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ANGELIC...

Comprada.

Como uma mercadoria.

Comprada. Simples assim.

Encosto a testa no vidro gélido do carro. Minha cabeça dói como nunca antes. Agora, pelo menos, consigo controlar as lágrimas de raiva.

Raiva de LeBlanc e de Elliot por me tratarem como um de seus acordos. Posso até mesmo imaginá-los negociando meu valor na sala de reuniões. Mas, principalmente, raiva de mim mesma. Eu devia ter ouvido minha intuição, na primeira vez que encontrei LeBlanc no salão da Casa Branca. Devia ter me mantido longe. Eu devia ter escutado o detetive Pierce quando me alertou.

O que eu esperava, afinal? Que alguém olhasse para mim e me visse como mais do que uma extensão dos negócios de Elliot? Bobagem!

– Senhorita? – ouço o taxista chamar. Eu o encaro através do espelho retrovisor, percebendo que o carro está parado – Chegamos – ele avisa.

– Certo.

Apalpo as laterais do vestido em busca dos bolsos, então me lembro que ele não tem. Olho para os lados, lentamente percebendo que esqueci até mesmo meus sapatos, quem dirá meus cartões. Volto a encarar o taxista.

– Tudo bem. A senhorita pode pagar em uma próxima corrida – ele diz. Sua expressão leve e cordial me deixa tranquila.

– Obrigada.

Eu gostaria de sorrir, porém sou incapaz. Neste caso, apenas desço do carro, para não ocupar mais de seu tempo.

Eu pedi para que ele me trouxesse até a mansão Parker. Tenho uma leve impressão de que não sou mais bem–vinda na casa de Elliot, então sequer pensei em ir para lá. Cogitei pedir ajuda a Vicenzo, mas estou farta de homens que querem apenas se aproveitar de mim. Minha única opção era Skyla, embora eu tenha certeza de que LeBlanc me encontrará aqui, uma hora ou outra.

Uma parte de mim está apavorada. Eu já o vi atirar em um homem, sem qualquer indício de remorso ou hesitação. E agora LeBlanc me comprou, e só Deus sabe por qual motivo. Eu sinto que nenhum lugar no mundo é seguro suficiente para me manter protegida dele.

Toco a campainha ao lado dos portões de entrada. Skyla costuma ficar sozinha aqui, já que sua mãe vive para viajar e seu pai mal se lembra que tem uma filha.

– Residência dos Parkers. No que posso ajudar? – Azian, o mordomo, atende o interfone.

– Oi. Sou eu, Angelic – digo. Noto minha voz arrastada e cansada.

Este dia pareceu uma eternidade.

– Olá, Srta. Donneli. Eu irei recebê-la.

– Não precisa. Apenas abra o portão de pedestres, por favor.

Eu e Skyla fomos criadas juntas, praticamente. Ela tinha acesso livre à mansão Donneli, assim como eu tenho aqui. Tanto quanto eu, Skyla teve muito pouco de seus pais, e isso fez com que nos apoiássemos uma na outra.

Ouço o clique do portão menor sendo aberto. Passo por ele e entro na propriedade que o pai de Skyla comprou para ela e sua mãe quando descobriu que havia sofrido um golpe da barriga.

A mansão Parker tem um enorme jardim. O centro de tudo é um chafariz com anjo no topo, esguichando água graciosamente. A casa, em si, é grande como um palácio, e para isso precisa de inúmeros funcionários.

Skyla nasceu no meio disso tudo. Para ela, isto é mais do que normal. No entanto, para sua mãe, aproveitar de todo luxo que puder é sinal de que venceu na vida.

ÚLTIMA DANÇAWhere stories live. Discover now