Capítulo 31 - Impase

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OS MAIS DE TRÊS MIL quilômetros que separavam o Vilarejo de Ballygally do Santuário de Belintash foram vencidos em segundos quando Caihong Chen reapareceu no território irlandês para nos levar à Bulgária. Tendo transportado muito mais passageiros do que estava acostumada e consumindo uma quantidade energética acima da média para alguém da sua idade, a chinesa caiu estafada em nosso destino, tão logo nos deixou em segurança próximo à entrada do Portal do Infinito.

Eu ainda estava bastante debilitada devido à luta contra os lobos em Ballygally, mas fiz um esforço extra para levar em meus braços o corpo do garoto Scott. Ao meu lado, também ferida e com um aspecto de quem havia sido atropelada por um caminhão tanque na beira da estrada, Olympia Grealish trazia a própria irmã no colo, desacordada, porém, viva.

Um falcão-peregrino veio voando em nossa direção quando nos avistou saindo do clarão de luz produzido por Chen em nossa chegada. As asas do pássaro de penas marrons logo duplicaram de tamanho dando lugar a braços humanos, e o bico da ave se tornou o nariz e a boca de uma pessoa que nos cumprimentou tão logo se metamorfoseou à nossa frente. Kai era a pooka deixada de vigia próxima ao portal, e seguia ordens diretas do senhor de seu povoado, Aodh.

— Peça para que Aodh abra a passagem, Kai. Essas mulheres precisam de tratamento druida imediatamente — ordenou Chen, quase incapaz de se manter consciente depois de todo o esforço de nos transportar até lá.

Kai era uma garota de dezenove anos cujos cabelos castanhos encaracolados formavam um tipo de juba em sua cabeça. Se movia com extrema agilidade dado o seu tamanho diminuto e m cerca de um metro e quarenta. De longe, se assemelhava muito a uma criança em idade pré-escolar.

A passagem nos foi aberta pelo outro lado tão logo o sinal místico enviado por Kai alcançou o seu destino. Os pookas druidas se comunicavam por meio da natureza e a garota havia me explicado, certa vez, que eram os insetos quem transmitiam as mensagens enviadas do plano terreno para o Entremundos, e que o vento ajudava a aumentar a velocidade da difusão.

Eu nunca parei para pensar muito no assunto, mas era algo difícil de compreender e mais ainda de aceitar.

Quando chegamos ao Vilarejo de Belintash, as pessoas estavam agitadas em torno da tenda médica de Aodh. As informações acerca do estado de saúde de Bethany eram ambíguas. Meliodas e Aran nos ajudaram a carregar Brittany para dentro da tenda e lhes foi dada a instrução para que a garota fosse amarrada antes que tentassem curá-la.

— Ela sofreu lavagem cerebral. Assim que acordar, provavelmente, vai tentar matar quem quer que esteja perto dela — falei, com firmeza na voz, o que foi prontamente captado pelo grandão Meliodas.

— Faremos o que for necessário para quebrarmos a sua hipnose, Alina. tranquila — foi a resposta de Aran, que acompanhou o amigo conforme ele carregava a filha de Mason Grealish para o interior da tenda.

Assim que conseguimos respirar um pouco, os demais pookas do vilarejo nos rodearam, interessados em saber de quem era o corpo que eu carregava. Eu havia coberto o seu rosto com o que ainda restava de meu casaco de couro e o pousei no chão tão logo nos aproximamos da tenda médica.

— O que aconteceu, Alina? — perguntou um dos garotos do vilarejo que era neto de Meliodas e de Berta, a pooka da casta rinoceronte.

— Nós fomos emboscadas por lobisomens enquanto nos deslocávamos de Belfast até Glenarm. Eles nos atacaram de maneira impiedosa e nós tivemos que nos defender.

O garoto estava acompanhado de mais quatro de seus amigos, todos adolescentes. Em torno deles, já havia se formado uma multidão ávida por saber mais notícias do mundo externo. Não eram todos os moradores que recebiam permissão para deixar o Entremundos de tempos em tempos.

Alina e a Chave do InfinitoWhere stories live. Discover now