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ANGELIC...

Quando descemos do helicóptero, as portas de entrada da casa já estão abertas. LeBlanc me carrega em seus braços, porque eu adormeci em algum momento da viagem. Isso é explicável, já que fizemos um pequeno trajeto de carro, e, depois, simplesmente viajamos até uma ilha. Ele me disse algo sobre ser uma pessoa reservada, mas eu não pude imaginar o quanto.

Ainda sinto metade do meu cérebro dormindo, então sequer retruco por estar sendo levada no colo. Eu estou cansada da noite de hoje. Na verdade, para além de cansada, estou ressentida.

Faço meu melhor para captar os detalhes da casa. Parece ser uma construção antiga, com detalhes que lembram castelos. Isso combina com LeBlanc, já que ele parece ter síndrome de rei.

- Você vive em uma ilha – comento. Minhas palavras soam embriagadas de sono.

- Eu não gosto de vizinhos – ele argumenta, me fazendo sorrir.

- Parece arrogante.

- Parece? – ele olha para mim – Não se engane, eu sou.

Me aconchego em seu peito enquanto ele sobe as escadas. O lugar é tão silencioso que parece estar além do mundo. Parece uma bolha, onde apenas nós dois cabemos. E para alguém que passou a vida inteira sendo alvo dos olhos do mundo inteiro, é bom sentir que estou sozinha.

LeBlanc vira a direita no final da escada. A esquerda, há uma porta de madeira escura.

- O que é aquilo? – pergunto.

- Meu antigo escritório. Está cheio de poeira e bagunça.

- Eu pensei que você não gostasse de bagunça – brinco.

Ele abre a porta do quarto – que eu imagino ser o principal. Não me atento aos detalhes, mas posso ver a sequência de janelas de vidro, e creio que todas tenham visão para o oceano. No início, eu achei que a ideia de morar em uma ilha fosse egocêntrica e introvertida demais. Mas, analisando os detalhes, vejo que parece o paraíso.

Ele me coloca sobre a cama, e o colchão praticamente me abraça quando afundo. Meu corpo relaxa imediatamente.

- Eu gosto de você – e então, ele finalmente responde.

LeBlanc me encara por alguns segundos. E conforme suas palavras me atingem, sinto o coração bombear mais rápido. Talvez seja o cansaço, ou meu ciúme reprimido, mas me sinto bem.

Ele gosta de mim.

- Eu gosto de você também – digo.

LeBlanc sorri, um tanto quanto convencido, e então desaparece, entrando pela porta que eu imagino ser do banheiro. Eu fico sozinha, encarando o teto e tentando acalmar meu coração disparado. Eu já havia me convencido de que nossa relação é puramente carnal. Não devemos satisfação um ao outro, e isso ficou claro esta noite. Somos pessoas solteiras. Mas então, agora, ele decide que gosta de mim.

Ele gosta de mim.

Ouço o chuveiro sendo ligado. Eu me sento na cama, retirando os saltos dos pés. Eu ainda estou montada como uma boneca.

Olho ao redor do quarto. O carpete no chão, o papel de parede, o lustre no teto... parece o quarto de alguém da nobreza. Quase reviro meus olhos ao imaginar que deve haver uma coroa na primeira gaveta da cabeceira. A única coisa inusitada na casa é a falta de decoração para o Natal. Já estamos em Dezembro, afinal.

Eu me levanto, e meus pés automaticamente me guiam para a porta por onde LeBlanc entrou. Primeiro, há um extenso closet. Assim como no apartamento de Nova Iorque, as peças de roupa são perfeitamente organizadas nos cabides. Depois, há o banheiro revestido por mármore preto.

ÚLTIMA DANÇAWhere stories live. Discover now