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ANGELIC...

- Não acredito que Angelic Donneli me convidou para vir ao Bronx - Skyla diz, zombando de mim.

Vindo de alguém que dedicou a vida a se tornar digna do amor do próprio pai, fazendo o possível e impossível para ser impecável, é realmente uma surpresa que ela tenha recebido minha ligação a pedindo para me trazer aqui. Eu viria sozinha, mas estava sem carro, e provavelmente demoraria muito até conseguir roubar um da mansão Donneli. Inclusive, isso me faz pensar no quão rápido preciso adquirir independência.

Estamos do lado de fora da antiga fábrica. Olho através do vidro levemente embaçado pelo frio. A construção não é antiga, mas o fogo comprometeu a beleza e segurança do prédio. As paredes são manchadas de preto, e algumas partes ruíram. Penso na ONG que minha mãe deixou para mim, destinada a reconstruir prédios como esse e abrigar pessoas necessitadas. Minha próxima providência será fazer esta obra no Bronx.

Olho para Skyla, percebendo que não contei muito sobre o motivo de estarmos aqui.

- Naquela noite, eu encontrei Bruce aqui.

- Bruce Campbell? - ela franze a testa.

- Sim. Eu fiquei com tantas dúvidas, e hoje Vicenzo me ligou. Ele praticamente exigiu que eu me afastasse até mesmo de Elliot - dizendo em voz alta, parece ainda pior. Até ontem, Vicenzo era um amigo, e hoje decidiu encorporar seu pai e aderir à ideia de que mulheres são cachorrinhos para homens com poder - Eu vim aqui ontem à noite e descobri que Bruce Campbell não existe. O sobrenome verdadeiro dele é... - continuo.

- LeBlanc - Skyla completa.

Arregalo os olhos e minha boca abre levemente. Ela sabe. Minha cabeça não processa a informação completa. Então ela fingiu que não o conhecia?

- Você sabe.

- Sim, eu sei. Me desculpe por não ter contado, não cabia a mim.

Skyla se vira para frente, encarando nada em particular. Ela cresceu por si só, com uma mãe narcisista e pai ausente. Skyla não sabe se comportar quando precisa conversar sério.

- O que mais você sabe? - pressiono.

- Você sabe que eu gosto de... bem, cheirar alguma coisa - ela sorri sem graça - Eu estava no ensino médio quando conheci um cara. Não é importante, porque ele morreu meses depois - embora essa informação me surpreenda, ela continua - Enfim. Eu conheci ele, me apaixonei pelo mundo dele e acabei conhecendo o Bronx. As pessoas com muito dinheiro e pouco caráter adoram este lugar, porque podem fazer o que quiserem sem punição. Yolanda, a chefe de tudo, disse que eu poderia ficar se pagasse os policiais corruptos que estão na folha de pagamento dela - Skyla toma uma profunda respiração. É claro que ela não planejou me contar isso. Há um mês atrás, eu sequer sabia que um lugar como o Bronx existia. Nada disso faria sentido para mim - Era só dinheiro, e você sabe que meu pai não se importa em me enviar altas quantias, desde que não precise ver meu rosto. Eu aceitei, porque amava vir aqui e agir como se fosse uma bandidinha.

- Eu nunca desconfiei.

- Seu mundo é tão diferente disso tudo, Ange. Eu sequer saberia como explicar o que é um carro modificado. Você é tão... igreja e estudos.

Olho para a fábrica através do vidro outra vez. Tudo isso, de fato, estava fora da minha realidade. Me impressiona que seja parte da vida de Skyla, no entanto, sabendo como sua vida é, não a julgo. Algumas pessoas precisam fugir da realidade para conseguir suportá-la.

- Agora não mais, aparentemente - digo - Você conhece LeBlanc, então?

- Não. Eu o vi aqui uma vez, e ouvi Yolanda dizer seu nome. Foi logo depois de tê-lo visto na sua casa.

ÚLTIMA DANÇAWhere stories live. Discover now