Pavor e Consolo - Ethan Jones

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A rotina é formada por todas as pequenas partes, muitas vezes consideradas desimportantes ou insignificantes, do dia a dia. Quando uma dessas partes, no entanto, sai de ordem, tudo acaba mudando de lugar. E foi assim que Ethan Jones se percebeu perdido em meio à sua própria rotina.

Levantar pela manhã, cuidar dos gêmeos, ir para a aula, deixar os filhos no Day Care da faculdade, buscá-los para o almoço, entregá-los a Adam no fim da tarde e ir treinar futebol. Tudo exatamente como havia sido pelos últimos tantos meses. Exceto por uma pequena parte, que era a ausência de Kelly Wilson. 

A ultima visita dela havia sido feita à luz do dia, durado poucos minutos, e decorrido da forma profissional como deveria ter sido desde o inicio. Ethan odiou cada momento da distância entre eles, mesmo quando se encontravam tão próximos. Ele ligou para ela, uma, duas, na terceira vez ela não atendeu mais. "É melhor assim." Foi a mensagem de explicação que ela enviou para ele. Ambos sabiam que ela estava certa. Ethan decidiu esperar. 

Quando a campainha tocou naquele sábado de manhã, ele sentiu seu coração quase saltar para fora do peito, desesperado somente com a ideia de que do outro lado da porta, Kelly estaria esperando por ele. Mas no fundo, ele sabia que sua esperança era vazia, e a moça em questão era mais forte do que ele jamais seria, e não voltaria atrás em sua tão sensata decisão.

"Bom dia para você também Ethan, é bom ver o quão feliz você ficou em me ver." Candance revirou os olhos quando ele abriu a porta com uma expressão neutra no rosto.

"Sorry, Candy." Ele sorriu de lado, um meio sorriso que ela sabia não ser o verdadeiro dele. "Dias difíceis." Ele deu de ombros e abriu mais a porta para que a amiga pudesse passar, de alguma forma, as duas únicas palavras por ele pronunciadas já eram suficientes para servir de explicação para ela.

Candance olhou ao redor e não notou nada fora de ordem. A casa estava como sempre, organizada em sua desorganização, limpa pela diarista que ela sabia vir aqui duas vezes na semana, mas o sentimento que ela tinha era de que algo estava faltando. 

"Onde estão os gêmeos?" Ela perguntou enquanto ele andava calmamente de volta ao sofá onde antes estava fingindo assistir ao jogo de futebol que ele não sabia o placar.

"Passaram a noite com o meu pai." Ethan disse simples. "A audiência é daqui a três dias Candy, e eu não posso culpar o doutor por querer passar cada segundo possível com eles."

"O que você quer dizer, Ethan?" Ela cruzou os braços e uma expressão afiada tomou conta da feições delicadas de seu rosto. 

"Nós dois sabemos o que eu quero dizer, Candance." Ele levantou os olhos para encará-la e por um instante deixou toda a sua frustração dos últimos dias transbordar naquelas palavras. "Érica Miller pode muito bem ganhar a guarda deles na segunda feira, já que ela tem uma família estruturada, o dia inteiro para cuidar dos dois e bons advogados. Enquanto eu, eu tenho mais de um ano de faculdade pela frente ainda, vivo do dinheiro da herança que a minha avó deixou para mim, moro sozinho e tenho uma advogada que mal consegue ser coerente quando está perto do meu pai, então não me condene por estar com medo."

"Medo, Ethan?" Ela disse e seu tom de voz era de pura incredulidade. "Não é medo que eu tô vendo estampado na sua cara Jones, é derrota, pura e simples. Você já parou de lutar!"

"Não se atreva a vir aqui e querer me dizer que eu não estou lutando, droga!" Ele se pôs de pé e jogou as mãos para cima, exasperado. "Tudo que eu tenho feito é lutar Candance e você melhor do que ninguém sabe muito bem disso! Eu lutei para eles nascerem quando a Jhulia quis abortar, eu lutei para ser um pai, quando eu mal tive um na infância para me mostrar como é. Eu mudei meu mundo de lugar por eles, e de uma hora para outra, parece que tudo resolveu conspirar para eu perder os dois. Ayden e Ayvan são minha vida Candance, e só a ideia de viver sem eles por perto todos os dias, já me deixa assim." Ele apontou para si mesmo antes de continuar a falar, como se quisesse que ela visse o estado dele e constatasse a verdade em suas palavras. "Eu não desisti, mas vocês está certa. Medo é pouco para descrever o meu estado, eu estou apavorado com a possibilidade de daqui a três dias uma droga de juiz que não sabe de nada da minha vida, resolver decidir que o melhor lugar para eles é bem longe de mim."

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