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Ethan se deixou entrar na casa do pai usando a chave que ele ainda guardava consigo desde os dias de adolescente. O choro dos bebês agora já era quase inaudível. Com resmungos soltos, um ou outro davam gritinhos de protesto mais alto quando achavam estar sendo ignorados pelo pai. Mas ele sabia que algo estava errado. Não era comum este comportamento dos gêmeos. Sentado na cozinha, despreocupadamente lendo um jornal, Doutor Adam Jones mal levantou os olhos para encarar aquele que invadia sua casa. 

"Sua mãe não te ensinou a bater antes de entrar, Ethan?" O senhor de meia idade perguntou e o mais novo não pode evitar o revirar de olhos diante da pergunta. 

"Diana me ensinou muita coisa pai, mas acho que ela esqueceu deste detalhe." Ethan respondeu e se abaixou para tocar no rosto de um dos gêmeos. Ao menos eles não estavam febris. "Mas não foi para discutir etiqueta que eu vim até aqui. Preciso da sua ajuda."

"Da ultima vez que ouvi esta expressão vinda de você Ethan, eu passei o restante do meu dia carregando sacolas de fraudas e mamadeiras, não estou disposto a repetir o incidente." Adam falou e Ethan o ignorou. 

"Ayvan tá' chorando sem parar e eu não sei mais o que fazer. Ayden resolveu entrar na brincadeira e agora eu tenho dois bebês gritando no meu ouvido quando eu sou incapaz de entender o que eles querem que eu faça para eles ficarem bem outra vez." Ethan disse e não foi preciso o diploma de psicologia de Adam para perceber que o filho estava a beira de um ataque de nervos. Sem dizer uma só palavra, Adam se levantou da banqueta em que estava sentado e lentamente, se abaixou para encarar os gêmeos que agora estavam acordados e se remexendo no carrinho. 

"Como vão rapazes? Seu pai diz que vocês acordaram meio aborrecidos hoje. Ayvan, foi você quem começou toda essa confusão?" Adam disse tudo em um tom de voz calmo, baixo e quase como em um sussurro divertido. Acariciando o rosto e a barriga dos dois, ele viu quando ambos abriram sorrisos idênticos para responder ao carinho dele. "Ah, entendi!" O tom de voz não mudou. "A culpa não foi de vocês não é? Você só estava aborrecido e o papai não entendeu." Ele disse diretamente para Ayvan. "E você, Ayden, queria somente apoiar a causa do seu irmão, entendo." Os olhinhos dos gêmeos agora já estavam quase fechados. "Já passou?" Outro sorriso dengoso. "Tudo bem, podem descansar. Eu acordo vocês na hora do lanche." Dizendo isso, Adam Jones fez um último carinho na cabeça de um dos gêmeos e se levantou. Ethan o encarava boquiaberto.

"O que você fez? Como? Eu... O quê?" Quando a voz dele subiu uma oitava na ultima palavra, Adam o lançou um olhar de aviso e ele se calou. Apontando com a cabeça para a direção da sala, ele se pôs a caminhar em silêncio até o local onde ele poderia conversar com o pai sem acordar os gêmeos. 

"O problema não estava nos gêmeos, Ethan." Adam disse,calmo, e Ethan cerrou os olhos.

"Eu não fiz nada de errado, pai! O senhor sabe que eu jamais machucaria eles." A negação eminente fez o Jones mais velho sorrir. 

"Bebês choram por vários motivos Ethan. Ayvan não sabe quando você o observa dormir, mas sabe quando o seu tom de voz muda. Ayden vai fazer o possível para te fazer perceber quando o irmão estiver sentindo algo errado. Desde agora Ethan, eles olham um pelo outro. Ayvan não estava doente, estava com medo." Ethan queria dizer ao pai que não era hora para uma aula de psicologia comportamental humana. Ele queria o seu pai e não o doutor, mas no fundo, ele ficou intrigado com a resposta que recebeu. "Eles, Ayvan principalmente, percebem quando você não está bem.  O choro deles era um pedido por segurança. Tudo que eles precisavam era de alguém para dizer que vai ficar tudo bem."

"E quem é que vai me dizer que vai ficar tudo bem, pai? Por que eu, sinceramente, não posso saber se realmente vai ficar tudo bem ou não." Ethan disse se sentando no sofá e encarando o chão, a cabeça apoiada entre as mãos. "E se eles ganharem a causa, o que eu faço? Aceito as visitas nos fins de semana? Eles são meus filhos, pai, côrte nenhuma devia se quer questionar meu direito de estar com eles."

"Quando você abaixa a cabeça Ethan, são eles que dão mais um passo na direção da vitória. Se você quer manter a guarda dos seus filhos, criança, lute por eles. Seja o pai que eles precisam, mas seja também o homem que a vida te ensinou a ser." Adam tocou nos cabelos do filho, como fazia quando ele ainda era criança e precisava de conforto, mas já não cabia mais no colo. "Você nunca cultivou o habito de desistir Ethan, não comece agora."

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Kelly encarou o arquivo em suas mãos com o cenho franzido.

JONES, Ethan C. (Guardião, Genitor - Pai) - 21

Gêmeos. JONES, Ayvan N. e Ayden G. - 06/1

MILLER, Jhulia M. (Genitora - Mãe [Ausente]) - 19

MILLER, Erica K. (Requerente, Avó Materna) - 45

Ressalva: Dependente 1 - Ayvan Noah Jones - Deficiente visual (Não tratável).

Aparentemente, o 'Caso 17263#B', nada mais seria do que a briga na justiça pela guarda de duas crianças. O status Ausente da mãe indicava que a mesma havia abdicado dos direitos sobre os filhos. Kelly não podia entender como uma mãe, alguém que se dispõe a carregar preciosas vidas por meses em seu próprio ventre, simplesmente abandona todos os direitos em seguida. Kelly não poderia saber os motivos de Jhulia Miller, mas desde aquele momento, ela já tomou como anotação um precedente ruim para a família Miller. 'O fruto não cai muito longe do pé', diz o ditado, e se o mesmo carregasse um pouco que fosse de verdade, então ela sabia que o desconhecido, mas já percebido como corajoso Ethan Carlisle Jones, era a melhor opção para os dois bebês. Mas de primeiras impressões não trabalham os assistentes sociais, é o que dizia seu pomposo professor da faculdade, então,  amanhã somente, ela se encontraria pela primeira vez com o objeto de seu pensamento naquele instante. Muito em breve ela faria sua primeira visita de rotina na casa dos Jones. 

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Espero que tenha gostado! Sei que ainda tá um pouco confuso, mas é só o começo. Prometo que nos próximos vai ficar mais fácil de entender a trama. 

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Beijo Beijo e obrigada por estarem aqui!

Fiquem com Deus!











Reason (Real #2)Where stories live. Discover now