22

1.9K 200 18
                                    

ANGELIC...

Uma semana.

Duas semanas.

Três semanas.

Três semanas desde a última vez que eu vi LeBlanc. Zero mensagens. Zero ligações. Zero contato. E não é como se eu esperasse que ele me ligasse no dia seguinte, não sou estúpida. No entanto, também não esperava que ele fosse desaparecer.

Eu não sinto falta dele, nem perto disso. Mas, às vezes, me pego pensando no que o fez sumir logo após o que aconteceu no armazém. Eu não consigo entender, e ele não está aqui para me explicar.

- Angelic? Angelic? - Margot chama.

Olho para ela do outro lado da mesa de café da manhã. Uma de suas sobrancelhas está arqueada, então sei que perdi um monte de discursos.

- Sim - respondo.

- Saiu a primeira matéria sobre as eleições. Leia.

O tablet está aberto em uma página jornalística sobre a mesa. Não há chance de eu ler. Não me interesso pela política de Elliot há algumas semanas. É engraçado, pois, há três meses, tudo que eu fazia era me importar com a imagem da família.

- Claro.

Bebo um gole do meu café, para parecer que minha cabeça está focada no momento. O café está frio, mas bebo de qualquer forma.

- Elliot está acima da média nas pesquisas - Margot pontua, deslizando o dedo pela tela - Devemos isso ao Antony.

Antony Louzada, o advogado da família.

- Por quê?

- Ele vem trabalhando dia e noite por nós. É admirável que não tenha abandonado a família depois da queda nas nossas finanças.

- Ele com certeza vem trabalhando muito - ironizo.

Não é novidade que o único trabalho de Louzada é aquecer a cama de Margot quando Elliot sai. Não é da minha conta, e se Elliot não se importa, eu me importo menos ainda. Pelo menos Margot ainda consegue encontrar alguma diversão no fundo do poço.

Ela arqueia uma sobrancelha para mim, entretanto, não irá perguntar. O assunto não é segredo, mas também não é notícia. Margot está prestes a dizer algo quando ouvimos passos descendo as escadas.

- Bom dia - Elliot saúda. Ambas olhamos para ele. Terno e gravata alinhados, sapato lustroso e pasta de couro - Não terei tempo para o café, infelizmente.

Elliot se aproxima, beija o topo da cabeça de Margot e acena para mim. Aceno em resposta. Eu não me recordo da última vez que ele se dignou a me dar mais do que um aceno.

- Eu vou para a coletiva de imprensa. Me desejem sorte.

- Você não precisa - Margot afirma, olhando fixamente para a tela do tablet. Ela não se importa, mas sabe fingir que sim. Se conseguirmos sair desta crise financeira, será ótimo para ela, assim conseguirá aumentar sua coleção de bolsas. Mas se não conseguirmos, ela simplesmente partirá para a próxima. Uma mulher bonita e inteligente raramente se dá mal na vida.

- Angelic, esteja pronta às sete. Teremos um jantar com o Secretário Geral - Elliot diz.

Quase reviro os olhos. Faltam poucas semanas para as eleições. Isso significa que Elliot está desesperado para ficar à frente de seus concorrentes. Mas levando em consideração nossa situação, principalmente após o sumiço de "Bruce Campbell", esta deveria ser sua última preocupação.

- O senador está no hospital e você está preocupado com sua campanha - digo, em alto e bom som.

Margot sobe o olhar do celular para mim, me repreendendo mentalmente. Claro, tudo que importa somos nós, não o senador. Não olho para Elliot, mas sei que a mesma expressão de desgosto está em seu rosto. Desgosto porque ele considera um desperdício pensar em qualquer coisa, se não sua candidatura.

ÚLTIMA DANÇAOnde histórias criam vida. Descubra agora