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LEBLANC...

"Angelic senta-se ao meu lado, e quando a roda-gigante começa a se mover, ela apoia uma mão em meu joelho e aperta levemente – talvez por medo, ou expectativa. Seu rosto está enfeitado com um leve sorriso e olhos azuis refletindo as luzes da porra da cidade inteira. Simplesmente, e inegavelmente, a coisa mais bonita que eu já vi.

- É tão lindo quanto eu me lembrava – ela comenta.

Coloco minha mão sobre a sua, entrelaçando nossos dedos. E, da forma mais brega possível, gravo este momento na parte mais sólida de mim, como uma gravura em uma pedra. Quero me lembrar do vestido róseo que ela está usando, do cabelo solto, dos lábios avermelhados...

- Obrigada – ela se vira para mim – Obrigada por vir comigo.

- De nada.

Ela avança, e então seus lábios tocam os meus. Este beijo, a priori inocente, me faz sentir como se fosse meu primeiro beijo. É como se toda minha existência, até aqui, simplesmente deixasse de existir. Tudo que existe é ela, os beijos dela, o toque dela, as palavras dela... ela."

Pisco algumas vezes para restaurar a parte sóbria e lúcida do meu cérebro. Meus olhos se voltam para a estrada, depois caem para o velocímetro no painel do carro. Para alguém que sequer consegue controlar a própria mente, estou indo rápido demais.

Me concentro na pista. É fim de tarde e o asfalto está molhado. Eu não posso me dar o luxo que nunca me dei: falhar.

A vida dela, ironicamente, depende de mim.

Me concentro em cada maldita folha caída, em cada gota pingando no para-brisa, em cada carro por qual eu passo na pista. Nada pode passar pelos meus olhos.

Não de novo.

No entanto, há uma parte sádica e cruel de mim que não consegue parar de pensar no pior. Se Valentino realmente fosse esperto, teria matado Angelic na primeira oportunidade. Eu estaria morto no segundo seguinte, porque isso acabaria comigo de todas as formas.

Então, por quê?

Por que manter o suspense?

É tudo parte de um teatro dramático, onde ele pensa que me causará mais dor se prolongar isso?

Inferno!

Olho para o celular no console do carro. A localização indica que eu devo virar à direita em breve. É uma estrada de terra, provavelmente. Há muitos lugares como esse na Itália: fazendas, ranchos e casas do lago afastadas da cidade.

Crimes quase perfeitos acontecem em lugares assim.

Tomo uma profunda respiração e aperto o volante entre minhas mãos. A chuva fica mais forte, e o sensor de chuva é acionado automaticamente.

Tudo, absolutamente tudo, vai me atrapalhar hoje. O clima, o horário, a localização. Eu só podia contar com uma coisa: minha mente, e até isso está fodido nesse momento.

Estou completamente... perdido.

Viro à direita em uma estrada de terra e dirijo por poucos minutos. Ao longe, vejo o telhado de uma casa. Olho para a tela do celular novamente, e percebo que a localização me levará até ela.

Inconscientemente, prendo a respiração. Eu preciso me acalmar e pensar.

A casa do lago sombria emerge das densas margens do lago, envolta em um véu de mistério. Sua estrutura de madeira está coberta por camadas de musgo úmido e sinais do tempo implacável. O telhado inclinado parece pesar sob o peso da chuva incessante, gotejando água em uma triste sinfonia.

ÚLTIMA DANÇAWhere stories live. Discover now