8 - Meu quarto, minha vida

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É terrível quando você quer ficar sozinha e fica sentindo a presença de outra pessoa no seu encalço. Ele poderia estar calado e com um bom espaço entre nós dois, mas eu sabia que ele estava olhando para mim. Podia sentir minhas costas ardendo e sabia que eram os seus olhos. Ele não havia dito em que local morava. Espero que não falte muito tempo, porém, eu não quero chegar em casa antes dele. Não quero que ele veja onde moro.

- Você está me seguindo? – Paro e me viro para encará-lo. Ele também para, surpreso. – Você não necessariamente mora por aqui, certo?

- Errado. – Ele puxa uma chave em seu bolso e para na frente de um portão de uma casa. Coincidentemente ou milagrosamente a chave abre o portão. – Irritada e desconfiada. Uma ótima mistura.

- Desculpa. – Disse querendo enterrar minha cabeça em qualquer canto do chão, como os avestruzes. – É que a noite não foi bem como eu planejei.

- A minha também não. – Ele abriu o portão e começou a entrar. Depois parou e pressenti que ele iria falar algo a mais, porém ele só se despediu e entrou.

Era o que eu queria. Ficar sozinha naquela noite fria. Todos os meus amigos estavam na festa. E eu tinha sorte por ainda serem dez horas da noite. Até que horas a festa iria rolar eu não sabia. Não deveria me importar com isso. Olhei mais uma vez para o local em que aquele menino entrara. Pelo menos ele não me incomodou tanto.

Mas acredito que era ele quem estava bloqueando os meus pensamentos sobre o beijo.

Agora que estava sozinha eu ainda podia vê-los se beijando na minha frente.

- Que ódio!

Sim, era ódio.

Aquela era uma situação que poderia nunca acontecer. Uma situação desnecessária que estava ocorrendo por minha culpa. Como você mata um sentimento por alguém? Quando cheguei em casa percebi pela cara de meus pais que eles não me esperavam chegar nem tão cedo.

- Cadê Henrique? – Meu pai perguntou.

- Ficou lá. – Disse desanimada.

- Você voltou sozinha? – Minha mãe perguntou preocupada. Eles iriam brigar comigo e com Henrique por me deixar andar sozinha de noite assim. Não vejo o porquê de eles brigarem tanto comigo quanto a isto. Um dia eu irei morar sozinha e viver sozinha. Irei andar sozinha pelas ruas.

- Não, mãe. Outro amigo me trouxe aqui. – Menti.

Pude ver seu semblante suavizar.

Depois disso fui me arrastando até o meu quarto e me joguei na cama.

BOOM!

Pronto. O meu corpo já não conseguia mais se mexer.

Ali estava eu em meu quarto – típico de uma adolescente. Uma cama, um guarda-roupa e um canto para o computador. Um espelho e uma parede repleta de fotos e recortes de revista. Se alguém dissesse que me conhece 100% eu iria dizer que essa pessoa estaria mentindo. Acho que se meu quarto fosse uma pessoa ele iria saber dos meus sentimentos mais íntimos. Ele iria estar presente nos momentos mais importantes de minha vida. Pois é quando a porta do quarto se fecha que eu deixo sair o que realmente estou sentindo. Ele me conhece. E desta vez ele estava experimentando um sentimento novo.

Meus ouvidos estavam zunindo por conta do barulho das caixas de som da festa. Meu corpo parecia flutuar por finalmente conseguir descansar. Não havia dançado muito, mas eu era sedentária, qualquer coisa iria ser um enorme esforço para o meu corpo. Olhava para o teto de meu quarto, como se ele fosse me reconfortar. Uma lágrima tímida passeava pelo meu rosto, até ser seguida por várias outras. Elas escorriam na tentativa de retirar de mim aquele sentimento de angústia que estava sentindo.

Atéque finalmente adormeci.    


Como Deixar de Amar o Seu Melhor AmigoWhere stories live. Discover now