Capítulo 51 - A despedida

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AS MEMÓRIAS DE COSTEL

"A Primeira Guerra Mundial teve um impacto profundo na Europa, causando devastação, perdas humanas significativas e mudanças territoriais. Em 1928, os países ainda estavam se esforçando para se recuperar economicamente e reconstruir a sociedade. O Tratado de Versalhes, assinado em 1919, impôs condições rigorosas à Alemanha no pós-guerra, incluindo reparações financeiras e restrições militares. Isso criou tensões e insatisfação entre os alemães, o que, de certa maneira, contribuiu para eventos futuros, como a ascensão do nazismo.

Para o restante do Velho Continente, os "Loucos Anos 20" ou "Anos Dourados", trouxeram a esperança de mudanças contumazes tanto na cultura quanto nos costumes mundanos. Na Transilvânia, apesar das tensões costumeiras devido à criação do novo estado romeno — com a anexação de território da Bessarábia e de Bucovina e Banato —, ainda se era possível prosperar economicamente e, em matéria de grana, aquela foi a melhor década em muito tempo para os irmãos Grigorescu.

Naquele ano, Alina e eu havíamos nos tornado empresários, e a nossa mineradora começava a faturar horrores com a extração de níquel, paládio e até o ouro na Rússia. Os nossos investimentos patrimoniais tinham sido muito bem empregados na remodelação da Rassvet, e todo o lucro conquistado nos primeiros meses foi investido na contratação de mais empregados e na modernização dos equipamentos de fragmentação primária, granulação, moagem, classificação e a concentração da matéria-prima.

Perto de outros investidores russos menos sortudos, nós dois tínhamos ganhado na loteria com o ramo extrativista, e o dinheiro levantado naquele tempo permitiu que vivêssemos confortavelmente por um período muito longo de nossa vida.

Se eu não tivesse conhecido Hajna Kóvacs no Clube Plăcere, toda a história seria diferente. Não haveria Adon Gorky. Thænael. Possessão demoníaca. A guerra sem fim que se desenrolou por quase cinquenta anos. A minha morte.

Eu poderia ter vivido feliz com uma esposa digna. Alina e eu ainda seríamos sócios na Rassvet. E todo aquele sofrimento seria evitado.

Alguns dias antes do meu fatídico encontro com a dançarina húngara à porta do Plăcere, eu fui buscar a minha irmã de carro em frente ao escritório da refinaria em Cluj, a duzentos quilômetros de casa, e, no caminho, nós resolvemos fazer uma parada em um cinema de rua. Eu a havia repreendido pela sua obsessão em mineração, dizendo que ela tinha ficado muito chata desde que se tornara uma mulher de negócios, e Alina topou desacelerar o ritmo profissional se dando ao luxo de perder algumas horas com lazer.

Sei que não somos pessoas normais e nem vamos ser nunca mais. Mas que tal fingirmos que somos apenas dois irmãos indo ver um filme de maneira despretensiosa?

Ela estava sentada no banco do carona quando abriu aquele sorriso encantador da menina faceira que eu conhecera nos campos de uva da Valáquia. Senti todo o peso das responsabilidades em cuidar do nosso dinheiro se esvair com um suspiro e descemos juntos para comprarmos as entradas de um filme norte-americano que havia acabado de estrear na Europa.

"Tem certeza de que quer assistir a um filme do Charles Chaplin?", indagou-me ela, enquanto seguíamos o fluxo da pequena fila em frente à bilheteria. O cartaz em preto e branco anunciava 'O Circo' estrelado pelo astro do cinema mudo. Alina soltou um risinho, como que duvidando da minha escolha de entretenimento para aquela noite.

Pode não parecer, mas eu sou um cara de humor refinado. Eu gosto de uma boa comédia!

Ela não respondeu, mas continuou com a cara de deboche que ela só fazia quando queria me provocar reações contraditórias. Alina me conhecia mais do que ninguém.

Alina e a Chave do InfinitoOnde as histórias ganham vida. Descobre agora