Capítulo 25

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     _O que você está fazendo? -pergunta Marina ao ver Raquel com a cara enfiada no celular.
   Deixando o celular de lado, Raquel vira se para ela.
   _Você por algum acaso sabe um jeito eficaz de cortar uma cebola sem arder os olhos?
   Marina sorri apoiando se na mesa da cozinha.
   _Do que você está falando?
   _Quero um jeito que dê certo de como cortar uma cebola sem que pareça que estão enfiando agulhas em meus olhos. Todas essas "dicas" da internet são tão idiotas... por um palito de fósforo no meio dos dentes, encher a boca de água... não funcionam!
   _Bom, eu corto elas debaixo d'água. E, vi na TV que, respirando pela boca, impedimos que os gazes liberados pela cebola ao ser cortada entrem pelo nosso nariz causando irritação nos olhos.
   Raquel levanta se pulando em seus braços.
   _Não sei o que eu seria sem você... -beija a- obrigada!
   _De nada... mas, por que você quer saber disto?
   Raquel se afasta.
   _Porque me deu vontade de comer bolinho de carne moída.
   _E...?
   _E que eu quero fazer, só que leva cebola e eu quase fiquei cega por causa delas!
   Marina acariciava suas bochechas.
   _Tadinha!
   _Chata!
   _Você não vai me dizer por onde andou?
   _Não... -diz Raquel se afastando.
   _Eu preciso saber se estava bem!
   _Se você não se preocupou antes, pra que se preocupar agora? -pergunta Raquel pegando os ingredientes na geladeira.
   _Vai começar com isto de novo? Já falamos sobre isto.
   _Tá tá tá, eu sei... e você sabe que eu não vou dizer!

   Dois meses havia se passado desde que Raquel saiu da casa de Sofia, desde então, não a procurou e nem sabia se estavam bem. Mesmo querendo não lembrar delas, Raquel acabava se lembrando, estava morrendo de saudades de Ana.
   Depois de várias vezes acordar no meio da noite com a sensação de que Ana estivesse dormindo ao seu lado, Raquel, "andando por aí sem destino", se viu parada em frente ao bar onde Sofia trabalha. Da janela se via Ramon atrás do balcão, não viu Sofia.
   Entrou.
   _Gatinha! -disse Ramon abrindo o seu sorriso que achava que era sedutor- quem é viva sempre aparece. Saudades de mim?
   Raquel o ignorou olhando em volta procurando por Sofia.
   _Sofia está de folga hoje? -pergunta parada a sua frente.
   _Eu sei que sou irresistível!
   _Você não imagina o quanto! Sofia está de folga hoje sim ou não? -insiste.
   Ainda era cedo, o bar tinha acabado de abrir.
   _Eu também estava morrendo de saudades de você gatinha!
   Raquel revira os olhos virando se para ir embora. Sabia que não ia conseguir nada ali, o jeito seria bater em sua porta.
   _Ei, espera! -diz Ramon segurando o seu braço- ela não trabalha mais aqui...
   Raquel se solta.
   _Por quê?
   _Não sei!
   _Deve ter arranjado coisa melhor do que trabalhar com você!
   _Ei, não fala assim -choramingou Ramon- todas as garotas querem trabalhar com o papai aqui.
   Raquel quase enfiou o dedo na garganta para vomitar.
   _Menos ela!
   _Ela principalmente. Morria de amores por mim.
   Raquel ri.
   _Mas ela pediu demissão porque ia se mudar.
   _Se mudar? -Raquel arregala os olhos surpresa- pra onde? Quando foi isto?
   _Não sei pra onde, acho que é pra cidade dela, sei lá! Tem um mês eu acho.
   _Que cidade?
   Raquel irritou se com ele por não saber o nome da cidade.
   _Você tem o número dela pelo menos?
   _Tenho.
   _Me passa ele então! -pede Raquel pegando o celular para gravar o seu número.
   Nas ações não pensadas de Raquel, assim que saiu do prédio aquele dia, ela apagou o seu número para não ter mais nenhuma contato com ela.
   _Vamos lá dentro que te mostro! -disse piscando para Raquel.
   _Vai se fuder seu idiota de merda! -diz Raquel dando lhe as costas.
   _Eu sei que você me ama! -gritou Ramon de dentro do bar quando Raquel bateu a porta atrás dela.
   "Que idiota!"
   Raquel andava na direção oposta do prédio onde Sofia morava. Por um lado, ficou aliviada pois estava sentindo se culpada por ter abandonado Ana, ela não tinha culpa de nada.
   "Bom, a minha parte eu fiz... tarde demais pro meu gosto!"
   Estava feliz por Sofia ter engolido o orgulho e voltado para a sua cidade.
   "Será que Ana irá gostar de lá? E seus pais? Deve ser estranho voltar pra um lugar depois de anos, as coisas mudam, as pessoas mudam... e dona ?"
   Raquel pensou em voltar lá para ver se a dona Jô ainda estava lá, perguntar se sabia para onde Sofia foi e se tinha algum contato com ela, mas já estava longe. Não ia voltar.
   "Seguir em frente, sempre em frente sem olhar para trás! "
   Era a vida lhe dizendo que era para ser assim.

