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ANGELIC...

Jogo o copo cheio de café na lixeira mais próxima enquanto caminho pelo corredor da faculdade. Definitivamente, o pior café que já comprei.

É engraçado voltar para minha vida normal e perceber que nada está realmente normal. No verão passado, eu caminhava por este mesmo corredor, mas era uma pessoa diferente. Tudo era diferente, e agora... e agora LeBlanc existe.

Eu não gosto dele, no entanto, gosto da pessoa que sou com ele.

Meu celular vibra, e eu o pesco na bolsa. Quando vejo que é uma ligação de Margot, sinto uma enorme vontade de reusar a chamada. Mas, levando em consideração a doença de Elliot, a fama da família na mídia e o detetive no nosso encalço, decido atender.

- Margot?

- Você leu as notícias esta manhã? - ela ralha, sem ao menos me cumprimentar.

Ouço ruídos ao fundo, e isso me faz lembrar que faltam apenas alguns dias para o aniversário de Elliot. Não seria Margot Donneli se não fizesse uma festa de arromba.

- Ainda não. O que houve? - pergunto.

Saio do prédio da faculdade. Ainda preciso esperar até que Skyla saia de sua aula, pois estou de carona hoje. Sento em um dos banquinhos de concreto em frente ao prédio e observo o movimento da rua.

- Elliot congelou o fundo de investimentos esta manhã. Três empresas no Vale do Silício fecharam, e mais de treze milhões de pessoas foram demitidas. Isso em fodidas duas horas! - Margot grita, e eu preciso afastar o celular do ouvido - As pessoas estão fazendo manifestação em frente à Casa Branca. Bombardearam o carro de Elliot com ovos podres e tomate - sua indignação é tão bem expressa que posso imaginá-la bufando - Uma reeleição será impossível agora!

Margot não se importa com meu pai, muito menos com a candidatura dele. Mas ela se importa com sua posição social, e muito! Ou seja, ser a esposa de um político falido está fora de cogitação.

- Nossa... - quase não tenho o que dizer - Temos alguma recomendação?

Agora que nosso advogado foi morto, quem nos dirá o que fazer?

- Sim - ela abaixa o tom de voz - Se tiver algum dinheiro na conta, saque imediatamente. Também vamos vender algumas joias e bolsas para não morrermos de fome nos próximos dias.

Sorrio, apesar de não achar graça.

Então é assim que o fundo do poço parece?

- Agora estamos realmente falidos, não é? - faço uma pergunta retórica.

- Elliot precisaria de muito dinheiro para concertar esta merda - Margot suspira - Ninguém em sã consciência desperdiçaria dinheiro com os Donneli.

Suas palavras me machucam. Sinto dor física ao ouvir Margot falar sobre nossa família como se fosse lixo. Sim, podemos estar na lama agora, mas houveram Donneli's melhores do que eu, melhores do que Elliot e, com certeza, melhores do que ela.

- Venha para casa e separe as joias para eu empenhorar amanhã, antes que a polícia venha e leve tudo que nos resta - Margot continua. Pela primeira vez em muito tempo, noto a derrota em seu tom de voz.

- Está bem.

Após isso, Margot desliga.

Tomo uma profunda respiração e olho para cima, encarando o céu azul da manhã. As coisas seriam diferentes se minha mãe estivesse aqui...

Quando volto a olhar para a rua, percebo a Bugatti estacionada do outro lado. Quase sorrio. No entanto, sei que ele está me observando, então não lhe darei esta satisfação. Me levanto, ajeito o vestido e caminho até o carro.

ÚLTIMA DANÇAOnde histórias criam vida. Descubra agora