Epílogo

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O céu estava nublado, incerto, como os próprios pensamentos de Megumi Fushiguro. A exatos dois dias atrás o garoto recebera uma carta, na verdade, ela foi deixada no Colégio Metropolitano de Práticas Jujutsu de Tóquio endereçada a ele, sem remetente.

Seu conteúdo era ainda mais estranho, um documento. A escritura de um apartamento em seu nome na região de Minato, local considerado subúrbio de Tóquio. Megumi pensou ser uma brincadeira, até mesmo um erro, por esse motivo pediu ajuda de alguém confiável para checar.

Sua prima, talvez sua única parente direta viva, cumpriu essa função.

— O que mais me impressiona — disse a mulher andando ao seu lado procurando com cautela o endereço —, é que não tem nenhum registro anterior. É como se uma parte da história tivesse desaparecido por completo, foi construído, teve o primeiro dono e você aparece.

— Quem deixou a carta na escola deve ter se certificado que não o encontraríamos — respondeu o garoto andando com as mãos nos bolsos, uma delas segurando entre os dedos a chave do imóvel.

A mais velha respirou fundo — Cheguei a cogitar se tinha alguma relação com o seu pai, mas não tinha nada do lado da família Zenin. Não consegui ir muito a fundo já que os velhos não gostam de pessoas de fora bisbilhotando.

— Não é surpresa, ainda mais que você recusou a entrar no clã — Megumi olhou para uma rua e então parou. — É aqui.

Estreita, com uma iluminação duvidosa mesmo de dia, aquele era o endereço. Havia alguns prédios simples e antigos, ele podia ver algumas manchas na fachada e ferrugem nas escadas que ficavam do lado de fora.

Seu destino era o terceiro apartamento do segundo andar.

— Tem resquícios de energia amaldiçoada — comentou a mais velha olhando para os lados —, mas parece antiga. Acha que pode ser uma armadilha?

— Já considerei essa possibilidade — respondeu tirando a chave do bolso —, só por isso trouxe você.

— E eu pensando ser um momento de família, meu querido primo que praticamente criei desde a infância finalmente me pede um favor, e no fim é só por conta das minhas habilidades.

Megumi sentiu um tapa no ombro, segurando o riso para não delatar seu divertimento. Não iria admitir, mas ver a prima reclamando de sua personalidade como uma criança, apesar de ser anos mais velha, era cômico.

A porta precisou de um empurrão, uma nuvem de poeira se ergueu no processo, ele não sabia dizer exatamente quanto tempo fazia que ninguém entrava ali, mas supôs ser muito tempo, visto que no chão a camada de pó era espessa. Havia alguns poucos móveis, antigos de madeira desbotada e com pelo menos uma idade correspondente a sua.

O apartamento não era grande. Assim que se entrava um cômodo praticamente do tamanho de seu quarto na escola se fazia de sala e cozinha, separados apenas por um balcão. Na sua diagonal uma passagem que levava para mais três portas, uma delas parecendo um banheiro pelo vão entreaberto e ladrilhos claros colados na parede.

Ambos adentraram do local, sua prima abrindo as janelas para que não ficassem também cobertos de pó. Pó esse que parecia ser a única coisa ao redor, não havia mais nada, fotos, ou qualquer indicação de que alguém sequer um dia viveu ali. E mais, alguém que desse o apartamento para ele sem qualquer explicação.

— Não tem nada — comentou o rapaz.

— Tem sim — respondeu à prima olhando para algo que ele não conseguia ver e completou — uma promessa.

Seus passos seguiram decisivos até um dos quartos, ele não entendia muito a habilidade jujutsu da mulher, mas sabia uma coisa. O fio vermelho do destino, para ela, era uma maldição e significavam promessas. Palavras que moldam o fluxo do tempo e atravessam as eras até que se concluam.

Selcouth - ( Toji Fushiguro x Leitora)Onde histórias criam vida. Descubra agora