Capítulo 23

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     Raquel dormiu mal, acordou cedo. Tomou café sem vontade ligando o seu automático para ajudar Sofia na casa e a fazer o almoço.
   Mesmo Raquel dizendo estar bem, Sofia sabia que ela não estava e não ia força-la a dizer o que estava acontecendo, esperaria o momento certo em que Raquel estivesse pronta para ser abrir com ela.
   E Raquel já estava pronta.
   "De hoje não passa!"
   Decidida a dizer a verdade, Raquel arrumou as suas coisas deixando a sua mochila já no jeito. Não sabia qual seria a reação de Sofia, então podia se esperar de tudo. Esperou que Ana chegasse em casa primeiro.
   "Ela não vai querer me matar na frente da filha,  né? Ou vai?"
   Era por volta das 15h da tarde, todas estavam sentadas na sala. Sofia no sofá assistindo a sua novela e Ana e Raquel sentadas ao chão.
   Aproveitando que Ana se levantou para ir ao banheiro e aquele clima tranquilo, Raquel decidiu que seria agora ou nunca.
   _Oi... -disse sentando se ao lado de Sofia no sofá.
   _Oi! -Sofia sorri.
   _Então, eu preciso falar com você...
   Sofia se ajeita no sofá.
   _Estou ouvindo.
   _Primeiramente, eu tenho que te agradecer por tudo. Acho que ninguém faria por mim o que você fez, me tirou da rua me trazendo para a sua casa mesmo não me conhecendo... cuidou de mim... -segurou a mão de Sofia- eu só tenho a te agradecer do fundo do meu coração por tudo isto!
   _Não precisa agradecer... -disse Sofia juntando as suas mãos nas dela.
   _Mamãe...
   Ana estava parada ao lado do sofá coçando os olhinhos.
   _Você e Raquel são namoradas?
   Sofia mais que depressa pulou do sofá indo em direção a Ana.
   _O quê? -a segurou pelos braços- A onde você ouviu isto? -a sacudiu exigindo uma resposta- Responda!
   Ana abaixou a cabeça.
   _A Denna... ela me perguntou se vocês eram namoradas...
   _E o que você disse?
   _Eu disse que não sabia aí ela aposta que vocês duas são lésbica...
   Sofia a sacudiu mais uma vez.
   _Você nunca mais repita isto de novo, ouviu? Ouviu?
   Ana balança a cabeça afirmando.
   _Isto que você disse é feio, só por isto vai ficar de castigo, vai pro seu quarto e não saia de lá até eu mandar!
   Raquel ainda sentada, não acreditava no que acabara de ouvir. Foi como um soco repentino na boca do estômago.
   _É sério isto? -diz ficando de pé.
   _Ai perdoe me Raquel, ela não sabe o que fala. Hoje mesmo terei uma conversa muito séria com a Denna sobre isto, ela não pode ficar falando essas porcarias para uma criança, onde já se viu uma coisa dessa?
   E dessa vez o soco foi no queixo.
   "Você só pode estar de brincadeira!"
   _Não, não é isto... é que...
   Passou pela cabeça de Raquel que, se essa foi a reação de Sofia a uma pergunta inocente como aquela, imagina se soubesse que dividiu a sua cama com uma lésbica?
   _Olha, quer saber, eu já fiquei aqui tempo demais, eu preciso ir embora!
   Ana correu abraçando as suas pernas.
   _Desculpe pelo o que eu disse Raquel, não vai embora, eu não vou falar isto de novo.
   Raquel sentindo um aperto no peito, agachou ficando cara a cara com Ana.
   _Não se desculpe, bananinha -acariciou suas bochechas- a culpa não é sua, pelo contrário... Sabe, eu teria o maior orgulho de namorar a sua mãe, -olhou rapidamente para Sofia- afinal, ela me recebeu de braços abertos aqui e cuidou muito bem de mim... -deu de ombros- mas, eu preciso voltar, já fiquei tempo demais fora de casa e sinto que já não sou mais bem vinda nesta casa...
   _É claro que você é bem vinda, Raquel... -disse Sofia.
   Raquel levanta se.
   _Depois dessa, não tem nem como eu ficar aqui.
   _Eu não...
   _Não, não precisa dizer nada Sofia. Eu já estava pensando nisto mesmo, já estou pronta para voltar para casa!
   Sorriu forçadamente.
   Já parada na porta, Raquel agradeceu Sofia mais uma vez despedindo se das duas.
   _Você vai voltar Raquel? -pergunta Ana.
   _Não sei, tenho um monte de coisa pra fazer...
   _Espera! -disse Ana correndo para o quarto, voltou com uma boneca na mão. Raquel logo a reconheceu, Bruna a boneca de pano.
   _Pra você não esquecer de eu.
   Raquel agacha pegando a boneca.
   _Toma... tirou a sua gargantilha prendendo a no pescoço de Ana- pra você também não se esquecer de eu!
   As duas se abraçaram.
   Ana entretida com o seu presente, Raquel de pé se vira para Sofia.
   _Por favor, nunca mais fala com ela daquele jeito. Não deixe que ela cresça achando que amar uma outra mulher é errado... e, mais uma vez, obrigada por tudo!
   Descendo as escadas, Raquel parou em frente as caixas de correspondência dos apartamentos, procurou a do número 94.
   Tirou da mochila um envelope enfiando o dentro da caixa. Nele, Raquel pedia desculpas por ter sido grossa com Sofia naquele dia no bar antes de se conhecerem e por qualquer outra coisa que tenha feito que Sofia não tenha gostado, agradeceu por tudo e deixou uma quantia de dinheiro que julgou ser o suficiente para pagar as despesas que Sofia teve com ela. Sabia que Sofia não aceitaria se entregasse o dinheiro em mãos.
