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LEBLANC...

Eu cresci no Bronx, perto de todas essas pessoas consideradas repugnantes. Sujas mesmo. Uma delas é Lenon, um senhor mais perto da morte do que da vida. De uma forma pouco comum, simpatizo mais com ele do que com qualquer outra pessoa mais jovem.

- Dez movimentos e você ganha de mim - Diz Lenon.

Eu olho para o tabuleiro entre nós, calculando os movimentos que preciso fazer pelo xeque-mate enquanto tento antecipar seus movimentos.

Sim, eu vejo isso. Mas o quão divertido seria isso? Eu pego meu peão na E2.

- Não - ele repreende.

E ele me dá o mesmo olhar que vejo desde criança, quando aprontava pelo bairro. Mas não posso resistir. Incapaz de segurar meu sorriso, eu o ignoro e mudo para E4. Ele solta um suspiro e balança a cabeça, exasperado com a falta de controle e estratégia que ele falhou em me ensinar todas aquelas longas tardes.

Eu gosto de ser meticuloso e certo quando faço algo, mas, as vezes, isso me deixa previsível. E mais perigosa do que o impulso é a previsão.

A música alta reverbera do lado de fora da oficina. Posso ver tudo, mas me recuso a participar. Quando as corridas eram sobre carros, eu gostava disso. Mas agora há rapazes ricos lá fora, implorando por uma oportunidade de se afundar no mundo sombrio e, quando perceber que isto é uma merda, voltar para suas mansões.

Garotas de programa, pobres demais para comprar até mesmo um pedaço de carne, se misturam com qualquer outra pessoa na faixa de vinte e poucos anos capaz de pagar por uma garrafa de vodca ou champanhe de trezentos dólares, só para poder sentar em uma maldita mesa.

Talvez, se tivesse sido uma pessoa normal em algum momento da vida, eu gostasse disso, mas agora estou com Lenon, jogando seu velho e empoeirado jogo, porque ele dedicou a vida a cuidar de crianças pobres, de modo que não restasse nada em sua velhice, apenas o jogo.

Oitenta e nove anos, cavanhaque grisalho e os mesmos ternos pretos que ele sempre usava. Ele é uma das poucas pessoas que eu tenho, pelo menos, alguma consideração. Eu faria negócios com ele. Eu confiaria em qualquer coisa que ele tivesse a dizer. Eu iria ao funeral dele. Não há muitas pessoas pelas quais eu passaria por todo este trabalho. Mas nós não somos amigos, e nunca discutimos algo pessoal. Ele me ensina as coisas, mas ele nunca complica tentando ser meu pai.

Enquanto o Sr. Lenon contempla seu próximo movimento, viro minha cabeça na direção da rua. Algo me chama atenção, e não são os carros ou mulheres semi-nuas. São fios de cabelo claro e pele mais clara ainda.

Olho para o tabuleiro, dizendo para mim mesmo que estou estudando o jogo. Acabo fazendo uma jogada qualquer, e então meus olhos se voltam para ela. Ela. Angelic está lá fora, e posso dizer isso porque passei muito tempo olhando suas fotos, estudando seus traços. Eu a conheço.

Ela está vestindo um pijama, encolhida perto de um carro como se pudesse se fundir a ele. Angelic tenta não chamar a atenção de todas aquelas pessoas horripilantes lá fora, tão distantes de sua realidade. Mas, para seu azar, ela não é o tipo de mulher que passa desapercebido.

O que seu namoradinho diria disso?

Angelic olha fixamente para um grupo na carroceria de uma caminhonete. Um casal está se beijando enquanto o grupo ao redor ignora, cada um concentrado em sua própria merda. O cara toca os quadris da mulher leve e hesitantemente enquanto sua boca desliza sobre o ombro dela, provavelmente tentando se segurar.

Angelic desvia o olhar, provavelmente pensando que está invadindo a privacidade deles. Ela olha ao redor como uma coelhinha assustada, e isso, sim, me impressiona. Angelic se esforça tanto para parecer forte que sua fraqueza chama minha atenção.

ÚLTIMA DANÇAWhere stories live. Discover now