36

2K 206 38
                                    

LEBLANC...

Existem homens inteligentes. Aqueles que constroem aviões, que fazem um pedaço de lata se locomover e chamam de carro. Homens que fazem o mundo prosperar, porque estão sempre tirando algo de suas mentes e colocando na terra.

Por outro lado, existem homens de músculos. Eles raramente usam o cérebro mais do que os braços. São os executores. O inteligente pode até construir o avião, mas quem irá pilotar?

Mas, ainda assim, existe uma terceira categoria, e eu me atrevo a dizer que é a melhor dentre todas. Homens inteligentes e executores. Aqueles que não usam o cérebro para fazer algo, mas pagam alguém para que o faça. São os famigerados chefes, aqueles que pagam o salário dos inteligentes e executores, e não precisam sequer levantar da cama.

É interessante, porque exatamente agora estou vendo dois homens trabalhando. Um deles é um piloto de avião; o homem executor. O outro é um assessor; o homem inteligente. Eles estão discutindo sobre o abastecimento do avião no último mês, e cada um deles têm um ponto de vista. A questão é que, independente da discussão, ambos estão na minha folha de pagamentos.

Eu não preciso dizer que o consumo de combustível no último mês foi muito alto, meu assessor faz isso.

- É inadmissível, Plake. Nem que você voasse todos os dias para a China esse consumo seria explicável! – Daniel diz.

- O avião está com alto consumo desde o último ano. Economizar na manutenção nunca é realmente uma economia – Plake se defende.

Eles não se odeiam, pelo contrário. São amigos que bebem cerveja juntos aos domingos. Mas eles querem que eu veja a eficiência de cada um, então entraram nessa briguinha de alto consumo contra falta de manutenção.

- Você deveria... – Daniel começa, porém eu o interrompo.

- Está bem, meninas. A conversa acabou. Mande o avião para a revisão, Plake – digo, apontando para o homem de cinquenta anos diante de mim – E você, Daniel – olho para meu assessor – Acompanhe o consumo após a manutenção.

Voilá! Problema resolvido.

Os homens se entreolham, como crianças que acabaram de receber uma bronca, depois acenam em concordância.

- Perfeitamente. Com licença - Plake é o primeiro a sair da sala, como o bom e sábio homem que é. Daniel não demora a seguir o exemplo.

E sozinho, finalmente, desabo na cadeira atrás de mim. Estico as pernas sobre a mesa, cheia de papéis que provavelmente são importantes. Mas, novamente, homens inteligentes precisam se importar com papelada, não o chefe deles.

O ambiente ao meu redor não é muito organizado, mas é limpo. A sala de um contador comum, cheia de caixas de papel com cheiro de poeira. Para qualquer pessoa que entrar aqui, parece um escritório de contabilidade pouco movimentado, com alguns funcionários muito ocupados. E, honestamente, para a lavagem de dinheiro, serve bem.

Ouço batidas na porta e, logo em seguida, David entra. O cara da lavagem de dinheiro; alguma coisa entre o chefe e o homem inteligente.

- Está com muito tempo livre?

- Todo tempo do mundo para você – respondo.

David é a razão pela qual as mulheres devem se manter distantes de homens gentis demais. Ele tem seu escritório, o cabelo bem arrumado, terno alinhado, dirige um bom carro e, a título de curiosidade, é mais corrupto do que um rato.

- Por que você está na América tão cedo? – ele pergunta, caminhando em direção à mesa.

David é meu contador. E, embora eu não seja o homem mais politicamente correto do mundo, gosto de declarar o imposto de renda das minhas empresas anualmente.

ÚLTIMA DANÇAUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum