Velhas Cantigas

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Quando Kiran me avisou que a unidade Kukuro se afastou finalmente me permiti relaxar um pouco e tomar um longo e merecido banho gelado. Toda e qualquer excitação foi embora junto da água que escorria pela minha pele quente, apoiei as mãos na parede olhando para baixo enquanto o líquido congelante batia em minha nuca.

Não tinha uma boa sensação sobre a pequena reunião que Toji fora convocado, e me fez pensar se eles sabiam que a minha cabeça estava no mercado ou ainda pior, se eles foram aqueles que colocaram o anúncio.

Subi os dedos pelo rosto jogando meus cabelos para trás em seguida, precisava começar a me mexer em relação aos meus trabalhos, investigar Minori e a Imperatriz do Fim, além de caçar quem fosse que estava me caçando.

Fechei o chuveiro e sai torcendo o cabelo para me livrar do excesso de água e enrolando a toalha no torso. Espiei para o quarto e Toji não estava ali, no momento considerei ser sorte, não estava mais no clima de lidar com ele, sua língua afiada e cinismo venenoso.

Tani e Yuina serviram o café da manhã depois que eu me sentei, era tudo tão tradicional que chegava até a me dar nos nervos. Não tinha nada de errado em mesas altas com cadeiras, mas esse orgulho de gerações me parecia ser o tipo de coisa idiota que os Zenins valorizavam.

Hatsu estava sentada no canto olhando para um lugar fixo, quieta, com as mãos cruzadas sobre o colo. O brilho divertido que ela tinha parecia ter dado lugar a preocupação.

-O que você está olhando?

-Estou esperando Mestre Toji voltar - comentou, sem sequer mexer a cabeça.

-Ele disse para não o esperar - respondi colocando o par de hashis no apoio.

-É minha função cuidar dessa casa e dos meus senhores, vou fazer isso até que a morte venha me buscar. - a mais velha comentou com um orgulho estranho - E se eu fosse você minha senhora me preocuparia com o assunto desta reunião.

Me fingi de desentendida - Porque diz isso?

-Porque deve ter a ver com o yokai que fica rondando a casa.

Parei de me mexer por um instante sentindo meus músculos se contraírem como resposta. Hatsu me olhou pelo canto do olho e suspirou, reparando nas marcas que apareceram no meu braço imediatamente.

-Peço seu perdão por anunciar o assunto tão bruscamente - e continuou - Apesar de fraca, nasci com uma habilidade ocular. Vi a raposa andando pela casa vez ou outra, existem barreiras que não deixam esse tipo de manifestação entrar nos terrenos, logo imaginei que tinha a ver com sua técnica.

-Hatsu, ninguém consegue ver Kiran. - quase ralhei - Não tem como a sua habilidade ser simplesmente fraca.

-Sou uma observadora [Nome], os anos permitem que as técnicas amaldiçoadas se lapidem assim como qualquer outro dom. - comentou alisando o pano do kimono sobre os joelhos.

Fiquei em silêncio por alguns segundos, perdendo até a vontade de comer depois da revelação. Se ela conseguia ver o yokai ligado a mim...

-Na madrugada, depois que conversamos. Você não ficou para trás apenas para ver o sol nascer, não é?

Hatsu resmungou algo antes de começar a recitar um canto de melodia fúnebre.

"Será que você pode me ouvir,
fui condenada a um crime que não cometi.
Todas as canções de morte já ouvi,
dançando com as sombras é feliz.

Se seguir minha canção será seu fim,
impuros e perversos todos vem aqui.
Se banham com honras e glórias
vidas entregam a mim.

Amarate, a Imperatriz do Fim."

Sua voz tremia em algumas partes e era tão baixa que parecia estar com medo de que mais alguém escutasse. Um calafrio percorreu o meu corpo e meu coração acelerou, enquanto ela cantava uma brisa fantasma acariciando o meu pescoço como se quisesse que reconhecesse sua presença.

Minhas mãos suavam frio e tudo que minha em minha mente era a criatura cadavérica que se mostrou para mim em sonhos

Passei a mão nos braços tentando me livrar da sensação - O que isso quer dizer? Onde escutou isso Hatsu?

-Minha avó cantava para mim, antes de ser vendida. Era só uma cantiga velha para evitar que os meninos entrassem na floresta à noite e se perdessem.

-E que ocasionalmente - olhei para ver se as garotas mais novas estavam longe - Invocam um shikigami!

-Não seja tola [Nome] - a mais velha riu - O canto em si não tem esse poder, se Amarate quer realmente chegar até você vai precisar de outros meios, acha mesmo que eu ia deixar essa casa sem proteções?

Ela reclamou e eu dispensei o comentário com a mão jogando a cabeça para trás - Outros meios incluem um laço de sangue?

-É um bom palpite.

Com que tipo de merda minha irmã estava mexendo? Não tinha nenhuma prova concreta mas tinha certeza que aquela idiota tinha algo a ver com isso caso contrário não teria vindo até mim, eu conhecia seu jogo sabia que estava colocando pequenas pistas para me induzir a ir atrás dela.

Suspirei alto ao mesmo tempo que Toji passava pela porta com a mesma cara entediada de sempre, embora o fato dele seguir direto para o quarto sem dizer nada ou sequer virar o rosto.

-Ele voltou de bom humor - comentei e Hatsu se levantou aparentemente dando sua tarefa como concluída.

Permaneci na mesa beliscando uma coisa ou outra com os versos da cantiga amaldiçoada repetindo. Só voltei a focar em algo quando Toji se sentou na minha frente com roupas limpas e os cabelos úmidos.

Apoiei o rosto na mão colocando um bolinho qualquer na boca - Então sobre o que falaram?

Os olhos dele permaneceram na comida - Os velhos querem que eu te engravide.

Ele disse a frase com tanta naturalidade que na cozinha pude ouvir pratos caindo e eu mesma engasguei precisando me curvar para frente tossindo o alimento que resolveu tomar o caminho errado num guardanapo. A tosse vinha do fundo do meu pulmão e lágrimas saíam dos meus olhos pelo esforço.

-Nojento - comentou me vendo cuspir no papel, sem se mexer um dedo para me ajudar - Enfim, qualquer porcaria sobre técnica herdada.

Bebi um copo de água que Tani me trouxe agradecendo e ainda tossindo um pouco - Eu espero que no mínimo você tenha dito que não e deixado o corpo deles pra sangrar no chão até morrer.

O sorriso insolente ergueu o canto da sua boca - Vai me machucar se continuar dizendo coisas como essas minha esposa.

Cólera me subiu a espinha e sem me importar tentei o chutar por debaixo da pequena mesa apenas para o ter segurando meu tornozelo. Toji riu.

-Isso não foi muito gentil da sua parte.

-Você vai ver o gentil se não me falar o que respondeu, agora Toji Zenin - puxei minha perna e apoiei a mão na mesa.

O homem coçou a lateral da cabeça passando a mão pelos cabelos em seguida - Hum... Não me lembro, talvez precise de um pouco de incentivo [Nome] Zenin.

A resposta meio no mesmo tom debochado que eu odiava.  - Posso resolver isso, Tani, por favor. 

-Me traga uma faca.










N/A: O capítulo estava super tenso e do nada hahahaha PORRADA!

Obrigada por ler até aqui, finalmente vou conseguir avançar algum tempo já que os ramos do enredo se abriram, aleluia irmãos!

Obrigada por ler até aqui!

Até mais, Xx!

Selcouth - ( Toji Fushiguro x Leitora)Onde histórias criam vida. Descubra agora