Ajuda Inesperada

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Meu corpo se levantou num solavanco, gotas de suor escorreram pelo meu pescoço e um grunhido de dor ficou imediatamente travado entre meus dentes.

— Ficaria parada se fosse você.

Toji estava sentado numa cadeira próxima à cama, na pequena mesa ao lado dele vi uma garrafa de bebida junto de pacotes de ataduras rasgados e outros itens de farmácia. Incluindo gazes cobertas de sangue, as mãos do homem também pareciam manchadas de vermelho.

Olhando para meu braço vi o curativo desleixado feito na minha mão, sentindo em seguida as dores da queda me assolarem, mas não só isso. Havia um grande círculo vermelho na altura da minha costela, não estava quebrada afinal.

— Deve ter batido em algum galho solto quando caiu — ele se levantou pegando a garrafa e um pote de medicamento amarelo e colocando ao meu lado na cama — O remédio é para infecção e a bebida ajuda deixar tudo mais fácil.

— O que, você fez? — perguntei com a voz falhada e estranhamente áspera aceitando os dois itens.

A garrafa já estava aberta então facilitou, o líquido amargo desceu minha garganta rasgando e gosto forte de álcool. A careta veio automaticamente após engolir aquela bebida barata.

— Te costurei — Toji se sentou do outro lado da cama me encarando pelo canto de olho — Esteve delirando por algumas horas, faz pouco tempo que parou.

Foquei o olhar no líquido e em seguida virei para a janela, o céu estava escuro e pelo vidro embaçado havia apenas a luz amarelada de um poste enferrujado — Que horas são?

— Tarde — sem cerimônia ele se deitou, cruzando os braços atrás da cabeça. A resposta curta foi o suficiente para eu entender que a intensão do homem era pernoitar naquele quarto de motel sujo.

O pensamento não me agradou, mas Kiran por algum motivo estava afastava não conseguiria usar seus poderes. Fiz menção de me levantar e devagar coloquei os pés no chão me forçando para cima.

— Parece ter prazer em ignorar as coisas que eu falo.

Respirei fundo — Ainda estou coberta de terra e com sangue seco, não pode me culpar por querer pelo menos lavar o rosto — rebati me apoiando como conseguia até chegar ao cubículo. O cheiro era nauseante, o fedor de anos estava mascarado com um forte de produto de limpeza fazendo uma mistura muito desagradável.

Não havia um chuveiro. Pelo menos tinha um pedaço de trapo limpo, ou quase isso, com qual eu poderia me limpar. Abri a torneira da pia e mesmo girando até o final não tinha mais do que um filete de água saindo.

Puxei a barra da camisa tirando ela com um pouco de dificuldade, e quando finalmente consegui, usei o projeto de toalha para começar a me limpar. Em pouco tempo o pano estava completamente imundo, minhas calças também estavam rasgadas e quando as tirei vi os arranhões nas minhas coxas além da marca escura por onde a maldição segurou o meu calcanhar.

Encarei meu reflexo no espelho machado, tive alguns dias ruins, mas nenhum se comparava com aqueles últimos. Precisava voltar a me agarrar as coisas de verdade.

Sem me importar com Toji andei de volta para o quarto apenas de roupas íntimas, alcançando na minha mochila uma muda de roupa. Uma camisa larga e um calção de treino, vestes grandes para não se agarrar aos meus machucados.

Dei dois longos goles na garrafa, na esperança de que pelo menos me ajudasse a dormir rapidamente. Voltei a me deixar, a cama era bem menor do que estávamos acostumados, então inevitavelmente nossas laterais estavam se tocando, o teto embolorado me trouxe memórias dos meus prévios delírios.

Selcouth - ( Toji Fushiguro x Leitora)Onde histórias criam vida. Descubra agora