13

2.1K 216 22
                                    

LEBLANC...

Há tantas merdas no mundo para entreter velhos com problemas. O xadrez, por exemplo, ou o velho jogo de cartas. Mas o ser humano sempre faz as piores escolhas, mesmo tendo dezenas de opções. Este é o caso de Elliot Donneli, que acaba de acender seu terceiro cigarro. Ele não fuma diante da família, então aproveita esses momentos para acabar com o resto de vida que lhe resta. Não é muita.

Estamos jogando sinuca, algo que fiz muito quando estava em Igreja Morta, uma prisão na Suécia. Este jogo exige habilidade intelectual e prática. Não adianta ser um gênio atrapalhado, muito menos um atleta estúpido. Elliot não é ruim, mas ele está mais interessado em me agradar e conseguir o financiamento de sua candidatura do que em jogar, de fato.

- O comitê político fará um brinde em comemoração ao meu aniversário. Será uma data importante.

- Eu imagino – dou uma tacada em uma das bolas pares, que são as minhas, e encaçapo a número 6. Faço mais uma jogada, mas erro de propósito. Elliot não joga à seis partidas.

- Podemos fazer a primeira propaganda. Deixar os outros saberem que não estou fraco.

- Vá com calma. Eles pensam que você é um velho falido e doente, não vão tentar te derrubar se pensarem que já está no chão – aconselho, e sequer sei por que estou fazendo isso. Não me importo com sua candidatura, apenas com os milhões que tenho a receber com o fim deste trabalho.

- Você está certo – ele faz uma péssima tacada.

Me movo para o outro lado da mesa de sinuca, me posiciono e jogo. Encaçapo duas bolas de uma vez. Vou para o outro lado. Embora este jogo esteja mais me entediando do que qualquer outra coisa, nunca perco. Nem mesmo quando quero.

- Mas o dinheiro não será problema por muito mais tempo. Meu advogado tem informações.

- Informações? – e pela primeira vez no dia, ele tem minha atenção.

- Ele me procurou assim que a mãe de Angelic faleceu. Disse que ela tinha posses valiosas. Eu não dei ouvidos, estava sofrendo o luto – ele caminha para mais perto de mim, soprando a fumaça de seu cigarro – Mas agora voltamos a este assunto. Parece que Angelic tem uma herança milionária.

Então ele sabe, mas está contanto com o fato de que ninguém mais sabe. Este é seu erro; não prever variáveis.

- É mesmo? – ergo as sobrancelhas em surpresa.

- Sim. E, se Deus quiser, eu colocarei as mãos nisso antes que Angelic saiba.

Me faço perder mais uma tacada, para que ele possa jogar mais uma vez. Elliot esfrega giz na ponta do taco e joga, acertando a primeira bola do jogo. Ele se move para o outro lado da mesa, bate a ponta do cigarro no cinzeiro e joga, desta vez errando.

- Talvez ela já saiba – pontuo.

- Não. Ela já teria feito algo. Angelic não é apegada ao dinheiro. Ela sempre teve muito disso e nunca soube guardar – ele traga o cigarro – Neste ponto, ela e Margot são iguais.

- E o que pretende fazer com a herança?

- Eu não sei ainda, mas preciso que ela esteja em minhas mãos antes das eleições. Depois disso, todo futuro da família Donneli já pode estar perdido.

Algo que Elliot ainda não sabe é que, independente de seus esforços, sua família já se perdeu. Um homem com pé na morte, uma mulher que planeja a morte do marido e enteada e uma Angelic completamente alheia ao mundo real. Às vezes, olhando para ela, sinto que deveria colocá-la em um recipiente e conservar, para que nunca veja o quão amarga a realidade é.

ÚLTIMA DANÇAHikayelerin yaşadığı yer. Şimdi keşfedin