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E como se nada tivesse acontecido, eu estava ali, deitada na minha cama olhando para o abajur do lado, calada.
E como se tudo aquilo vinhecese como um balde de água fria. As dores no corpo, os olhares de furia, os gritos, os barulhos de coisas caindo, o choro. Tudo, tudo aquilo bateu na minha cara com tudo ao acordar. Como ontem a noite, o choro voltou em dobro e a dor em triplo. Apertei o lençol com força sobre a boca para poder gritar, gritar muito.

Eu engasgava com toda aquela dor, todo aquele sofrimento. Tudo. Tudo estava sendo intenso demais, doloroso demais, nojento. O que eu havia feito para tudo aquilo está acontecendo comigo? O que?

Eu não fazia a menor ideia de que horas era, apenas estava ali, me sentindo morta no meio daquela cama fria, calada, escutando o barulho forte da chuva lá fora. Fungava as vezes e soluçava. Não conseguia sair daquela cama, não conseguia sair daquele silêncio matador, doloroso, ladrão, infernal.

Olhei para o teto e deixei gotas escorrerem pela lateral de meus olhos.

Eu:Essa é a minha vida, Deus?....O que eu fiz para merecer todo esse sofrimento? -murmurava em meio às lágrimas- Não fui uma das...pessoas escolhidas pelo senhor?...Me perdoe e... por favor...-fechei os olhos com força não conseguido controlar aquele choroso todo- Me leve...Não há saída para toda essa...dor...Me leve...ME LEVE! -berrei, me debatendo em cima daquela cama.

E como se ele não tivesse ouvido, eu me calei e senti o ódio invadir minhas veias. Ele não tinha ouvido...como sempre.

Eu:Ai...senhor. O que estou pensando? -Rolei na cama tentando tirar aquela dor do meu corpo- O que estou pensando?....você nunca iria querer a minha morte.

E como ele não me mataria e eu não me mataria por um único motivo, passei todo o dia chorando, sofrendo, morrendo naquela cama. Não havia ninguém que pudesse tirar toda aquela dor de meu peito. Não havia. Chorei tanto que quando chegou a noite eu dormi com o rosto molhado e os olhos escorrendo. Só acordei na tarde do dia seguinte.

Me levantei e andei chorando pela dor em meus joelhos e em meu quadril. Me sentei no vaso e encarei as ataduras manchadas de sangue em meus joelhos. Fiquei os olhando por um tempo em silêncio, em um mundo silencioso em minha mente, e os toquei.
Comecei a tirar as ataduras com as mãos trêmulas, o medo de ver como eles estavam fazia minha carne tremer dos pés a cabeça. Quando deixei o pano cair, meus olhos se encheram de lágrimas e, novamente, o choro alto soou pelo banheiro.

Meu choro foi tão alto que não pude escutar o barulho da porta do meu quarto se abrindo, apenas notei que havia alguém ali quando a maçaneta da porta do banheiro começou a se virar lentamente. Sorri, esperando que fosse uma pessoa para tirar a minha vida, aquela dor, mas era muito melhor.

Eu:K-kim...-Murmurei.

Ele estava ali, sim, era ele. O homem que permaneceu do meu lado em meio todo aquele alvoroço. O homem que ficou, a única pessoa que ficou e cuidou de mim.

Estendi os braços em sua direção por impulso, ele se aproximou devagar e me pegou no colo com cuidado. Abracei seu pescoço com desespero e afundei meu rosto na lateral dele. Chorei, e chorei muito, mas aquele choro não era completamente de tristeza, eu sentia que não era.

Ele saiu do meu banheiro mas não parou no quarto, continuou andando até chegar na cozinha. Me permiti checar se era na cozinha mesmo. Me senti horrível ao olhar para a mesa da cozinha e ver os pães dentro da cesta todos mofados, comidos pelas formigas, nojentos. Era um presente e eu acabei estragando ele, o deixando de lado por coisas muito diferentes.

Me apertei mais a seu corpo em um pedido silencioso de desculpas. Senti suas mãos acariciando minhas costas, então relaxei sabendo que ele havia entendido e estava me desculpando.
O barulho das panelas sendo mexidas me deixou confusa, porém, não me dei o trabalho de olhar para saber do que se tratava. Só sentia um de seus braços em minha bunda me impedindo de cair, mas o outro estava sendo usado para alguma coisa na cozinha.

Fim da meia noite •|Kim Taehyung|•Where stories live. Discover now