   _Humm... um pouco de sal ficaria bom... -disse Marina depois de provar os bolinhos de Raquel já prontos.
   _É melhor do que salgado!
   _... mas... da próxima você acerta! -completa Marina.
   _Agora a bagunça é sua! -diz Raquel levando o prato para a pia.
   A cozinha estava uma zona.
   _Ei! Eu nem moro aqui!
   _Mas você comeu! Eu fiz o trabalho todo sozinha, agora você arruma.
   _Fez porque não me deixou ajudar!
   _Pra não dizer que eu sou má, vou te ajudar a guardar as vazilhas... e anda rápido que a minha mãe está quase chegando!
   Relutante, Marina foi arrumar a cozinha. Raquel mais atrapalhou do que ajudou.
   _Tem alguma roupa minha aqui? -pergunta Marina tentando secar a sua blusa molhada por Raquel.
   _Acho que sim.
   No quarto, Raquel procurava em meio a sua bagunça no guarda-roupa alguma roupa de Marina. Não achou.
   _Também, no meio dessa bagunça toda... dá pra esconder um elefante aí dentro! -diz Marina pegando a primeira que viu pela frente. Não ia ficar com a sua blusa molhada.
   _Não exagera tá!
   Raquel ficou ali sentada na beirada da cama vendo Marina tirar a sua blusa molhada. Vestiu uma camiseta preta de alguma banda.
   Sorriu.
   _Uau! -Raquel aproxima se dela- Você fica linda com qualquer coisa.
   E paradas ali, Raquel pendurada em seu pescoço perdida naqueles dois grandes olhos castanhos, ela sentiu uma vontade imensa de dizer a Marina que a amava, mas a sua voz não saiu.
   Marina disse por ela.
   _Eu te amo!
   "Eu também!"
   _Tá.
   Marina gruni apertando Raquel em seus braços.
   _Meu Deus! Eu ainda vou morrer sem ouvir da sua boca que me ama.
   _Você não vai morrer!
   "Eu nunca vou dizer que te amo, não quero que você morra." Raquel diz para si mesma se afastando dos braços de Marina.
   _Você não sabe -diz Marina pegando a sua blusa- amanhã eu posso não estar mais aqui.
   _Iii, vamos mudar de assunto por favor?
   _Tudo bem...
   Marina fica ali parada vendo Raquel trocar de roupa.
   _Para de olhar pra mim! Tenho vergonha.
   Marina sorri puxando Raquel para beija-la.
   _Nunca se esqueça que eu te amo e sempre vou te amar!
   _Como posso esquecer se você me diz de hora em hora? -pergunta Raquel rindo.
   Marina não diz nada.
   _Por quê?
   _Oi! Cheguei, tem alguém em casa? -grita a sua mãe do pé da escada.
   _A sua mãe chegou -diz Marina se afastando sem responder a sua pergunta. Pegou a sua blusa molhada saindo do quarto para estende-la no varal. Raquel vai atrás levando a sua.

NÃO É A MINHA CULPA SER ASSIM!!!  (Volume 1)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora