Capítulo 43 - Revelações em Stuttgart

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A VIAGEM DE TREM da Tchecoslováquia até a Alemanha era longa, mas permitiu que Akanni e eu trocássemos várias informações a respeito das nossas missões nos últimos dias, bem como tudo que vínhamos enfrentando. No caminho até a sede da Célula, o meu companheiro angelical afirmou que, mesmo sem conseguir nos rastrear por meio da magia, os nossos inimigos continuavam seguindo cada passo que dávamos, o que significava que estávamos sendo óbvios demais.

— Não havia como prever que nós dois estaríamos em Praga naquele exato momento, porém, os guardas do terceiro andar já pareciam à nossa espera, com as armas engatilhadas — disse ele, enquanto relaxávamos os músculos cansados na cabine confortável do trem que seguia até Berlim.

— O mesmo aconteceu quando Anton e eu invadimos o prédio em Marselha. Não levamos mais do que trinta minutos lá dentro e, quando saímos, já tinha uma comitiva de boas-vindas nos aguardando do lado de fora. É como se houvesse câmeras de vigilância em todos os lugares e alguém nos observasse vinte e quatro horas por dia.

Ele fez uma careta como quem dissesse "está aí uma coisa terrível de se pensar!".

— Apesar de toda a segurança em torno do lugar, não parecia que Thænael estava muito preocupado em proteger o laboratório onde encontramos o inibidor neural. Se fosse o caso, acho que ele teria removido a substância daquele lugar e guardado em algum ponto mais seguro... o esconderijo dele, por exemplo.

— Talvez ele ache que esse supressor não represente uma ameaça para ele ou para os outros. Para ser bem honesta, à essa altura dos fatos, nem eu sei se a substância vai surtir algum efeito no crápula. O meu plano é uma grande loteria.

Senti a sua mão esfregando o meu bíceps esquerdo, como quem me dava apoio moral.

— O seu plano é ótimo. Vai funcionar. Não se preocupe.

Ele abriu um sorriso, logo em seguida, se levantou para alcançar o bagageiro acima das nossas cabeças. Mexeu por alguns segundos entre as nossas malas e tornou a se sentar, desta vez, segurando uma maleta de pouco mais de oitenta centímetros de comprimento. A passou para o meu colo e tamborilou os dedos sobre a superfície rígida.

— Eu devia ter lhe dado antes de sairmos do hotel em Praga, mas tudo aconteceu tão rápido que eu acabei esquecendo.

Parei um tempo para observá-lo antes de destravar o fecho e abrir a maleta com certo cuidado. Antes que desembrulhasse o papel de seda que a cobria, eu reconheci na hora o cheiro do cabo de teixo com a escultura de cabeça de leão, bem como o gume de prata na lâmina africana.

— A Presa-de-Leão. Por que está me dando a sua takoba? Ela não é minha... não posso aceitar.

Ele fez um sinal de recusa.

— Enquanto eu estive fora — e ele tornou-se sombrio ao se lembrar da sua morte. —, eu soube que você fez um bom uso dessa arma. Ela representa a cultura e a sabedoria do lugar onde eu deixei de ser o Akanael para me tornar o Akanni. Mas agora que habito este corpo, empunhar uma takoba africana não faz mais sentido. Eu quero que fique com ela e a utilize em suas próximas batalhas. Sinto que vai precisar mais do que eu.

Corri os olhos pela espada média e acariciei a escultura de madeira de seu cabo.

— Por onde ela esteve todo esse tempo? Onde a encontrou?

— Depois que você a usou para convencer os Grealish da presença de anjos na Terra e para usá-la como prova de que os lobisomens que matou em Bruxelas eram inimigos, Gretta acabou guardando a takoba junto às demais armas do condado, e lá ficou. Logo depois, pelo que eu soube, vocês foram atraídos até Montbéliard e você preferiu usar na batalha as suas pistolas italianas e a minha kpinga em vez da espada. Quando o assentamento dos Grealish se tornou perigoso devido a traição de Reece, os lobos resolveram se mudar para Glenarm e a takoba acabou sendo levada junto.

Alina e a Chave do InfinitoWhere stories live. Discover now