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ANGELIC...

Aaron segura meu rosto entre suas mãos. Elas são grandes e macias, e me fazem pensar no quão segura estou ao seu lado. Eu me deleito entre seus dedos como um gatinho recebendo carinho.

Ele beija a ponta do meu nariz, depois a testa, e então parte para as bochechas. A cada toque, me sinto um pouco mais feliz. Um pouco mais completa. Um pouco mais apaixonada. Um pouco mais viva.

- Podemos ficar aqui para sempre? – sussurro.

Ele está sobre mim, entre minhas pernas, e se sustenta em seus antebraços. Aaron cessa os beijos e me encara. Seu rosto tranquilo e relaxado enquanto ainda estamos nus após o sexo é tudo que eu quero ver pelo resto da minha vida.

Seus olhos pincelam meu rosto, e quando nossos olhares se encontram, quase posso ver tristeza em sua expressão. Melancolia. Remorso, talvez.

- Eu faria qualquer coisa para ficar com você para sempre.

E quando eu separo os lábios para lhe responder, não tenho voz. Aos poucos, a imagem de Aaron fica borrada, como grãos de poeira sendo levados pelo vento. Movo minhas mãos, tentando tocá-lo, porém não o sinto. Ele não está aqui.

Ele não está aqui porque é simplesmente um sonho.

Apenas um segundo depois, estou na mais completa escuridão. Sem Aaron, e talvez até sem eu mesma. O calor de dois corpos juntos é apenas uma ilusão distante. Agora estou com frio e sozinha.

Um zumbido contínuo e inconveniente ressoa no meu ouvido esquerdo.

Estou confusa, mas estou consciente. O barulho em meu ouvido é real. Movo os dedos dos pés e mãos, e a realidade me atinge como um trem de carga. Abro os olhos, piscando várias vezes até me acostumar com a dor de cabeça infernal que sinto.

Santo.

Deus.

Tento me mover, porém estou presa. Olho para baixo, percebendo que estou amarrada em uma cadeira. Meus pés amarrados juntos e as mãos presas nas costas da cadeira. E quando meus sentidos melhoram, também percebo a amordaça em minha boca.

Como isso aconteceu?

Em um momento, eu estava descendo do helicóptero. Eu estava no heliporto, pronta para ligar para Skyla e perguntar como diabos eu sairia da Itália. No momento seguinte... eu não sei. Eu acho que me lembro de receber uma pancada na cabeça.

Olho ao meu redor. Parece ser um quarto infantil, a julgar pelo papel de parede com desenhos de barcos. Há uma cama, uma poltrona e uma pequena mesa com lápis de cor e papel branco. Tudo está tão perfeitamente organizado que chega a ser aterrorizante.

Procuro pela luz de alguma janela, na tentativa de ver algo do lado de fora que me ajude a entender onde estou, mas a única luz vem da lâmpada amarelada no teto.

No entanto, o medo explode em mim quando algo no canto do quarto chama minha atenção.

Eu não estou sozinha...

Pela visão periférica, observo que há uma pessoa de costas, virada para a parede. E todos os pelos do meu corpo se arrepiam quando esta pessoa começa a se virar para mim, lentamente. É um homem, e está inteiramente vestido de preto, incluindo botas e casaco.

Botas.

Imediatamente imagino todos os motivos pelos quais ele decidiu usar botas hoje. Talvez para passear pela floresta enquanto procura um lugar para desovar um corpo?

O homem caminha até mim. O som da sola das botas rangendo no chão me deixa apavorada. Minha cabeça, que já doía antes, agora dói duas vezes mais. Mas o que mais me assusta é o rosto tranquilo do homem, como se tivesse acabado de me encontrar na fila do supermercado.

ÚLTIMA DANÇAWhere stories live. Discover now