   Sem vontade de voltar para casa, Raquel pensou em esperar Lia sair do trabalho, mas daria de cara com Bruna se fizesse isto.
   Talvez devesse começar as coisas daí, acertaria as contas com Bruna primeiro.
   Olhando a boneca de pano em sua mão, Raquel sentiu um aperto no peito.
   Era inacreditável como uma coisinha pequena poderia mudar tudo. Até então, admirava Sofia por tudo, pelo o que passou, por ser uma mulher forte, por ter uma filha como Ana e por ter se preocupado com ela mesmo não a conhecendo. Mas, bastou uma simples pergunta inocente de uma criança, para Sofia jogar tudo por água abaixo. Não que Raquel não gostasse mais dela, mas, não havia mais sentido ficar perto de uma pessoa preconceituosa como ela.
   Ainda olhava para a boneca.
   _Desculpe, mas não me apego no que é passado!
   Raquel desculpou se com a boneca e saiu andando sem olhar para trás a deixando num banco qualquer de uma praça qualquer.
   Foi em direção ao trabalho de Lia, mas, assim que virou a esquina deu de cara com Félix.
   Pulou em seus braços.
   _FÉLIX!! -gritou.
   Félix parecia surpreso em vê-la.
   _Ei! O que você faz andando por esses lados? -pergunta abraçando a.
   _Então... -Raquel deu de ombros- sabe como é né... eu ando por aí sem destino certo!
   _Sei!
   _E você?
   _Comprinhas! -diz balançando umas sacolas- Ei, vamos lá pra casa, quero a sua opinião sobre como usa-las.
   _Nossa, você querendo a minha opinião? Que honra! Mas não posso,  vou me encontrar com Lia...
   _Nem vem. -Félix a pega pelo braço puxando a pela calçada- Ela pode esperar!
   _Tá né, não tenho escolha mesmo... -diz deixando ser levada por ele.
   No caminho até a sua casa, Félix contou lhe que estava saindo com um novo cara, ele era diferente, exótico, e precisava da sua opinião por ser diferente, rebelde e meio exótica igual o cara.
   Raquel riu alto quando ele disse que ela era meio exótica.
   _Não ri, é sério. Não me entenda mal, mas, vocês parecem ter o mesmo estilo... e não dá pra sairmos, eu todo arrumadinho, gel no cabelo, rimel e ele descabelado, roupas largas, rasgadas... -Félix suspira- Não vai ficar legal!
   _Você não sabe.
   _Sei sim!
   _Tá, tudo bem.
   Poucos minutos depois já estavam no apartamento do Félix. Raquel esteve lá poucas vezes mas sentiu se em casa jogando a mochila para um lado e sentando no sofá.
   Félix mostrou lhe tudo o que comprou. Calças, blusas, jaquetas e botas.
   Raquel riu.
   _Que desespero é este para querer mudar seu guarda roupa por causa de um homem?
   _Um homem não, meu amor, é O Homem com H maiúsculo. Ele é perfeito!
   Raquel suspira.
   _Ai ai... e aonde você conheceu esse Homem com H maiúsculo?
   Félix não a ouviu, mexia no celular.
   _Ei!!
   _O quê?
   _Para de mexer neste celular e presta atenção em mim!
   _Humm tadinha, toda carente...
   Raquel joga uma almofada nele.
   _Em? A onde você conheceu ele?
   Félix endireita o corpo com uma mão no peito.
   _Um homem nunca revela as suas fontes!
   Montando e desmontando looks, Félix não gostou de nenhum.
   _Por que você não faz um estilo próprio misturando o seu jeito todo certinho com o meu jeito "desleixado"?
   _Você não é desleixada. Você só não se mistura com o resto, não segue a moda, usa o que é confortável, o que lhe cai bem... entende?
   Raquel ri.
   _Eu entendi...
   Fazendo bico, Félix pega as suas roupas novas levando para o quarto, Raquel vai atrás.
   E lá se vão eles de novo montar e desmontar os looks.
   _Me conta mais de você, -pede Félix a Raquel enquanto guardava as roupas- você sumiu... por ande andou?
   _Eu não sumi, você é quem sumiu. O que andou aprontando?
   Felix pensou um pouco.
   _Trabalho, trabalho, festinhas... mais um pouco de trabalho e um pouco de putaria também por que ninguém é de ferro né! E é a sua cara desconversar e não falar de você...
   Raquel sorri.
   _Você me conhece bem!
   Neste momento a campainha toca.
   Félix da um pulo da cama.
   _A campainha... que será uma hora dessas? Não saia daí! -saiu saltitando porta afora.
   Raquel estranhou o seu jeito mas não deu importância. Ele era o Félix.
   Do quarto ouviu o Félix dizer.
   "Marina! Que surpresa boa você aqui!"
   "Marina!?" Sentiu um frio na barriga ao ouvir o seu nome "O que ela faz aqui?"
   Atrás da porta, Raquel ouvia eles conversando.
   "Por que você está gritando?"
   "Eu gritando? Hahaha nem reparei... Você não vai acreditar quem está aqui..."
   "Filho da puta, eu vou te matar!"
   Raquel queria se esconder mas ali não havia lugar para se esconder. A cama era uma cama box, o guarda roupa não tinha espaço e a janela tinha grade.
   "Que droga Félix!"
   Respirando fundo, Raquel foi para a sala para acabar com aquilo de uma vez por todas. 

NÃO É A MINHA CULPA SER ASSIM!!!  (Volume 1)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora