigação.
   Dou as costas para ela saindo do quarto.
   No andar de baixo, dou de cara com o Sr. Carlos. Cumprimento o e digo que havia pegado um livro da sua estante para ler.
   _Ah você gosta de ler?
   A sua pergunta não foi de alguém interessado em saber se eu gostava ou não, estava mais para uma pergunta de surpresa em saber que eu gostava de ler.
   Qual é? Ler é só para pessoas cultas e educadas?
   _E quem é que não gosta? -pergunto o encarando.
   _Muita gente! Hoje em dia é muito difícil achar alguém que goste de uma boa leitura, tudo hoje é só celulares, internet...
   _Pois é. Já não temos bons ecritores como antes. Tipo Machado de Asis, Cecília Meirelhes, Carlos Drummond, Vinícius de Morais, Cora e um monte de outros autores brasileiros. Os povo hoje em dia estão dando mais valor aos escritores estrangeiros e a esses youtuber.
   Mais um pontinho pra mim?
   _O senhor sabe o que é um youtuber, né? -pergunto triunfante ao ver a sua cara de surpreso ao ver que eu não sou uma insignificante.
   EU SEI DAS COISAS!!
   _Ah minha filha, eu estou por fora dessas modernidades de hoje.
   _Ah, quê isso, o senhor não é tão velho assim! Youtuber são pessoas que fazem videos para o Youtube.
   _Ah sim, claro...
   Nesse momento a tal da Maria aparece dizendo que a janta ja está pronta. Agradeço, peço licença aos dois e subo para o quarto para chamar a Marina.
   CULTA E EDUCADA!!
   Agora só me falta ser chique!

Ahhh eu queria ter acabado ontem no natal. Agora não tem mais graça!
Mas mesmo assim eu vou continuar porque eu não consigo parar de escreveeeer!!! 
      *-* *-*

NÃO É A MINHA CULPA SER ASSIM!!!  (Volume 1)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora