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LEBLANC...

Elliot Donneli é um político comum, tão corrupto e mesquinho quanto qualquer outro. Mas ele montou um bom personagem, tanto que chegou à presidência. Às vezes, ele dá uma gota de água aos pobres e ganha o amor deles. Porque para quem sempre teve nada, qualquer coisa é muito.

O senador Mares não é diferente. As cédulas de dinheiro são tudo que preenchem sua mente. Nos cinco minutos de conversa que tivemos, percebi que ele me venderia seus próprios filhos se eu fizesse uma proposta.

– A taxação de impostos é um absurdo – Mares comenta.

Quando eu verifiquei a vida de Angelic, cheguei ao nome de Vicenzo Mares, seu namorado, ou coisa do tipo. Ele está entrando na política, provavelmente porque seu pai tem um legado. Tive que averiguar a vida do senador, para entender o quebra–cabeça todo. Casado, pai de três filhos, investidor e, a título de curiosidade, pedófilo.

– Eu preciso fazer uma ligação. Com licença – digo. Antes da resposta deles, me afasto.

Caminho até o jardim da mansão Donneli. Confesso, eu havia passado muitos anos em uma ilha. Quando voltei a trabalhar, ainda evitava contato com outras pessoas. Era praticamente um neandertal vivendo à margem da sociedade. De repente, lidar com tantas pessoas me irrita.

Ando ao redor da piscina. A água reflete a lua cheia no céu. Penso em como vou usar os próximos dias para concluir o trabalho. Tenho a vantagem de ter Margot me incluindo em todas as festinhas patéticas deles. Isso me dá a chance de observar o alvo melhor, mais de perto. Posso mentalizar os seguranças, o tipo de vidro das janelas, as pessoas com quem ela interage. Não é um trabalho fácil. Além de puxar o gatilho, preciso definir quem levará a culpa. Quem estará perto dela? Quem terá a arma com o mesmo calibre? Com quem ela terá tido seu último desentendimento? Eu preciso ser deus e escrever um destino para todos ao redor do alvo.

É a primeira vez que me envolvo tanto em um caso. Daniel Campbell, por exemplo, foi um trabalho rápido. No entanto, Angelic exige cuidado da minha parte. Um deslize meu e o mundo inteiro se reuniria para me linchar. Não adianta apenas engatilhar a arma e atirar, eu preciso prever o que aconteceria após isso.

Pela visão periférica, vejo Margot se aproximando. Estranhamente, ela se parece com Angelic. O cabelo loiro, os olhos claros, a altura, o formato do corpo. Mas ela já demonstrou que seria uma péssima mãe.

– Espero que esteja aproveitando a festa – ela comenta.

– Eu estou.

Enfio as mãos nos bolsos da calça quando ela para ao meu lado. Margot olha para onde eu estava olhando antes, a piscina, depois ergue o olhar para mim.

– Quanto tempo mais vai levar? – pergunta.

Apesar de não falar sobre meus serviços, principalmente com as pessoas que me pagaram por eles, Margot é uma exceção. Sinto que iremos nos esbarrar algumas vezes, e não quero que uma possível tensão entre nós atrapalhe o que vim fazer.

– O necessário.

– Três semanas – ela me dá um ultimato.

Margot me faria rir se eu não tivesse certeza de que ela está falando sério. Eu havia me esquecido do quão atrevido o ser humano ambicioso pode ser.

– Você já ouviu falar de mim antes? – pergunto, me virando completamente para ela. Margot franze a testa.

– Não.

– Porque todos meus trabalhos são feitos com perfeição, não com pressa. Em todo caso, se você quiser lidar com a bagunça sozinha depois, me avise.

ÚLTIMA DANÇAWhere stories live. Discover now