Donna

711 97 39
                                    


Essa semana foi meu aniversário, cadê meus parabéns?!! Hahaha


***

Se havia uma data que fazia Donna White querer se esconder do resto do mundo, essa data era o seu aniversário. Sentada de frente a uma lareira artificial ela tomava chá enquanto ouvia o característico som da chuva sempre presente em sua amada Inglaterra. Ah, como ela havia sentido falta deste lugar. 

Há vinte anos Donna não pisava em sua terra natal. Vinte anos atrás, de malas cheias e um coração vazio, ela havia dado as costas a tudo aquilo que a lembrava do que agora era perdido. No seu ultimo aniversário nas terras da rainha, ela havia recebido de presente a surpresa de ser rejeitada. Nas mãos, vinte anos mais tarde ela segurava com firmeza a folha de papel com as pontas agora amareladas que continham as palavras que ela desejava ter dito. As palavras que ele nunca ouviu. As palavras que ela havia escrito durante os últimos minutos do seu aniversário, saboreando sozinha o gosto do vinho amargo entre os seus dedos  e o coração partido em seu peito. 

E foi por saber que a data de seu aniversário tinha a propensão de trazer sempre más notícias que Donna se assustou ao ouvir o telefone tocar. Há anos ela se escondia e implorava aos céus para que aquele dia acabasse logo. Para que o pesadelo de perder uma parte de seu coração não voltasse a se repetir. Mas o telefone soou e marcando 23:47 da noite, ela sabia que seu pedido havia sido negado. Com dedos trêmulos, ela levou uma das mãos até o aparelho, e em silêncio esperou o que viria. 

Um, dois, trinta segundos. Quando um minuto inteiro se passou sem nada ser dito em nenhum dos lados da linha, ela sentiu o aperto em seu peito se tornar mais forte.

"Não desligue ainda." A voz do outro lado da linha soou baixinha, mas clara e mais alguns longos segundos se passaram para que ela se convencesse de que era mesmo a voz dele. A voz da qual ela havia fugido por vinte anos.

"Adam..." Ela sussurrou e ouviu um respirar profundo soar do outro lado da linha.

"Soube que estava de volta na cidade." Ele disse baixo e ela soluçou em desespero. Não podia desligar. Ela queria fugir, correr, voltar para a França. Mas não podia. Seus dedos apertavam com força o aparelho em suas mãos e seu coração queimava dentro do peito. 

"Como ousa?" Ela sussurrou e ele suspirou outra vez.

"Donna, eu..." Ele tentou dizer mas ela se pôs de pé como se quisesse fisicamente se colocar o mais longe possível dele. O telefone ainda preso entre suas mãos tornava sua atitude patética.

"Não, não, não. Eu não quero ouvir Adam. Para." Ela pediu quase que desesperada e ele engoliu um soluço do outro lado da linha. 

"Donna, se acalma." Ele disse e ela olhou em volta de si freneticamente como se a qualquer instante ele fosse pular de um dos cantos vazios de sua casa. A casa que havia sido de seus pais. A casa que ela não havia visitado em vinte anos. Por causa dele, por ele. Tudo por ele. 

"Me acalmar? Como pode me pedir para me acalmar? Adam!" Ela gritou se sentando no chão da sala um tanto quanto empoeirada quando seus joelhos se recusaram a lhe oferecer suporte. "Como ousa?" Ela perguntou outra vez e teve como resposta o silêncio. 

Adam Jones estava sentado nos pequenos degraus que indicavam o caminho que ele havia feito tantas vezes no passado. A casa de fachada desbotada e jardim mal cuidado parecia zombar de sua situação. Sentado sozinho no meio da noite, no frio causado pela chuva que não dava trégua, Adam não tinha forças para se levantar. Para ir embora, para ignorar o som dos soluços dela. Seus pés firmados no chão eram impedidos por seu coração de dar as costas outra vez. 

Reason (Real #2)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora