Duplo-Acordo

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— [Nome] — Tale me chamou enquanto caminhávamos juntas pelas ruas da cidade — podemos ir aquela loja?

O clima de outubro é mais frio, não tanto quando o de dezembro, porém me forçou a colocar um casaco durante a pequena saída que tivemos.

— Parece ótimo — Perséfone que segurava meu outro braço, disse com um sorriso — você não comprou muitas coisas para o bebê não é?

— Por que vocês parecem estarem mais animadas do que eu? — questionei, confesso que a loja era bem fofa. Tinha uma vitrine colorida, com diversas vestimentas infantis dispostas, além de móveis, brinquedos e outras utilidades.

— Porque é divertido — Tale pegou minha mão me puxando.

Normalmente, não paro para pensar muito na gravidez, ainda é estranho pensar que algo pode nascer de mim considerando toda a história de terror regada a sangue e maldições. Alguém como eu, que não tive as melhores experiências familiares, e nunca soube o que é o amor de uma mãe, posso me tornar alguém boa para ele?

Tive algumas opções quando descobri que estava grávida, talvez decidir ter o bebê foi a decisão mais egoísta que meu coração tinha para tomar. O anseio por ter algo para amar sem a chance de ser traída.

Pessoas realmente mudam, porque menos de um ano atrás eu não teria nenhum um desses sentimentos dentro de mim. Mas após provar o sentimento, apesar dele sumir graças a Toji não muito depois, de alguma forma me tornei sedenta por ele.

— O que está olhando? Parece perdida em pensamentos por um tempo.

A voz sedosa de Perséfone alcançou meus ouvidos, me resgatando de alguns pensamentos.

— Nada em particular — foquei nas roupas na minha frente esticando a mão para pegar uma peça qualquer —, são fofas.

— Cérbero irá ficar feliz se levar esse — ela sorriu apontando para o que tinha em mãos.

A roupa de recém-nascido era de uma cor clara e tinha dois filhotes de cachorros, de cores dispares, desenhados com traços arredondados e bonitos. Tracei o desenho com o indicador, de alguma forma parecia uma boa opção.

— Vamos, vamos, ainda temos muito que olhar.

— Sabe que não precisa fazer isso, não é? — perguntei — Por mais que tenha sentido certa afinidade por mim.

— [Nome] — Perséfone chamou —, você e eu somos iguais. Com situações paralelas, mas muito similares, eu encontrei minha liberdade. Gostaria que você encontrasse também, nem que seja dos pensamentos. Nunca tive uma amiga próxima da minha idade, sempre precisei ficar olhando a vida dos outros se desdobrar enquanto ficava para trás.

— É verdade que nos conhecemos recentemente, mas ouvi tanto de você, por Toji. Que sinto que estamos juntas há anos.

— Acho que crianças devem fazer amizade mais fácil que nós.

— Nenhuma das duas tem muita experiência, então falar é o melhor caminho — ela riu enganchando o braço com o meu —, não me prive da oportunidade de ser uma tia rica. Não cogito ter filhos mesmo, o processo envolve outra parte que eu não estou muito interessada.

Ela piscou para mim, arrancando um riso sincero e leve. A essência de suas palavras não eram tão diferentes das de Hatsu, se permitir viver, não condenar o destino antes de acontecer. Aprender com as mudanças e ver que nem tudo é como pensamos.

Porém, não posso me dar ao luxo de fazer isso agora, não quando o objetivo principal dessa exposição toda é mostrar para Minori e Corvo que estamos alheias a sua exposição. Nichiro e Cérbero estiveram fazendo a sua parte mordendo a isca, e indo até onde os dois de deixaram ser vistos. Enquanto isso, Toji mantinha sua posição de cão de guarda, olhando os arredores.

Selcouth - ( Toji Fushiguro x Leitora)Where stories live. Discover now