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ANGELIC...

- Certo, turma. Nos vemos na próxima semana – o professor Harley diz, encerrando a última aula do dia.

- Graças a Deus – ouço Skyla murmurar ao meu lado.

As pessoas ao redor da sala começam a se levantar depressa, porque esta está longe de ser nossa melhor aula. Não tenho sequer uma caneta, então apenas me levanto e espero Skyla terminar de organizar seus pertences na bolsa. Saímos juntas, e por último, como sempre.

- Você não vai mesmo me contar o que está acontecendo, não é? – ela diz, despretensiosamente, enquanto brinca com a trança em seu cabelo.

Viver a tragédia que foi minha vida nas últimas semanas foi bizarro, e falar sobre isso é ainda mais. Eu amo Skyla com todo meu coração, mas não quero ter que expressar o que sinto.

Na verdade, eu me sinto tão ferida que tudo que quero é me curar. Eu quero me abrigar em mim mesma e ser tudo que implorei para que outras pessoas fossem. Porque, eu sei, alguém devia ter cuidado de mim. Mas não cuidaram. E eu não quero ser forte. Eu quero ser fraca, e quero que saibam que estou fraca, que me deem tempo para ficar forte.

Olho para minha amiga enquanto caminhamos pelo corredor da universidade. Ela não me olha de volta.

- Eu também não gosto de falar – Skyla murmura – Porque eu sei que ninguém pode me ajudar – paramos em frente à porta de saída, porque eu vou para o estacionamento, e ela, para o lado de fora. Seus olhos encontram os meus – Mas se houver algo que eu possa fazer, qualquer coisa no mundo, me diga.

Balanço a cabeça.

De repente, há um nó na minha garganta.

- Me prometa que vai se cuidar – Skyla pede.

- O tempo inteiro – digo, e odeio a forma como isso parece uma despedida – Eu prometo.

Ela aperta minha bochecha, como se eu fosse uma criança, depois empurra as portas duplas e sai. Permaneço de pé, encarando o vidro, reunindo forças para caminhar para o outro lado.

Olho para a rua através da porta, encarando os carros na via. Um arrepio me percorre ao recordar o incidente no trânsito. Em um momento, um motorista idiota havia me cercado. No momento seguinte, três armas estavam apontadas para o carro que eu dirigia. Eu girei o volante com tanta força, na tentativa estúpida de manobrar, que machuquei o pulso.

Depois eu estava no hospital, tremendo de medo. Já se passaram dois dias, e eu retirei a gaze, inclusive. Mas a sensação de que não estou segura continua me perseguindo.

Eu pensei que nunca mais dirigiria um carro. Isso significaria que eu não voltaria para a faculdade tão cedo. No entanto, LeBlanc se ofereceu para me trazer e buscar. Todos os dias. Eu não sei até que ponto ele está sentindo que realmente tem alguma responsabilidade sobre mim, mas, confesso, não deixo de apreciar sua gentileza.

Seguro o terço que sempre tenho em meu pescoço entre os dedos, para me lembrar de que Deus não vai me abandonar. Pelo menos, eu prefiro acreditar que não. Me viro para caminhar na direção oposta, rumo ao estacionamento, onde a Bugatti de Aaron está me esperando. Mas, neste momento, acabo esbarrando em um corpo maior do que o meu.

- Cuidado, Ange – a pessoa diz, me segurando pelos braços para eu não desabar no chão. Reconheço a voz de Vicenzo – Está com pressa?

Eu me recomponho, agradecendo por não ter que passar pelo vexame de cair no chão.

- Não. A aula terminou mais cedo – respondo.

Olho para Vicenzo. Ele parece mais velho desde que perdeu o pai e, publicamente, assumiu a frente da família Mares. Eles funcionam como uma dinastia, onde alguém precisa estar no controle, e os outros servem como enfeites de poder e glória.

ÚLTIMA DANÇAWhere stories live. Discover now