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LEBLANC...

A cidade de Veneza, na Itália, é conhecida por seus canais. Os turistas amam passear de barco pelo meio da cidade. No entanto, uma curiosidade sobre Veneza é que ela corre risco de afundar, literalmente. Sua maior qualidade será sua perdição. Eu poderia desdenhar da ironia, se não a adorasse.

Sempre que estou em Veneza, faço questão de visitar o Bellagio, uma rede de cassinos que se esparrama como erva daninha pelo mundo. Não que eu tenha algo contra cassinos. São apenas prédios de luxo, onde homens ricos tiram dinheiro de outros homens ricos. Me lembra a igreja católica.

Estaciono a Ferrari em frente ao edifício. Este é o carro que gosto de dirigir na Itália, já que este país é o berço da marca. Embora, eu preciso confessar, prefiro o conforto de um Bentley.

A primeira regra sobre os cassinos é ser uma pessoa comunicativa. Ninguém faz bons jogos se não tiver uma boa conversa fiada. A segunda regra é estar bem acompanhado, e se a filha do presidente dos Estados Unidos não for boa suficiente, eu me atrevo a dizer que nenhuma outra é.

Angelic Donneli está ao meu lado, olhando para o Bellagio através da janela. O tamanho do cassino, a quantidade de pessoas entrando ou estar em um lugar completamente desconhecido não são coisas que a assustam. Angelic passou a vida inteira fingindo adorar isso.

Estendo a mão e abro o porta-luvas, retirando duas máscaras. Hoje estaremos comemorando o aniversário de uma velha conhecida minha, em um elegante baile de máscaras. E eu preciso admitir que uma festa temática em um cassino eleva o nível das apostas.

Estendo a máscara prateada para Angelic. Em dias normais, ela é bonita. Hoje, ela está cometendo um crime contra a ordem social. O cabelo loiro está preso no topo da cabeça, expondo a joia de meio milhão de dólares em seu pescoço. E quando Angelic coloca a máscara em seu delicado rosto, trazendo mistério para os olhos que costumam ser tão puros, sinto que nunca vi algo mais atraente.

Eu poderia estar aqui apenas para exibir meu carro perfeito, ou minha mulher perfeita. No entanto, minha arrogância ainda não fez de mim um completo idiota. Portanto, tenho assuntos sérios para tratar.

Eu visto a máscara preta, no tom exato do meu terno de três peças. Muitas pessoas no salão do Bellagio ainda serão capazes de me reconhecer, mas, contanto que não saibam quem Angelic é, para mim, é suficiente. No demais, farei a pequena bagunça que sempre costumo fazer.

O que acontece em Vegas, fica em Vegas. É o que dizem. Bem, eu estou certo de que estas pessoas não fazem ideia do que acontece na Itália.

Os funcionários do cassino se encarregam de abrir as portas para nós. Eu desço do carro, caminhando até o outro lado para acompanhar Angelic. As luzes atrapalham sua visão, contudo, ela caminha com exímia elegância até a escadaria. Apoio uma mão na base de sua coluna, mantendo-me um passo atrás. Porque se Angelic é bonita ao meu lado, na minha frente ela é extraordinária.

O tecido do vestido vermelho abraça seu corpo em cada curva, até abaixo dos joelhos, com uma fenda em sua perna direita. As alças finas do vestido antecipam o decote moderado, porém chamativo. Como um todo, ela está impossível de ser ignorada.

As portas se abrem para nós assim que nos aproximamos. E, dentro do cassino, quase me sinto em casa. Não por gostar de ambientes cheios de dinheiro sujo e más intenções, mas por saber exatamente como agir. Cada olhar, cada palavra, cada gesto. Tudo tem um significado.

Conforme caminhamos, muitos olhares se voltam para nós. Alguns porque me reconhecem, e digamos que eu não seja a pessoa favorita de muitos por aqui. Na verdade, estou sendo modesto. A maioria esperava que eu estivesse morto.

ÚLTIMA DANÇAOnde histórias criam vida. Descubra agora