Cão de Guarda

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Foi a primeira vez em muito tempo que consegui descansar apropriadamente sem precisar me preocupar de um assassino entrar pela janela e obliterar minha garganta. Isso porque já tinha um na sala junto de seu cão de guarda fazendo a segurança.

Após fazer o acordo com Toji, Taleyah e Cérbero voltaram para a casa pisando em ovos, apenas quando perceberam a trégua e que não iriamos pular um no pescoço do outro foi que relaxaram. Sem esperar por uma permissão o mais velho rumou pelas sacolas e disse que iria cozinhar, já que não era de muita ajuda com lutas. Podia ao menos prover uma boa refeição.

Entre uma conversa ou outra, descobri sobre sua vontade de montar um restaurante e gastar toda a sua fortuna dando comida para os outros. Um jeito nobre de tentar compensar por todas as merdas que já havia feito.

A princípio não consegui entender o porquê de Toji manter alguém como ele ao seu lado, mas de observar como os dois se portavam — sempre irritando um ao outro —, soube que não devia compreender. Eles apenas estavam juntos nessa. Depois comecei a pensar que foi uma sorte Cérbero o acompanhar, caso contrário tudo que teria entre nós era silêncio. Com o homem na casa, ao menos havia um pouco de conversa, ainda que indireta.

Toji não falava comigo a menos que eu falasse com ele em primeiro lugar, parecia ainda cauteloso, e com razão.

Depois das 12 horas que passei deitada, dormindo como uma pedra, acordei sentindo o cheiro de comida. Mas não era qualquer uma, era algo que me lembrava do Japão, das refeições tradicionais e bem preparadas que Hatsu fazia junto das meninas.

Minha boca se encheu, e cada pequeno elemento me fazia querer exclamar pelo gosto conhecido que explodia na língua.

— Por mais que seja satisfatório ver alguém verdadeiramente degustar minha comida, coma devagar [Nome] — Cérbero avisou.

O velho tinha um avental rosa pequeno demais amarrado no corpo e um sorriso contente.

— Cérbero, por que você não foi um cozinheiro desde o começo? É uma vida mais digna do que trabalhar no submundo jujutsu.

Ele respirou fundo e levantou a mão para a cabeça — Eu trabalhava num restaurante antes de me casar, só que quando minha finada esposa engravidou, o dinheiro que ganhava não era o suficiente.

O homem disse se virando para olhar o fogão e limpar a bancada — Não estudei, não tenho nenhuma grande qualificação, conseguir enxergar maldições foi o suficiente para me colocar no ramo. Nunca chegaria perto de ver aquela quantia de dinheiro se continuasse no restaurante.

— As notas que rodam no submundo realmente faz brilhar os olhos — comentei refletindo sobre a minha própria história. Sem saída, mas tentando de toda maneira sobreviver. Se a minha merda de família não tivesse me prendido, talvez eu tivesse me formado na escola e jujutsu.

— Inegavelmente, sim — concordou —, porém, não se deixe levar [Nome]. Eu poderia ter saído, só que a ganância foi maior. E quando percebi já tinha perdido tudo, você ainda tem chances.

— Sonhos são maldições, vontades uma ilusão, depois de tudo que viveu ainda acredita que existe felicidade para pessoas como nós?

O velho abaixou a cabeça e em seguida a levantou com um sorriso — Sim, sempre existe. Só não quer dizer que está onde nós esperamos.

Alegria desconhecida e ainda assim maravilhosa... Voltei a pegar o garfo e atacar o prato, pelo menos dessa vez ele estava certo.

— Já pensou em nomes? — Cérbero perguntou.

Taleyah e Toji não estavam em casa, o me deixava mais confortável de responder perguntas sobre o bebê.

— Não, e se eu escolher um nome e pouco tempo depois conhecer alguém desprezível com o mesmo? Prefiro deixar para quando ele, ou ela, nascer.

Cérbero riu alto — É um pensamento que eu nunca vi, mas parece inteligente.

Por um momento me senti boba, ele já foi pai. Então devia ter alguma experiência vinda de quando sua esposa estava grávida.

— Fugindo de um lugar para o outro, o tempo para pensar em questões triviais como essa foram poucas — tentei me defender. Juntei as mãos em cima da bancada — Logo quando eu descobri, eu tive um sonho. Era um menino.

O homem assentiu positivamente e cruzou os braços — Se eu tivesse que dar uma opinião, diria ser um menino. E como ele era no sonho.

A imagem do garoto com que sonhei meses atrás voltou a minha mente, causando um suspiro profundo e levemente cínico — Mais parecido com o pai do que eu realmente gostaria.

Nossa conversa acabou por ali, porque a dupla improvável voltou da sua pesquisa de campo. Apesar de Mundi não ser mais um empecilho, ainda tinha um abutre na minha cola, Toji queria lidar com o Corvo enquanto ainda estava na Grécia.

— Sobre o que estão falando? — Tale se aproximou de mim me abraçando, por estar um certo tempo exposta ao sol seu toque estava quente. Após receber uma bronca, e eventualmente o perdão, a garota sempre ficava carente de afeto físico.

— Meu restaurante — Cérbero deu um assunto qualquer —, ao contrário do idiota. Vou te receber de graça a qualquer momento [Nome].

Toji se sentou no banco alto ao meu lado — Por quê? Se ela também esmagou seu nariz.

— Me recuso a responder — o mais velho se virou após pegar meu prato limpo e o colocar na pia para lavar.

Me permiti rir, até que era engraçado ver os dois se cutucando. Toji o fazia apenas para ver Cérbero fora do sério, dava para ver em seus olhos que ele se divertia. Seu rosto se virou e nossos olhos se encontraram, o comum seria eu tentar desviar. Porém, não tinha motivos para isso. Sustentei sua encarada com desafio, até que ele mesmo se virasse.

— Algum resultado Tale? — perguntei. Na frente da geladeira ela pegou uma garrafa de água e sorriu.

— É claro que sim, descobrimos onde o Corvo está. Só tem um único problema.

Senti um calafrio percorrer minha coluna, não tinha uma boa sensação sobre o que seguiria.

— Precisamos de uma isca para tirar a ave do ninho — Toji me olhou pelo canto de olho.

— E a isca sou eu aparentemente — rebati levantando a mão para os cabelos e os jogando para trás —, o que preciso fazer?

O homem se levantou e colocou a mão no bolso — Pode começar colocando isso de volta.

Sua mão bateu contra o balcão da cozinha, um som metálico ecoando em seguida. Quando ele recolheu os dedos, um dourado conhecido brilhou. Pensei que nunca a veria novamente, porque foi abandonada junto com Toji no dia do acidente.

Peguei minha aliança de casamento, a inspecionando de perto, ainda parecia nova. Voltei a soltar o anel na bancada, afirmando com seriedade sem deixar uma única ponta solta ou um pingo de satisfação para o meu — infeliz e perante a lei —, marido.

— O plano primeiro.

















N/A: O tanto de trabalho que o Toji vai ter pra ganhar a simpatia dessa mulher de volta não ta escrito ( sem trocadilho intencional hahahaha)!

Coisa que ele devia aprender com o Cérbero.

Ainda um pouco estranha a relação deles, mas no próximo eles já interagem mais.

Obrigada por ler até aqui!

Até mais, Xx!

Selcouth - ( Toji Fushiguro x Leitora)Where stories live. Discover now