16 - Não tão próximos

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- Você só pode estar brincando comigo! – Eu digo em algo e bom som para todas as pessoas olharem para nós dois. O menino continuava com a corda do ônibus na mão e ele realmente estava apavorado. O motorista freia o ônibus na nossa parada e a porta de trás é aberta. – Desculpa – eu digo olhando para o cobrador que parece não se importar muito com o que havia acontecido. Aproveito a chance - de que ninguém irá nos matar por termos quebrado parte do ônibus – e vamos embora.

Estou segurando o braço do menino, pois só assim que consegui fazer com que ele saísse de seu transe. Pelo menos ele não havia esquecido a sua sacola dentro do ônibus.

- Você é muito idiota! – Eu digo. – Como é que você faz isso?

- Você me assustou pra caramba lá! A parada! – Essa última parte ele diz me imitando e percebo que algumas pessoas na rua começaram a reparar em nós dois, principalmente as pessoas que estavam na parada. Uma mãe puxou o seu filho para longe de nós dois.

- Vamos andando, certo? – Suspiro.

Quando só estamos um pouco longe da parada eu escuto um:

- Ei, elevador...

- O que foi? – Eu olho para ele que está agachado no chão segurando uma coisa... Uma coisa bem familiar! Sinto que estou em liberdade e vejo que aquele ali é o meu top. Cubro meus seios com as mãos. – Era só o que me faltava. Dê-me isso aqui!

Arranquei o top de suas mãos da maneira mais rápida que consegui e já estava praticamente andando em disparada para casa.

- Ei! – Ele grita atrás de mim.

- Não irei parar agora. – Eu digo para o vento.

Escuto seus passos correndo em minha direção e ele me para com a mão em meu ombro.

- Eu tenho uma irmã – ele me diz. – E isso pode realmente acontecer, mas o que não irá ser legal é você andar isso tudo desse jeito. Sério mesmo. Eu faço uma barreira. Você nesse momento é minha irmã mais nova e eu irei ajudar você.

- Oi?

Ele aponta para uma árvore que ficava de frente a um muro.

- Você se ajeita e eu vigio, que tal?

Olhei para ele e para o que poderia ser a minha salvação. Até que terminei optando por acabar com todo esse constrangimento.

Fui para trás da árvore e ele ficou vigiando a rua. Olhei algumas vezes para ter certeza de que ele não estava espiando e ele parecia ser uma mistura daqueles guardas do Palácio de Buckingham em Londres com alguns guardas de boates, que cruzavam os braços nos peitos estufados. Ataquei o maldito top e me senti melhor.

- Obrigada. – Eu digo quando saio.

- Minha nossa! – Ele diz alarmado.

- O que foi? – Arregalo os olhos.

- Tinha uma câmera no muro! – Ele aponta para um determinado local. Eu sigo com os meus olhos, mas não encontro nada. O menino começa a rir.

- Estou brincando. Você tem que começar a observar melhor os cantos. Eu já tinha visto que não tinha.

Saio andando apressada. É, será que eu não estava de TPM?

- Ei, eu estava brincando! A sua cara de susto foi uma forma de você me agradecer pelo que fiz. Estamos quites!

- Só vamos estar quites se eu te socar na cara! – Fingi que iria dar um murro nele e comecei a rir quando ele se encolheu todo com medo do meu soco. – Sabe, não era para ser você aqui.

- Não?

- Não. Era para ser outra pessoa. – Digo chutando uma pedra.

- É bom saber que você aproveita a minha companhia – ele diz com sarcasmo e continua acompanhando os meus passos.

- Não é bem assim – digo querendo consertar o que havia dito – é que estou passando por uma situação com um amigo meu.

- Vocês brigaram? – Ele pergunta.

- Não seria bem uma briga, mas sinto que tem algo diferente e a culpa de tudo é minha ou é porque eu não sei o que fazer nessa situação.

Algo que eu nunca havia feito era contar sobre a minha vida para um total estranho, mas pensando bem ele já não era tão estranho assim. Ele se enquadrava perto do carinha que vende cachorro quente na frente do colégio, não sabia nada sobre ele, mas já tinha conversado um pouco para que ele se tornasse um rosto conhecido.

O sol está um pouco forte, mas agradeço pela rua ter muitas árvores, bom, não muitas, mas, tem bem mais que a média. Um vento abafado passa por nós dois e eu fico pensando em como estariam todos na piscina.

- Qual situação? – Ele pergunta e termina me tirando aquele pensamento.

- Ahhh nós não somos tão próximos assim. – Digo com sinceridade. – Acho que tem certas coisas que não devemos falar para pessoas que não conhecemos.

- Você realmente é uma coisa... – Ele diz brincalhão. – O que você quer saber?

- Sobre você? – Ergo uma sobrancelha.

- Sim.

- Acho que você poderia dizer o seu nome.

- Certo, é um bom começo. Meu nome é Pedro.

- Lorena.

Ele estendeu a sua mão para mim e eu a apertei. Seu aperto de mão era firme, só que suas mãos eram frias.

- Nossa, você está bem? – Digo olhando para ele.

- Sempre tive isso em determinados momentos.

Ficamos sem falar até que chegamos de frente para a sua casa. Ela era branca e tinha um portão enorme, o que não me deixava ver como era por dentro. Até que me lembro daquele dia na festa e percebo que ele não estuda no mesmo colégio que eu.

- Quem você conhecia lá na festa? – Eu pergunto curiosa.

- Ninguém.

Fico olhando para ele atônita.

- Quê?? Você era um penetra?

- Lógico que não – ele começa a rir – acho que iria começar a passar mal de nervoso e a asma iria me denunciar. – Finjo que vou bater nele e ele se encolhe de brincadeira – Conheço o Narciso.

- Narciso de Linda? – Lembro do menino que se declarou para a menina que já tinha um namorado na frente de todo o colégio. Não foi uma cena bonita, estava mais para desesperadora.

- É, eu sei. Aquilo foi terrível. Eu estava lá ajudando ele para elaborar tudo, mas, como você deve ter visto, não foi nada agradável. – Ele fez uma careta com a lembrança da cena.

- É... – Só consigo dizer isso. Pelo menos ele não era mais um cara tão desconhecido assim.

Ele retirou a chave do bolso e começou a abrir o portão.

- Qual era o assunto tão urgente assim? – Me referi ao que o fez correr que nem um condenado para o ônibus.

- Não somos tão próximos assim – ele me deu o troco e sorriu. – O que aconteceu com o seu amigo?

- Não somos tão próximos.

- Está bem, menina não tão próxima assim. – E dizendo isso ele entrou e fechou o portão.


(Espero que estejam gostando da história :3)

Como Deixar de Amar o Seu Melhor AmigoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora