Capítulo 42 - Ouçam a nossa voz

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AS MEMÓRIAS DE COSTEL

"Zakynthos era uma ilha localizada no Mar Jônico conhecida por suas praias deslumbrantes, águas cristalinas e paisagens naturais. Entre 1967 e 1974, a Grécia estava sob um regime militar conhecido como a 'Ditadura dos Coronéis', período em que houve restrições à liberdade civil dos gregos e onde o turismo com as atividades de estrangeiros no país era proibido.

A partir de 1975, com a queda do regime militar e o restabelecimento de um governo democrático, as belas paisagens da Grécia voltaram a atrair turistas de todos os lugares do mundo, o que enriqueceu ainda mais a economia local.

Naquele ano, a praia de Navagio — um dos principais cartões postais de Zakynthos — estava recebendo um grupo com cerca de cinquenta estudantes ingleses que celebravam a vida em meio à natureza exuberante. Era noite, eles dançavam e bebiam em torno de uma fogueira. Música empolgante era tocada. Casais de namorados se abraçavam. Amigos se divertiam juntos... o que aconteceu em seguida os pegou completamente desprevenidos.

[...]

A estrutura megalítica da porta dimensional desenvolvida pela Die Maschine ainda não tinha sido testada e, por essa razão, foi erguida em uma área mais afastada da praia de Navagio, longe de olhares mais curiosos, porém, não tão fora de alcance. Naquela posição, a armação podia captar com facilidade a brisa do mar e a temperatura elevada das suas areias claras. Elementos essenciais para o seu bom-funcionamento.

As equipes da empresa alemã de tecnologia desembarcaram na ilha uma semana antes do teste e trabalharam rápido na montagem das duas colunas côncavas que se mantinham afastadas vinte metros uma da outra e que se conectavam no alto por uma haste fina por onde passava uma corrente elétrica gerada por suas pontas. Ladeando o portal, ficava instalado um console capaz de controlar a potência dos campos de energia que alimentavam as colunas e que permitiam a comunicação com o outro lado.

Naquela época, eu não sabia como a tal prova de funcionalidade se daria, mas quando descobri, era tarde demais para tentar impedir.

Na noite em que os estudantes ingleses chegaram à Zakynthos, o céu estava límpido e as estrelas salpicavam o horizonte em um espetáculo de luzes bruxuleantes. Os risos e gritos de alegria ecoavam ao longe. A música tocada ao vivo por uma banda grega reverberava nas caixas acústicas instaladas no lugar, aumentando ainda mais o clima contagiante de felicidade juvenil.

Ao ser ativado, o portal causou um atroamento que sacudiu a areia sob os pés dos presentes, e que lhes chamou a atenção imediatamente para o clarão ofuscante que vinha da direção oeste de onde eles estavam.

Assustados, mas curiosos para saber o que estava acontecendo, alguns dos universitários andaram em direção aos dois postes curvos que pareciam gerar uma energia absurda de sua base. O brilho emanado pelos arcos era quase cegante e um chiado atordoante soava deles. Quanto mais a garotada se aproximava, mais nítido ecoava um cântico murmurado por um conjunto de dezenas de vozes ocultas nas sombras da noite.

'Vocem nostram audi. Veni ad nos. Accipe tributum nostrum'. [1]

O chamado os atraía, mas não estava sendo direcionado para eles. Na verdade, os jovens eram o tributo, e as suas almas estavam sendo oferecidas aos seres das profundezas que os enxergavam do outro lado do portal.

'Vocem nostram audi. Veni ad nos. Accipe tributum nostrum'.

Um novo bramido antecedeu uma detonação púrpura que partiu do centro entre os dois postes e que avançou como uma onda irresistível em direção à praia, em direção aos estudantes. Em pouco tempo, todos eles estavam sendo atingidos por uma força magnética que os paralisou e que começou a absorver o seu espírito. A sua essência.

Alina e a Chave do InfinitoWhere stories live. Discover now